Normalmente, os conflitos iniciam-se com debates, quando há exposição ou defesa de ideias, ideais e pensamentos, o que se revela positivo, pois essa situação permite a exploração e abertura para diferentes pontos de vista, interesses e valores. Observando os conflitos em grupos profissionais, nota-se que é comum eles serem pecebidos de forma negativa, porém, o que realmente acontece é que são poucos os profissionais habilitados para lidar com eles, e essa dificuldade resulta em comportamentos inadequados, agressividade, confrontos verbais e exteriorização de sentimentos negativos, situações extremamente prejudiciais ao bom relacionamento interpessoal e, que consequentemente, podem afetar o desempenho da organização. A visão negativa de conflitos no trabalho pôde ser comprovada através de uma pesquisa de campo, por meio de aplicação de questionário, realizada pelos alunos do quarto período do curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos das Faculdades SPEI. O questionário foi aplicado em 700 trabalhadores, sendo 57% mulheres, dentre os quais 80% revelaram que os conflitos interferem em sua produtividade. Fatores como metas, remuneração, falta de recursos materiais, volume de trabalho e problemas de relacionamento no ambiente de trabalho são algumas das mais frequentes causas de conflitos. Dentre as opções apresentadas, o fator que mais interfere para o surgimento de conflitos é o volume de trabalho, sendo que 35% dos entrevistados afirmaram que tal fator sempre ou frequentemente causa conflitos, 28% que algumas vezes geram conflitos e 29% afirmam que isso nunca ou quase nunca gera conflitos profissionais. Observou-se ainda que 44% dos profissionais que indicam, que o volume de trabalho sempre gera conflitos, trabalham em empresas prestadoras de serviços administrativos, as quais são conhecidas por suas demandas excessivas de trabalho e quadros de funcionários enxuto demais. Esse fator aliado a outros problemas, constumam resultar em situações de estresse extremo devido a constante disputa por materiais necessários para a execução de atividades diárias. Um exemplo de problema é a falta de recursos materiais indicada na pesquisa por 8% dos respondentes como frequentemente ou sempre causadora de conflitos. A disputa pelo alcance de metas aparece com um baixo indice de indicação, com apenas 8% dos informantes indicam esse fator como frequente ou sempre gerando conflitos, 68% afirmam que nunca ou quase nunca iniciam-se conflitos em decorrência de metas e 28% avaliaram como um fator que às vezes causa conflito. O relacionamento no ambiente de trabalho é um assunto que necessita de maior atenção. Observou-se no resultado da pesquisa que 21% dos profissionais que a responderam apontaram que problemas de relacionamento no trabalho são frequentes ou sempre causam conflitos, lembrando que esse tipo de situação é onerosa para qualquer organização, tendo em vista a possibilidade de prejudicar a produtividade, o trabalho em equipe e a harmonia no ambiente. Dos informantes, 34% optaram por uma posição mediana, afirmando que às vezes problemas de relacionamento geram conflitos e 45% afirmam que essa questão nunca ou quase nunca desencadeia conflitos profissionais. Seja no ambiente de trabalho ou no meio social, os conflitos podem ser iniciados por simples diferenças de opiniões e, quando menos se espera, os envolvidos estão cercados por uma grande “teia de aranhas”. A indiferença ao ponto de vista do outro pode tranformar-se em debate e então iniciam-se comparações, exemplos, generalização, e um perde a credibilidade do outro, vozes se alteram, medem-se experiências profissionais e a resistência só aumenta e ninguém cede. A falta de uma comunicação madura fica evidente e neste momento o assunto inicial já não é mais o foco do conflito. Quando inicia-se um conflito, principalmente no ambiente de trabalho, é difícil não perder a razão, pois o ambiente torna-se um palco, com direito a platéia. Ninguém quer perder, sair derrotado e uma simples discussão, torna-se então um conflito que não prejudica apenas os envolvidos, mas também todos os que estão em volta, influenciando na motivação e na produtividade do grupo. Porém, é importante compreender que nem sempre os conflitos são negativos, eles