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No dia 9 de setembro é comemorado o dia do Administrador como forma de reconhecimento àquele tipo especial de profissional que lidera a mudança do mundo. Os administradores não são melhores nem piores do que os outros profissionais, apenas são diferentes. Mas o que é o administrador? Quem é este profissional diferente?
A diferença reside no fato do Administrador amar problemas. Parece esquisita a resposta, mas é a mais exata que se pode encontrar para dar conta do cotidiano desta profissão. Às pessoas comuns pode, sim, parecer estranho que haja profissionais que busquem aquilo de que mais fogem, de que mais querem distância: ter que enfrentar problemas. Um mundo sem problemas é um mundo nocivo, chato, sem sentido aos administradores. Um problema é tudo aquilo que ameaça ou que apresenta oportunidades para o que os administradores chamam de Organização. Uma organização é todo agrupamento humano que tenha pelo menos um objetivo comum aos seus integrantes.
É este o desafio dos administradores: atingir objetivos trabalhando com e através de pessoas, com seus problemas, objetivos, idiossincrasias, modos de ser pessoais. Não é uma tarefa fácil tratar com pessoas e direcionar esforços para que façam o que precisa que seja feito. Todo mundo, no fundo, precisa saber administrar, mesmo que seja para gerenciar a sua própria vida. Isso não significa que todos tenham que ter um diploma de administrador: a administração é uma filosofia de vida necessária, imperativa, principalmente nos tempos atuais. O que marca esta filosofia é a busca incessante do homem de viver, viver bem, viver melhor. É a busca de futuros cada vez mais promissores a finalidade última de todo ser humano – e por isso a administração é fundamental.
Pergunte-se, por exemplo, a si mesmo como você quer estar daqui a dez anos. Se sua resposta for “não sei” ou algo parecido, você precisa urgentemente de administração. Toda organização precisa dar conta de seu futuro, não importa se seja uma família, uma empresa, um município ou um país. Dar conta do futuro significa saber onde se quer chegar, como se quer estar neste futuro desejado. Se não se sabe onde se quer chegar, dificilmente se concretizará qualquer intento satisfatório de futuro, os recursos serão mal empregados e corre-se o risco de, ao se tentar progredir, retroceder. O exemplo disso? Vejam-se quantos municípios continuam do mesmo jeito que se encontravam há décadas; quantas empresas faliram por não se preocupar com esta regra básica de gestão; quantas famílias fracassaram, deteriorando seus patrimônios; quantos sonhos individuais se transformaram em pesadelos.
O administrador é um realizador de sonhos porque sempre faz o que tem que ser feito de forma funcional, conseqüente. Os gestores se distanciam de explicações complexas que não possam ser compreendidas por todos os que com ele trabalham: a simplicidade e a compreensibilidade são duas de suas habilidades essenciais. Todo administrador também é um pedagogo, como conseqüência dessas habilidades, porque tem que ser capaz de ensinar o que aprendeu, o que inventou, o que aperfeiçoou. Em muitas situações, seu aprendizado, sua invenção, seus aperfeiçoamentos são fontes de graves conflitos, mas sua capacidade política, seu poder de convencimento o transformam em político: sua principal ferramenta de trabalho é a palavra. Os administradores mais talentosos são capazes de encontrar praticidade e utilidade em conhecimentos de ciências aparentemente tão distantes, como a física quântica, a biologia, a nanotecnologia, a medicina, a química, dentre outras.
A busca por solução aos problemas organizacionais invade áreas aparentemente sem sentido, como o budismo, a teoria do caos, as teorias das supercordas (teoria dos universos paralelos), a paraeconomia, os sistemas paralógicos etc. O administrador tenta ser o que jamais conseguirá ser: alguém capaz de interpretar o mundo e agir sobre ele de tal forma que os outros homens se beneficiem de sua ação. A ação é o que marca a natureza de administrar. Administrar é agir. O administrador age porque nunca se conforma com o estado atual das organizações e do mundo. O administrador pensa que as organizações e o mundo estão do jeito que estão porque não foi capaz de encontrar um caminho viável a um futuro mais promissor.
O Administrador é um inconformado. O administrador jamais apresenta problemas para as pessoas, sejam elas seus superiores ou não &#8211; sempre mostra soluções, mesmo que tenha que negociá-las, outra ferramenta de que se utiliza bem. Faça outro teste: se você comumente apresenta mais problemas do que soluções, é administração que lhe falta. A razão é simples: administradores adoram problemas. Estes testes não devem ser interpretados como afronta, mas como uma comprovação diária do que se constata no interior das organizações. Quanto maior a capacidade de alguém em resolver problemas, maior o seu valor para sua organização, para sua família e para o seu reconhecimento social e profissional. Como conseqüência disso, todo problema que acontece ao redor de um administrador, este o toma para si: “Errei!!!”, ele dirá. Só erra quem age, quem experimenta, quem ousa; quem se acomoda é incapaz de errar, mas também jamais acertará.
O ambiente de atuação de um administrador é dinâmico, dado o seu gênio inventivo, inovador, criativo. Isso envolve e contagia aqueles com quem convive. A admiração e o envolvimento são decorrentes deste êxtase criado e que é capaz de revelar a qualquer ser humano sua capacidade inesgotável de fazer coisas, de realizar feitos. Para o administrador, qualquer coisa é possível, inclusive mudar o mundo. O administrador é aquele profissional que se sente atraído em resolver questões que todos julgam impossíveis porque o impossível é apenas algo que ainda não foi realizado, mas que um dia será: é preciso que o impossível seja realizado para deixar de ser impossível. É isso o que atrai os administradores. É difícil realizar o impossível? Mesmo que seja, provavelmente jamais o administrador o dirá na frente de alguém. Se o administrador tenta transformar o impossível em possível e falha, jamais pronunciará a palavra “impossível”. Ele dirá: “Fui mal sucedido!”, porque outro administrador poderá transformá-lo.
Pode parecer que estejamos querendo transformar a figura do Administrador em um semi-deus, mas não o é. Queremos apenas retratar um pouco da mentalidade e da prática gerencial, nada mais. Com toda razão alguém pode dizer que somos loucos, o que não vamos lhe negar a razão, uma vez que muitos loucos de ontem são endeusados hoje justamente por o terem sido. Mas suas loucuras mudaram o mundo. As maiores transformações de que usufruímos hoje são frutos das loucuras de homens que ousaram, que jamais admitiram que o impossível existia no mundo da gestão e nos seus mundos paralelos. O louco que faz belas realizações não é louco, é apenas incompreendido. Se nos perguntassem qual a maior realização de toda a história da humanidade, responderíamos sem pensar duas vezes: a invenção da gestão. Nossos maiores avanços médicos, tecnológicos, políticos, a formulação da origem do universo e dos universos paralelos, a ida à lua, a cura para doenças, enfim, tudo o que se possa imaginar que seja a maior realização humana não seria realizada se não houvesse a gestão que lhe asseguração ser viabilizada.
Mais uma vez, não é necessário ter um diploma de gestão para administrar, mas poucas são as pessoas que aprenderam gestão, mesmo entre os muitos diplomados. Basta ver que a maioria das pessoas é mal sucedida, basta ver que a maioria das pessoas precisa de emprego, exemplo máximo da necessidade de se aprender a administrar. Saber administrar é ser capaz de tomar a vida nas mãos e conduzi-la ao futuro desejado. Não é por acaso que as organizações melhor gerenciadas procuram saber quais foram as grandes realizações dos candidatos aos seus cargos executivos, antes de fechar o contrato. Se as realizações forem consideradas insuficientes, não há contrato. As organizações precisam de realizadores, de administradores e precisam ter a garantia de que estão contratando alguém pelo menos satisfatória.
Naturalmente, nenhuma garantia é mais tácita do que o que candidato fez em seu próprio benefício: se for incapaz de gerenciar a si mesmo, será incapaz de gerenciar uma organização a contento. Mais uma vez: a administração é uma filosofia de vida. O dia que esta filosofia fizer parte da maior parte dos cidadãos de uma cidade, de um Estado, de um País, certamente este será um povo desenvolvido. O que marca a diferença entre povos desenvolvidos ou não é justamente a existência ou não de uma mentalidade gerencial entre seus cidadãos. Dois são os pequenos passos em direção a esta mudança por todos os povos buscada: primeiro, saber onde e como se quer estar em um futuro determinado; segundo, aprender a resolver problemas.

