Colaborações entre gigantes como Apple, Google, Meta e Microsoft com a administração republicana vêm acompanhadas de mudanças nas políticas internas das empresas A crescente proximidade entre as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos e o governo do presidente Donald Trump está gerando um novo movimento de desconfiança e busca por alternativas fora da jurisdição americana. As colaborações entre gigantes como Apple, Google, Meta e Microsoft com a administração republicana vêm acompanhadas de mudanças nas políticas internas das empresas, preocupações com a neutralidade da informação e riscos à privacidade dos usuários. Essa nova fase foi marcada por uma série de eventos: doações milionárias feitas pelas empresas à cerimônia de posse de Trump, mudanças editoriais nos algoritmos e plataformas, e a flexibilização das regras sobre discurso de ódio. Em especial, o caso da Meta chamou atenção ao ter removido checadores de fatos e aplicado medidas de moderação alinhadas aos valores da nova administração, segundo denúncias que ganharam destaque nos Estados Unidos. Empresas passam a moldar políticas públicas Em um contexto onde essas corporações controlam dados sensíveis de bilhões de usuários — como localização, mensagens e histórico de pesquisas —, o impacto de sua colaboração com o poder público torna-se um tema central no debate democrático. A liberdade das empresas para decidir o quanto de informação coletam e quanto tempo a armazenam amplia ainda mais seu poder frente a governos, com implicações para a soberania e segurança de outros países. Essa preocupação cresce ainda mais quando se considera que, apesar de leis como a Quarta Emenda nos EUA oferecerem alguma proteção contra abusos, os mecanismos legais como mandados judiciais, cartas de segurança nacional (NSLs) e ordens da FISA permitem ao governo acesso a dados em diversas circunstâncias. Cabe às empresas definir o quão transparentes e colaborativas serão nesse processo. Preocupações internacionais e fuga digital O impacto global dessa aliança entre Big Tech e governo tem feito autoridades de diversos países reconsiderarem sua dependência de plataformas e serviços americanos. Na Nova Zelândia, distritos avaliam abandonar Facebook e Instagram para proteger a integridade democrática. Na Europa, cresce a percepção de que serviços digitais dos EUA já não são seguros para governos e empresas, especialmente após ações de censura e manipulação de informações atribuídas à administração Trump. Com isso, aumenta o interesse por alternativas hospedadas fora do território americano. Serviços como Proton (Suíça), MagicEarth (Holanda), Vivaldi (Noruega), Qwant (França), Pixelfed (Canadá) e Nextcloud (Alemanha) vêm ganhando usuários que buscam manter sua privacidade longe do alcance das autoridades americanas. Subreddits como r/degoogle, com mais de 250 mil membros, oferecem instruções detalhadas para substituir serviços da Google e outras big techs por equivalentes de outros países. Privacidade como resistência Em um cenário de incerteza sobre o futuro da democracia americana — com projeções indicando um possível rebaixamento do país no índice global de democracia já no próximo ano —, usuários comuns, jornalistas, ativistas e até governos estrangeiros estão reconsiderando seu relacionamento com as plataformas digitais. A busca por 'exílio digital' e por alternativas baseadas fora dos EUA deixa de ser uma precaução paranoica para se tornar uma forma concreta de resistência e proteção. Com o avanço da segunda administração Trump, a fusão entre interesses políticos e poder tecnológico se intensifica, e o debate sobre controle, segurança e liberdade na era digital ganha novos contornos — cada vez mais urgentes.