podem contribuir para o enriquecimento do grupo e transformar este momento em algo positivo, sendo grande desafio, pois no momento de um debate há a possibilidade de se trocar experiências e aprender com elas. Não podemos deixar de citar os líderes, os gestores imediatos e os profissionais de Recursos Humanos, pois faz parte de seus importantes papéis mediar os conflitos. Neste momento, que ninguém escuta ninguém, estes “líderes” devem manter a calma, serem imparciais e principalmente tentarem resgatar o motivo do conflito, o que ocorreu para seu surgimento. Fazer uma avaliação da situação, analisar os pontos de vista dos envolvidos e não escolher o certo ou o errado, mais sim ser coerente e retomar o foco. Um líder tem que ter o objetivo de solucionar problema e por isso tem de estar preparado para mediar certas situações, deve compreender e entender o motivo de seu surgimento e retomar com uma conversa e fazer os seguintes questionamentos: ” O que você quer com isso?”, “Qual é o objetivo deste conflito?”, “Qual foi o motivo do início deste conflito?” e assim por diante. Os conflitos podem surgir devido a cultura da empresa, seus valores, sua posição no mercado. Se a organização tem a postura de ser extremamente competitiva, tem foco em metas, resultados e prazos, o seu grau de estresse consequentemente será mais intenso, o que vai propiciar maiores situações onde os conflitos podem ser cada vez mais frequentes. Funcionários mais individualistas tendem a colocar seus interesses à frente dos interesses coletivos e por isso mais uma vez a importância dos líderes e da área de Recursos Humanos ficarem atentos e não deixarem que os conflitos façam parte do dia-a-dia da organização, tirando o foco do objetivo principal que é a produtividade e os resultados, juntamente com o bem estar dos trabalhadores. Nem sempre a conscientização natural é possível, respeito, cordialidade e caráter são requisitos que cada individuo tem o seu, por isso, a importância de não somente focar em treinamentos técnicos voltados para a atividade da empresa, mais sim também em treinamentos que resgatem a importância de ver o profissional da mesa ao lado como um companheiro de trabalho, resgatar que cada indivíduo tem opiniões diferentes e que pode sim contribuir para o crescimento coletivo. É bom ressaltar que existem dois lados e que os conflitos, como já vimos no início deste artigo, nem sempre são negativos. Uma empresa sem conflitos é uma empresa que deixa de desenvolver alguns requisitos, como negociação, persuasão, troca de experiências e até mesmo seu capital humano. Os conflitos contribuem a favor de novas ideias e com isso com o crescimento individual e organizacional. Quando um grupo está equilibrado, fica mais fácil contornar divergências do dia-a- dia. As metas, remuneração, falta de recursos materiais, volume de trabalho e relacionamento no ambiente de trabalho podem sim ser administrados com mais facilidade, diminuindo os conflitos e passando para uma conversa mais amistosa e produtiva. Este estudo possibilitou observar dois lados do tema conflito. Um deles é o enfoque prejudicial para o ambiente de trabalho, tendo em vista que 80% dos entrevistados disseram que os conflitos interferem sim em sua produtividade e o outro como os conflitos são importantes para o desenvolvimento humano. O que podemos levar deste estudo é que tudo que é em demasia pode prejudicar o ambiente de trabalho, temos que buscar nem a falta e nem o excesso, mais sim o equilíbrio. Sugere-se que os conflitos sejam observados e estudados de forma subjetiva, buscando a melhor forma de media-los para evitar desgastes excessivos e desmotivações. É importante lembrar que os conflitos normalmente abrem oportunidades de desenvolvimento, por isso é necessário que haja uma liderança atenta e apta a aproveitá-los para o aprimoramento contínuo. Esse tema é complexo e possui várias faces, o que denota a imprescindível necessidade de treinar e desenvolver os profissionais, para que estes mantenham uma visão aberta e receptiva para lidar com esse delicado e importante assunto de uma forma justa, assertiva e principalmente produtiva. Autores: Carolina Schmidt, Caroline Possebom, Erika Ribeiro, Marisa Trentini de Castro, Valdirene Cardoso.