O administrador e a Administração

O administrador é um profissional singular: ama problemas, não desiste em buscar o sucesso mesmo que fracasse inúmeras vezees e sempre assume as consequencias dos seus atos. Este texto tem como objetivo descrever de forma sucinta o mundo maravilhoso do administrador e da administração

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Administradores | Conhecimento para Resultados

Estão chegando as campanhas políticas, aquela época em que os candidatos invadem os lares dos eleitores pela televisão, rádios, jornais, enfim, por todo meio possível. Muitos eleitores, já cansados de ouvir as mesmas coisas, buscam todos os caminhos possíveis para evitar esse confronto. Ou seria uma afronta o tal confronto? De qualquer forma, resolvi apresentar algumas dicas para facilitar a compreensão de possíveis verdades e inverdades que costumam, ambas, equivocar os eleitores. Essas dicas valem para qualquer candidato de qualquer partido. Este texto tem como objetivo auxiliar na formação de uma nova mentalidade de eleitor e cidadão.
Primeira dica: cuidado com as promessas que parecem possíveis. Se um candidato invadir sua casa dizendo que vai gastar um determinado percentual da arrecadação do Estado para fazer isso ou aquilo, desconfie, porque no mínimo está desinformado com a real situação financeira municipal: muitos municípios brasileiros estão quebrados – e o seu pode ser um deles. Fique de olho nisso. Não vote neste candidato porque ele está fora da realidade e, por isso, está tentando lhe enganar.
Segunda dica: cuidado com as promessas deslavadas. Muitos candidatos buscam fazer com que os eleitores acreditem que todos os problemas do município serão resolvidos em meros quatro anos. Nem o mais iluminado de todos os homens seria capaz disso. Por isso, leitor, quando algum candidato se dispuser a fazer o impossível, saiba que é neste que você não deve votar jamais.
Terceira dica: cuidado com os candidatos com cara de chorões. Esses imaginam que devem ser votados porque tentam tocar seu coração, numa forma de apelo à piedade, querem lhe convencer pela emoção. Eles ficam com cara de choro porque sabem que quase ninguém acredita neles – e você não pode ser um dos poucos a ser enganados. Esses candidatos são problemáticos, inseguros, incapazes de agir e são facilmente corruptíveis. É muito provável que, diante da primeira dificuldade no governo, saiam às ruas dizendo que o mundo é perverso, que o povo é ingrato e que não lhe deveriam dar tanta responsabilidade, ou vão vender o seu apoio ao executivo ou outro político por uma propina menor.
Quarta dica: não dê atenção aos candidatos que falam gritando. Esses são um dos tipos mais perversos. Imaginam que são que nem Dom Pedro, que podem ganhar tudo no grito. Como são incapazes de raciocinar e falar civilizadamente, com a intimidação pensam que podem convencer qualquer pessoa. Não esqueça: hoje as atividades políticas são formas de arte em que o diálogo é tudo; o candidato que grita espanta a todos, provoca o distanciamento dos seus colegas de partido e a raiva dos oponentes e só consegue iludir os eleitores mais desprevenidos. E, como são ignorantes, um político um pouco mais inteligente o domina com facilidade e faz dele "gato e sapato".
Quinta dica: dê atenção aos candidatos que nada prometem. Esses, talvez, sejam os candidatos mais sérios que existem. Primeiro, porque as informações disponíveis pelas prefeituras são, na maioria, falsos (e sem dados reais não há promessas possíveis); segundo, porque sabem que as coisas não são como se pretende que sejam, não são como queremos que sejam; e terceiro, se promessa fosse tudo na vida, os santos governariam. É melhor procurar prestar mais atenção a essa espécie de candidato.
Sexta dica: não vote em alguém só porque é jovem ou bonito. Lembre-se de que há muitos jovens por aí que têm idéias mais ultrapassadas do que as de seus bisavós e muitos velhinhos com idéias atualíssimas e futuristas. Da mesma forma que a beleza só dá resultados em passarelas e desfiles de modas, alguns supostos jovens e bonitões talvez não fizessem sucesso nem em creches, porque seus lugares mais adequados seriam os museus. Portanto, cuidado com esse tipo.
Sétima dica: cuidado com os truques de marketing. Os marqueteiros desenvolveram uma série de artimanhas para fazer com que um candidato pareça com aquilo que não são e que jamais serão. Se um candidato aparecer com chavões, forma de olhar esquisita, jeito de falar estranho, dizeres bonitos, cuidado: você está sendo enganado. Porque um candidato sério dispensa essas bobagens que, infelizmente, ganham votos.
Oitava dica: não vote em candidato a vereador que diz que vai construir isso ou aquilo. Os vereadores só existem para TRES atividades: primeira, fazer leis novas e decentes; segunda, procurar as leis velhas e que atrapalham a vida do povo e revoga-las; e teceiro, fiscalizar o que o prefeito e seus secretários fazem. Por isso, não vote em nenhum candidato a vereador que não lhe mostre com exatidão COMO vai fazer essas três coisas.
Nona dica: procure ganhar pelo menos uma vez na vida. Fuja daquela idéia de que você não vai votar em alguém só porque esse candidato não tem chances de ganhar. É justamente isso que os que sempre ganham querem que você faça (e que fazem você se arrepender amargamente depois). Se você ajudou a eleger alguém e essa pessoa lhe decepcionou, não vote mais nela.
Décima dica: você é o responsável por tudo isso que está aí. Não se engane: se você não estivesse ajudado a eleger as pessoas que sempre governaram, talvez as coisas estivessem bem melhores. Por isso, nada de apenas apertar um nomezinho ou numerozinho na urna e deixar que os eleitos façam o que bem entenderem. Fique atento a tudo o que é feito em seu nome para que você não volte a cometer o mesmo erro duas vezes.
Décima primeira dica: você é o responsável por tudo o que virá. Sofrer dói demais. O povo tem sofrido demais, você talvez também tenha sofrido. Se você quer mudar o seu presente, quer ter esperança de que isso aqui não é um inferno, tome uma atitude singular: escolha seu candidato de uma forma tal como se dessa escolha dependesse a vida de todos os seus descendentes. Ajude a construir o mundo no qual seus filhos irão viver.
Evidentemente que essas dicas não são as únicas que merecem sua reflexão, mas são as mais básicas. Não atentar para elas é se comportar do jeito que as pessoas que sempre comandaram querem que você se comporte: como um bobo fácil de enganar. Como muitos dizem, está-se adentrando uma nova etapa no processo democrático brasileiro. Que tal você ajudar a construir esse novo século? Não seria bom que você ajudasse a construir um mundo mais parecido com aquele que você quer? Pense nisso. Comece a mudar a sua cidade mudando a você mesmo em primeiro lugar.

Onze dicas para um novo eleitor

Este texto tem com objetivo mostrar que todo sistema autoritário, seja este o governo de um país, de uma empresa ou de um domicílio, apresenta uma altíssima tendência à corrupção. É muito difícil ser apontado ao longo da história um único exemplo de autoritarismo sem corrupção (se é que existe algum), incluindo a própria experiencia de Esparta. Talvez a causa primordial desse entrelaçamento entre autoritarismo e corrupção seja a arrogância de se tomar como particular, privado, os interesses de toda uma nação, de uma coletividade. Ao se julgar acima e senhor de tudo e de todos, o autoritário, para se manter, precisa se arregimentar de semelhantes lacaios, sob pena de ser deposto.
A democracia, por incrível que pareça, é a forma mais polida e eficaz para que os níveis de corrupção e subordinação dos interesses coletivos aos particulares sejam reduzidos, de forma que quanto maior a institucionalização da democracia menor haverá a possibilidade de um alastramento da corrupção em um país, empresa ou lar. Naturalmente, portanto, que quando falamos de autoritarismo e corrupção estamos falando de seu contrário, a democracia e a participação dos cidadãos na formulação e implementação dos interesses do Estado, que só tem razão de existir enquanto representar com fidelidade os interesses dos cidadãos.
Na maior parte do Brasil, infelizmente, a democracia ainda é uma grande ilusão, apesar de já termos constatado um avanço significativo em direção à sobriedade e maturidade no trato dos negócios públicos. Este avanço se faz concreto quando começamos a desmontar o Estado autoritário que se instalou no país há muito tempo e que ainda teima em perdurar sob diversos disfarces. Assim, quando tomamos conhecimento de corrupções e desmandos, quando constatamos que há investigações sobre suspeita de fraudes ou apropriações da coisa pública, estes fatos em si já representam um desabrochar, um passo firme em direção à efetivação da democracia. Ao invés de nos amaldiçoar, devemos nos vangloriar com esses acontecimentos, porque pior seria se não os percebêssemos e deixássemos que esses cânceres continuassem a minar o futuro de nosso Estado, que é nosso futuro comum. Isso é sinal que estamos no caminho certo.
Evidentemente que alguma coisa deve ser feita para evitar formas mais sutis de corrupção. A grande lição que os países democráticos nos tem dado é justamente a criação de mecanismos que garantam a participação dos cidadãos nos diversos segmentos e órgãos que tomam as grandes decisões. Quanto mais os cidadãos participam deste processo de decisão, menores as chances de usurpação do Estado por minorias, porque maiores serão as vigilâncias e atenções para que tudo seja cristalino e conforme a lei. Como toda corrupção é uma forma de burlar a lei, a vigilância constante de todos seria a maior garantia de que as decisões e suas implementações trariam os resultados buscados e pretendidos pela maioria dos cidadãos.
Os sistemas autoritários também têm a característica de deixar de lado os sábios, porque estes questionam o que sempre tem sido feito e porque também são inconformados com a falta de criatividade na resolução de problemas. Evidentemente que sabedoria nada tem a ver com quantidade de diplomas que alguém possui, mas com a ética, com a conformidade legal de processos e decisões, com a inovação, com o aspecto de satisfação popular que os resultados devem gerar. Como os sistemas autoritários buscam resultados para minorias, deixam de lado aqueles que mais poderiam contribuir para com resultados efetivos e de grandes impactos sociais, numa atitude de arrogância extrema, prova cabal da ignorância enquanto lado oposto da sabedoria. Os sistemas autoritários são um assalto à inteligência, à criatividade, à sabedoria, à ética, à lei, porque se mantêm exclusivamente pela coação, pela coerção, pelo suborno, pela corrupção e muitas vezes com a agressão física ao corpo e à vida dos cidadãos sedentos e famintos de cidadania.
O advento da democracia, que significa o fim do autoritarismo e da corrupção escandalosos, não é uma herança dos deuses ou uma benesse dos ditadores. É uma construção que começa na mudança de atitudes e mentalidades, que prossegue com a ação e o fim da passividade, que se efetiva na participação e na vigilância constantes dos caminhos do Estado, que amadurece com os erros cometidos, mas que não deixa de mirar aquele norte por todos pretendidos, como luz que guia caminhos em noites escuras.
Na realidade, a saída para um novo tempo, a luz que guiará e conduzirá o futuro pretendido não é outra que não seja nossa determinação e ação. A democracia está dentro de nós mesmos. Basta que deixemos que ela desabroche, que nos conduza, que tome conta de nós, de nossos caminhos e de nossos futuros. Que as eleições que chegam permitam que extravasemos todas as nossas sedes de democracia, que nossas atitudes sejam balizadas pela solidariedade e pelo conhecimento, que nossos passos sejam mais firmes, que sejamos mais nós mesmos. Quando isso acontecer, veremos que não precisamos de governos autoritários para que nossas esperanças sejam renovadas. Veremos que a esperança se renova a cada dia, em cada ato, em cada coisa que fazemos de significativo e que tenha impacto positivo na vida de, pelo menos, uma outra pessoa e que possa ser imitado por todos aqueles de boa índole.

Autoritarismo e Corrupção

Muitos se perguntam, com razão, qual é a origem da corrupção, qual sua causa, por que ela existe. A resposta pode chocar, mas o fato é que a ignorância é a força motriz dos atos corruptos. Ainda que os corruptos, ativos e passivos, se considerem espertos, mais inteligentes ou superiores aos demais indivíduos, esse considerar-se é apenas presunção, ilusão, falsa percepção das coisas. A pedidos, resolvi escrever este texto para esclarecer o aspecto óbvio de que toda atitude corrupta é fruto da ignorância quase patológica do agente público corrupto.
A Corrupção está ligada a dois fatos: o uso do poder ou da autoridade, por um lado, e a obtenção de vantagens pessoais, por outro. É por essa razão que a maior parte dos casos de corrupção está relacionada com o setor público, onde fica claro, óbvio, transparente o revestimento legal da autoridade (para ser prefeito é preciso o diploma legal), e também porque essa investidura da autoridade deve ser publicada, tornada pública. Assim identificam-se com facilidade as pessoas que, legalmente, tem o poder, estão de posse da autoridade.
Acontece que todo investimento em cargo público (o exercício da autoridade) tem a sua contraparte, que é justamente a amplitude de suas responsabilidades. Afinal, não há autoridade sem responsabilidade, da mesma forma que não há ato jurídico perfeito sem sujeito capaz. Ora, o que extrapola os limites dessas responsabilidades (ou atribuições do cargo) já prenuncia ou abuso do poder ou extrapolamento da autoridade. Essa também é uma forma de corrupção.
O que marca, contudo, a presença da corrupção é a obtenção de vantagens pessoais a partir do poder/autoridade publicamente investido. Quando um prefeito superfatura os preços de itens de compra de um processo licitatório, não faz isso porque quer o bem da população ou porque está apaixonado pelos belos olhos de quem vai lhe vender os produtos. O mesmo acontece quando, em processos de seleção de pessoas, privilegiam-se membros dos círculos de amizade do agente público, em detrimento dos critérios técnicos que todo e qualquer processo seletivo tem que obedecer.
Note-se, portanto, que em todos os casos está explícito o abuso do poder e da autoridade. Todo caso de corrupção está contaminado com o extrapolar os limites das responsabilidades do agente. Quando alguém exige propina para liberar recursos públicos também incorre em ato de corrupção, ainda que o dinheiro pretendido pelo agente não seja do Estado. O mesmo enquadramento corruptor é dado ao gestor que desvia dinheiro da educação para fazer uma praça apenas para beneficiar a empreiteira, ainda que tal gestor não ganhe um centavo sequer.
Do que foi exposto até aqui, fica óbvio o seguinte: o corrupto abusa do poder/autoridade, se apropria dos bens e/ou recursos do Estado, busca obter vantagens pessoais ou beneficiar terceiros em prejuízo de outrem. Por que isso acontece, se pessoas com inteligência mediana facilmente percebem que é mais negócio, é muito mais proveitoso, vantajoso, agir em conformidade com a Lei do que ilegalmente? Dito de outra forma, o corrupto não sabe que ele terá muito mais vantagens e ganhos se agir dentro da Lei do que fora dela. O corrupto é um indivíduo que sofre de ignorância profunda. Ignorância enquanto sinônimo de falta de conhecimentos, não como exemplo de grosseria ou selvageria.
A ignorância que afeta os corruptos muitas vezes chega a ser patológica, doentia. Vejamos alguns casos caricaturados. Um determinado vereador imaginava que poderia mandar e desmandar em algumas secretarias municipais, nomeando e demitindo funcionários, através da ameaça física. Dizia ele, muitas vezes diretamente, que "não gostava de ver funcionário público servindo de comida a urubus" como quem diz "ou você faz o que eu quero ou te mato". Outro, por ser o presidente da câmara, achou que tinha o direito de levar para a cama a bela funcionária que escolheu para ser sua secretária.
Nestes dois exemplos, o corrupto, porque é incapaz de obter o que deseja pelos meios legais, o que exigiria dele inteligência (que não desenvolveu), habilidades (que jamais conheceu) e padrão de comportamento ético socialmente aceitável (justamente aquele padrão que zomba de quem os pratica), extrapola o seu poder legalmente constituído para conseguir o que quer. Quando falta competência comunicacional, é a ameaça física que aparece em primeiro lugar; quando falta civilidade, é o assédio moral que emerge para primeiro plano. Para ser competente comunicacional e comportamentalmente é preciso desenvolver a inteligência para tal.
Por que o prefeito ou o governador se apropria de dinheiro e bens públicosA Pela mesma razão: ignorância. Se não fossem ignorantes, teriam conhecimentos e habilidades morais tais que, naturalmente, forçariam o desenvolvimento de padrões de comportamento moral e eticamente aceitos. Notem, mais ainda, que muitos prefeitos, governadores e outros políticos tem alto grau de escolaridade, alguns com doutorado. Mas isso não significa necessariamente ter os conhecimentos, habilidades e atitudes de que estamos falando, para tratar com os negócios públicos, do povo. Há inúmeros doutores que não tem a mínima ideia de como lidar com isso, como prova inconteste que ser gestor público exige inteligências diferentes das treinadas pelas academias científicas.
Quando o governador, prefeito ou presidente da república (ou quem quer que seja) se apropria dos recursos públicos imagina (o que denota de imediato ação baseada na ilusão ou presunção de impunidade) que são mais espertos do que todo mundo. Ninguém é mais esperto do que todo mundo. E isso é obvio para mim, para você e para praticamente todo mundo. Menos para o corrupto. Mas quando o corrupto está praticando a corrupção, ele não percebe essa coisa tão óbvia: de que é fácil descobrir seu ato corrupto. É a ignorância disso que fundamenta, consciente ou inconscientemente, sua ação.
Muitos corruptos são tão estupidamente ignorantes que eles não percebem que as pessoas e empresas que lhe estão favorecendo a ação corrupta podem lhe denunciar quando encontrarem outro agente público que lhes ofereça outras vantagens mais promissoras. Ele não percebe que as empresas e pessoas que com elas pratica a corrupção são tão confiáveis quanto ele, gestor público. Mais uma vez ele se entrega às ilusões de um crime sem possibilidades de ser revelado. E toda ilusão no comportamento humano é fruto de falta de referencia atitudinal que lhe permita ação mais nobre que lhe garanta as vantagens pretendidas.
Isso reforça o que sabemos: a corrupção aparece sempre quando o agente não tem outra forma de agir para obter as vantagens pretendidas do que a ação ilegal e/ou imoral. Se o agente conhecesse outras formas de agir que lhe trouxesse pelo menos vantagens parecidas, jamais ele escolheria a forma ilegal. É que a ilegalidade é perigosa, arriscada. Ainda que o corrupto não seja pego pelas autoridades para pagar pelos seus crimes, muitas vezes é pego pelos próprios comparsas, seja em forma de extorsão para continuar encobertando o crime praticado, seja através da coerção ou mesmo ameaça de morte. Em todos os casos, não é negócio, como a realidade detida de inúmeros casos de corrupção tem revelado à ciência, praticar a corrupção.
Inúmeras situações patológicas de corrupção tem sido eliminadas por atitudes óbvias: fazer o óbvio. O óbvio é lidar com os recursos públicos dentro da lei, de maneira transparente, preferencialmente de forma participativa e, cada vez mais, com atitude empreendedora. Um exemplo claro no Pará é o caso do prefeito de Paragominas. O profissionalismo da gestão fez daquele município o que mais se desenvolve na Amazônia, um dos melhores lugares para se viver no Norte do país, um dos municípios mais recomendados para investimentos, um lugar que a cada diz causa mais e mais satisfação para os seus moradores. O que o prefeito e sua equipe ganham com issoA Muito mais do que ganhariam com a corrupção: notoriedade, reconhecimento de competência profissional e cachês muito polpudos para as palestras que ministrarão depois que deixarem o governo, como pagam diversas organizações americanas e européias.
Pessoas inteligentes como essas têm, a cada eleição, tomado as rédeas da administração pública de muitos municípios e estados brasileiros. Dominam as ferramentas gerenciais com precisão. Ainda que muitos não sejam carismáticos, suas posturas e padrões de comportamento são invejados pelos seus concorrentes (já que não tem mais adversários ou inimigos políticos). Mesmo não tirando um centavo dos cofres públicos, quando deixam o governo conseguem um padrão de vida imensamente superior a quando entraram para gerir: suas competências se encarregam de lhes dar os frutos que o sacrifício (ou amor) de gerir com presteza e honradez os negócios públicos não lhes deu em forma de dinheiro.
Como se pode perceber, é a ignorância, o desconhecimento a mãe de todos os atos de corrupção. O remédio para isso, portanto, é a educação. Óbvio assim. Onde os corruptos predominam, é a educação a mais perseguida e destruída. Povo educado, que conhece seus direitos, sabe como agir diante de atos de corrupção e se posiciona contrário ante todo ato de corrupto, dificilmente coloca no poder um sujeito corrupto. Se colocar, da mesma forma que colocou sabe como tirar. Mas, novamente, para que um povo se eduque contra a corrupção, precisa saber como deve funcionar uma gestão não corrupta. E o povo terá uma bela surpresa: todo governo não corrupto tem sempre um lugar para qualquer indivíduo, qualquer cidadão.
Quanto mais o cidadão estiver afastado da gestão pública, maior favorecimento haverá para a implantação, solidificação e continuidade do agente corrupto. Os municípios, estados e países que mais se desenvolvem são os que menos casos de corrupção há. E há menos corrupção porque a maioria da população, de alguma forma, está envolvida na gestão desses municípios, estados e países. Preparar a população para a gestão pública, então, é de uma obviedade tão boba e infantil que não passa pela cabeça da maior parte da população das cidades, estados e países corruptos.
Nas cidades, estados e países onde impera a corrupção, grande parte dos cidadãos de bem pode até achar bobagem ensinar gestão pública para o cidadão. Ele não percebe que está raciocinando como os corruptos que pensa combater. Esses que se riem das iniciativas da educação para derrotar a corrupção (e espalhafatosamente tentam iludir aos outros) ignoram que, se estivessem no lugar dos corruptos que combatem, provavelmente seriam cooptados para ser o corrupto da vez. Todo mundo tem o direito de falar as bobagens que quiser, mas não tem o direito de se ofender com as explicações que contrariem suas falsas explicações. Não compreendem que a educação em gestão pública é a vara de pescar para quem está faminto de cidadania.
Não conheço nenhum povo civilizado, que efetivamente pratica a democracia, que vive em um estado democrático de direito efetivo, que não foi educado para participar da gestão pública. Isso não significa que foram treinados para ser ou estar no governo. Fazer gestão pública e estar no governo são duas coisas muitas vezes completamente diferentes. Mas isso tratarei em outra oportunidade.
Para concluir: para a ciência, não interessa o homem como ele deve ser, mas como ele é. O individuo corrupto, assim como todos nós que vivemos neste planeta Terra, é um ser imperfeito. Como advertiu Cristo há dois mil anos: "quem estiver livre de pecado, que atire a primeira pedra". Os corruptos agem em erro. Mas a razão desses erros é a ignorância, o desconhecimento de uma ação sadia que lhes tragam as vantagens que a corrupção lhes traz. Noutras palavras, falta de educação. Por isso, antes de se condenar quem quer que seja, ainda que este tenha praticado o mais hediondo dos crimes, atentemos para isso: todos nós erramos. Algumas vezes erramos de propósito; outras vezes, sem que queiramos.
Assim, ao invés de julgar e condenar, é mais civilizado e inteligente deixar que a justiça faça o que a ela compete fazer. Isso não quer dizer que devamos nos omitir, mas sim que devemos fazer a nossa parte e não extrapolar os nossos direitos constitucionais, o que nos igualaria aos corruptos. O bom cidadão é aquele que trabalha para o bem da pólis, da cidade, do bem comum. E trabalhar para o bem implica, também, tratar com educação e civilidade até o suposto criminoso mais vil. Não devemos esquecer que, sendo imperfeitos como todos somos, poderemos, algum dia, estar envolvidos (ainda que sem motivos) em situação tão condenável quanto essa a que em tão alto e ensurdecedor som denunciamos.

Inteligência e Corrupção

Do mesmo jeito que um “empurrão invisível” enche o carrinho sem você perceber, ele também pode empurrar decisões importantes para o limbo



Você só queria pilhas.



Saiu com um kit de shampoo, dois pacotes de bolacha, uma caixa de ovos… e ainda pescou um Trident na gôndola do caixa.



Já aconteceu com você?



Pois é. Às vezes o desvio acontece no corredor do mercado. Outras, na sua vida financeira.



Do mesmo jeito que um “empurrão invisível” enche o carrinho sem você perceber, ele também pode empurrar decisões importantes para o limbo.&nbsp;



Tipo aquela ideia de começar a poupar para a aposentadoria, que vive sendo adiada. Não porque você não quer, mas porque o caminho até lá parece feito de senhas, formulários e burocracias.



Se isso soa familiar, saiba: você já foi alvo de um sludge. E nem percebeu.



Mas nem todo empurrão invisível é armadilha. Quando usado do jeito certo, ele pode ser exatamente o que faltava para uma boa decisão sair do papel. É disso que trata o nudge.



Quer ver um exemplo?&nbsp;



Em alguns prédios, a sinalização para a escada é colocada em destaque, com setas e cores chamativas. Um ajuste que aumenta as chances de alguém optar pelos degraus em vez do elevador.



Não há regra ou alarde. Apenas uma pequena alteração no ambiente que influencia o comportamento sem tirar a liberdade de ninguém.



<h2 class="wp-block-heading">Mas afinal, o que são esses “empurrões”?&nbsp;</h2>



Imagine observar o comportamento das pessoas por décadas e perceber que, mesmo diante de escolhas simples, elas frequentemente tomam decisões ruins.



Foi exatamente isso que os economistas Richard Thaler e Cass Sunstein fizeram.&nbsp;



Ao estudar como as pessoas escolhem no mundo real, fora dos modelos perfeitos da economia clássica, encontraram um problema crônico: decisões ruins não nascem da falta de informação, mas da forma como as opções são apresentadas.



A partir disso, propuseram uma mudança sutil, mas eficaz:



Em vez de tentar consertar o ser humano, que tal ajustar o ambiente em que ele interage?&nbsp;



Assim surgiu o conceito de nudge (empurrão), uma mudança discreta no design que dá um empurrãozinho para que você tome uma decisão melhor.



Segundo Thaler e Sunstein, um nudge é qualquer mudança no ambiente que ajuda a influenciar uma decisão de forma previsível, sem restringir sua liberdade de escolha e sem precisar de recompensas ou punições.



A intenção é clara: facilitar o caminho certo e deixar o errado acessível (só que com um pouco mais de atrito).



Mas se o nudge abre portas, o sludge faz o contrário. Ele tranca. Ou pelo menos emperra a maçaneta.



O termo sludge surgiu quando os próprios pesquisadores notaram que os empurrões usados para ajudar também podiam ser usados para atrapalhar.



E pior. Em muitos casos, não por descuido, mas por interesse.



Sludge é quando o ambiente é desenhado para dificultar uma decisão ou atrasar uma ação que deveria ser simples.&nbsp;



O nome (do inglês, lama) faz justiça.&nbsp;



Em vez de empurrar, o sistema puxa para trás. Com atrito, obstáculos, burocracias.&nbsp;



É o cancelamento de serviço de telefonia que exige três ligações, senha, espera longa e uma desculpa cínica de que “este não é o tipo de experiência que prezamos”;&nbsp;



É o aplicativo que oculta a opção mais vantajosa sob cinco camadas de menus;



É o contrato que esconde informações em letras miúdas no rodapé da página, e por aí vai…



A lógica aqui também é previsível: quanto mais cansativo o processo, menor a chance de a pessoa insistir.&nbsp;



Ou quanto mais confuso o caminho, maior a probabilidade de ela desistir. Mesmo que isso signifique perder dinheiro.



O sludge não impede. Só complica. E, muitas vezes, é exatamente esse o objetivo.&nbsp;



E agora, vem a pior parte:



<h2 class="wp-block-heading">É impossível passar ileso!</h2>



Já percebeu como é fácil fazer uma aposta esportiva no celular? Dois cliques e o seu dinheiro está em jogo.&nbsp;



Agora tente investir em uma previdência privada no seu aplicativo do banco. Boa sorte em achar o caminho.



Essas diferenças não são acidente. Fazem parte do design que molda seu comportamento todos os dias. E é exatamente aí que entram os nudges e sludges.



Esses empurrões atuam sobre os <a href="https://evandrocanello.com.br/por-que-e-tao-dificil-deixar-ir-uma-explicacao-racional?">vieses cognitivos</a>, padrões automáticos de pensamento que usamos para tomar decisões rápidas.&nbsp;



Um dos mais comuns é o viés do presente: a tendência de priorizar o agora e deixar o futuro pra depois. É ele que faz você gastar com o que traz prazer imediato (roupas, celular) e adiar o que exige paciência, como guardar dinheiro para a aposentadoria.



Outro bem conhecido é o efeito manada, que nos leva a repetir o comportamento da maioria como se fosse um caminho comprovadamente seguro.&nbsp;



Já a aversão à perda é aquele impulso que faz a dor de perder cinquenta reais parecer maior do que a alegria de ganhar cem.&nbsp;



Na prática, é deixar o dinheiro parado na poupança, mesmo sabendo que há opções melhores, só pra não enfrentar a sensação desconfortável de abrir mão do que já está ali.



Esses vieses funcionam como atalhos mentais. E é exatamente por esses atalhos que os nudges e sludges sabem trafegar muito bem.



O resultado dessas influências é instantâneo e praticamente impossível de ser ignorado.



Duvida? Veja só o exemplo que usei no início do texto: você entra no mercado pra comprar uma coisa e sai com doze. O que aconteceu? Você caiu num sludge camuflado em um ambiente de compras.&nbsp;



E a coisa só piora: seus filhos também são atingidos diretamente.



Ou você nunca se perguntou por que diabos tem gôndolas de doces na fila do caixa que nunca medem mais que um metro e meio?



Isso é sludge agindo, porque o ambiente foi pensado para sabotar a sua atenção.&nbsp;



Você está na fila, distraído, esperando o caixa liberar. De repente, aquele chocolate aparece na altura perfeita do seu campo de visão. Ou melhor, no campo de visão do seu filho, que está ali ao lado, no nível exato da gôndola. O apelo visual é direto, quase impossível de recusar.&nbsp;



E agora, me explica: como negar um doce para uma criança entediada, enquanto ela aguarda impaciente por longos minutos na fila?&nbsp;



Não é à toa que é comum ver criança dando chilique na frente do caixa. E as pobres sequer têm culpa. Tudo ali foi desenhado pra favorecer o impulso e dificultar o controle… cada detalhe.



Mas nem só de obstáculos vive o design de escolhas.&nbsp;



Alguns empurrões jogam a favor, como a inscrição automática em planos de aposentadoria, que aumenta a adesão simplesmente por já vir como padrão.&nbsp;



Ou o adesivo com o desenho de uma mosca colado no vaso sanitário masculino no aeroporto de Amsterdã, que melhorou a pontaria e reduziu a sujeira em 60%.&nbsp;



<figure class="wp-block-image size-large"><img src="https://cms-prd.administradores.dev/app/uploads/2025/09/image-1-1024x686.jpg" alt="" class="wp-image-421607"/></figure>



Perceba que não há instruções ou qualquer publicidade, apenas um detalhe no lugar certo.



<h2 class="wp-block-heading">Mais nudges, menos sludges&nbsp;</h2>



Sabia que você também pode usar isso a seu favor? Aplicar nudges dentro de casa é mais simples do que parece.&nbsp;



Por exemplo, deixar as frutas à vista sobre a mesa em vez de escondidas no fundo da geladeira, ou colocar os alimentos que quer evitar em prateleiras menos acessíveis da despensa.



E outra: quer reduzir o tempo de telas?&nbsp; Então por que você tem três TVs, dois celulares e um tablet dentro de casa?



A mesma lógica funciona com finanças.&nbsp;



Programar a transferência automática para a previdência assim que o salário cai ou ativar a função que sugere aportes quando sobra dinheiro na conta…



Tudo isso facilita a ação, reduz o atrito e torna a boa escolha quase inevitável. A decisão continua sendo sua, só ficou mais fácil de tomar.



E o sludge, o gêmeo do mal?



Sair ileso dele, como eu já disse, é praticamente impossível. Mas sair mais preparado? Totalmente viável.



Se você chegou até aqui, já está com uma boa camada de blindagem, porque entender como esses mecanismos operam no seu cérebro já é um bom começo.&nbsp;



A partir de agora, é bem provável que você nunca mais veja do mesmo jeito o design de um app, uma gôndola no mercado ou um cancelamento de um plano.



Mas dá pra ir além.



Uma das estratégias mais eficazes é criar dificuldades onde o impulso costuma mandar.&nbsp;



Quer comprar algo fora do planejado? Estabeleça um tempo mínimo de espera antes de decidir.&nbsp;



Esse respiro permite que o seu sistema mais racional entre em cena e questione se o gasto realmente faz sentido. Simples? Sim. Mas funciona.



Outra é automatizar as boas escolhas. Se você já decidiu que investir em previdência é importante, agende a transferência assim que sua renda entrar. Jamais pense em fazer isso depois de pagar contas ou gastar mais, senão o sludge vai puxar seu pé durante a noite.



E o mais importante: aprenda a reconhecer os sludges à sua volta. Sempre que algo parece mais difícil do que deveria, vale se perguntar: por quê? Quem ganha com a minha desistência?&nbsp;



Se um cancelamento exige esforço desproporcional, se uma escolha simples parece cercada de obstáculos, desconfie. Provavelmente tem um sludge bem posicionado, fazendo o trabalho sujo.



No fim das contas, Educação Financeira também passa por isso. Não se resume a planilhas ou taxas de retorno.&nbsp;



É sobre enxergar o cenário onde suas decisões acontecem e moldar esse ambiente para que o caminho certo também seja o mais fácil de seguir.

Nudge ou sludge: qual deles mais te afetou hoje?

Esqueça a poupança: aprenda a usar o consórcio para realizar sonhos!

No fim das contas, não é o quanto você ganha que faz diferença, mas pra onde você direciona sua energia e seu dinheiro todos os dias



Você vê um smartphone novo e mais moderno que o seu por R$ 4.800 num anúncio online. O site avisa que dá pra parcelar em até 24 vezes de R$319. Você faz uma conta rápida de cabeça, acha que consegue pagar as prestações e fecha o pedido sem piscar.&nbsp;



Esse tipo de decisão parece prática, mas esconde um erro comum: você não está avaliando a compra inteira, está avaliando só a parcela.&nbsp;



E mais do que isso, está tratando esse gasto como se ele estivesse isolado do restante da sua vida financeira.&nbsp;



Como se o dinheiro do celular morasse em uma gaveta à parte, longe das dívidas, das metas, dos imprevistos.



É exatamente aí que entra a contabilidade mental. Um mecanismo inconsciente que o cérebro usa pra simplificar decisões financeiras. Já ouviu falar?



Na nossa cabeça, esse mecanismo separa os valores por “etiquetas”: isso aqui é pro lazer, isso é pra mercado, isso é investimento.&nbsp;



Só que tem um problema. Ao fazer isso, a gente para de olhar o todo e passa a julgar cada gasto individualmente, como se um não tivesse impacto sobre o outro. Mas tem. E a conta, mais cedo ou mais tarde, chega inteira…&nbsp;



E não sou eu que estou dizendo.



<h2 class="wp-block-heading">Burrice organizada</h2>



Richard Thaler, economista comportamental e ganhador do Nobel de Economia de 2017, passou décadas estudando como as pessoas realmente lidam com dinheiro.



Em 1999, ele publicou o artigo "Mental Accounting Matters", onde definiu a contabilidade mental como "o conjunto de operações cognitivas usadas por indivíduos e famílias para organizar, avaliar e acompanhar atividades financeiras".&nbsp;



Na prática, isso significa que o cérebro cria mecanismos próprios pra dar sentido ao uso do dinheiro.&nbsp;



E um dos mais comuns é a criação de categorias mentais: o valor que veio do salário, o que foi ganho em um bônus, o que é "só pra lazer", o que está "guardado pra emergência".&nbsp;



Quer um exemplo? Você recebe o 13º salário e imediatamente já direciona para os presentes de Natal e festas de fim de ano. Quem nunca? Acontece sempre.



Veja que cada quantia passa a ser tratada de forma diferente, mesmo que, no papel, todo esse dinheiro esteja saindo do mesmo bolso.



E pra piorar, ao separar o dinheiro mentalmente, você tem a falsa sensação de disciplina e controle.&nbsp;



Na prática, é apenas seu cérebro tentando simplificar as decisões e criando distorções que complicam ainda mais sua vida financeira.



Duvida? Então veja como sua mente cria distinções que não existem:&nbsp;



<ul class="wp-block-list">
<li>ela trata o dinheiro do salário como sagrado</li>



<li>o do décimo terceiro como bônus </li>



<li>o do cashback como presente </li>
</ul>



Acertei? Pois então! É por isso que você toma decisões com base na origem do dinheiro (ou aonde você o colocou na sua “caixinha” mental), e não no que realmente faz sentido.&nbsp;



E quando a coisa aperta? Aí você apela pro cartão, paga o mínimo, cobre um buraco com outro e chama isso de remanejamento e organização.&nbsp;



No fundo, é só uma pedalada fiscal fantasiada de responsabilidade (e histórias assim nunca acabam bem).



<h2 class="wp-block-heading">A arte de parecer coerente</h2>



Para entender como chegamos a esse ponto, é preciso voltar aos experimentos da psicologia econômica.



Thaler não chegou à contabilidade mental por acaso. Ele percebeu que as pessoas, mesmo instruídas, violam princípios básicos da racionalidade econômica de forma sistemática. E pior: com convicção.



Em um de seus exemplos mais citados, Thaler conta a história de um professor que se dizia completamente racional.&nbsp;



No início de cada ano, ele definia quanto doaria para a United Way, uma organização que apoia causas sociais.&nbsp;



Mas, se ao longo do ano surgisse um gasto inesperado, como um conserto no carro, por exemplo, ele simplesmente deduzia esse valor da doação e chamava isso de “política contra pequenos aborrecimentos”.&nbsp;



Na cabeça dele, era um sistema engenhoso de compensação. Na prática, é um exemplo claro de contabilidade mental; uma ilusão de equilíbrio que ignora completamente a lógica financeira.



O que o professor não percebia é que tratava o dinheiro da doação como se fosse de outra natureza (separado, especial, à parte do orçamento geral).&nbsp;



Mas toda vez que aparecia um gasto fora do script, ele recorria justamente a essa quantia. Como se houvesse uma regra tácita permitindo realocar valores conforme o desconforto do momento.&nbsp;



Esse padrão se repete todos os dias, em todo lugar. É a pessoa que mantém R$ 5 mil na poupança, rendendo centavos por mês, enquanto continua pagando R$ 3 mil no cartão de crédito, a 15% de juros.&nbsp;



À primeira vista, parece prudente manter uma reserva. Mas, no fundo, é a mesma lógica do professor: uma decisão racional só na aparência.&nbsp;



O dinheiro da poupança foi mentalmente rotulado como “intocável”, enquanto a dívida do cartão foi empurrada pra categoria do “depois eu resolvo”.&nbsp;



Percebe o equívoco? É contabilidade mental em estado puro.&nbsp;



<h2 class="wp-block-heading">Como blindar seu cérebro (e seu bolso)</h2>



A essa altura, provavelmente você já percebeu o problema com as “caixinhas” mentais. Elas funcionam como um disfarce pra adiar decisões incômodas, como priorizar o pagamento de dívidas ou rever os próprios gastos.&nbsp;



Na prática, em vez de encarar o que precisa ser feito, você cai no erro de se apoiar na ilusão de que separar o dinheiro em potes imaginários já é, por si só, uma forma de controle.



Sabendo disso, a pergunta agora é: o que se pode fazer quando até o seu cérebro está jogando contra você?&nbsp;



A resposta está longe de ser intuitiva. Mas, felizmente, não faltam cientistas e educadores financeiros sérios tentando consertar esse estrago.&nbsp;



Só que aviso logo: nenhum deles promete mágica ou receita pronta. Eles oferecem método. E método exige mais do que boa vontade. Exige sair da zona de conforto.



Um dos caminhos mais consistentes validados por estudos acadêmicos é o chamado Budgeting Behavior Tracking, ou Acompanhamento do Comportamento Orçamentário.&nbsp;



A proposta é registrar cada gasto no momento em que acontece e acompanhar padrões com base em dados reais. Nada de suposições ou lembranças vagas do que “provavelmente” se gastou. Tem que ser na hora!



Scott Rick, da Universidade de Michigan, e Angela Hung, da RAND Corporation, mostraram que o simples ato de acompanhar os gastos em tempo real já modifica o comportamento.



Outro método, com uma lógica contraintuitiva, é o chamado reverse budgeting. Traduzindo para o português, é algo como “orçamento reverso”.&nbsp;



A lógica é a seguinte: em vez de separar o dinheiro depois que ele entra, como fazem as “caixinhas” mentais, aqui a divisão é feita antes, com base nos sonhos e objetivos definidos previamente.&nbsp;



Na prática, significa separar dinheiro para os seus sonhos e metas antes de gastar ou pagar qualquer conta.



E não pense você que essa lógica é estrangeira demais e não se aplica por aqui.&nbsp;



No Brasil, ela tem nome, sobrenome e CPF: Reinaldo Domingos. PhD em Educação Financeira, autor do best-seller Terapia Financeira, que desenvolveu a Metodologia DSOP.



Assim como em ambos os métodos que citei aqui, a essência da DSOP também prevê um raio X completo do seu orçamento, acompanhando detalhadamente cada gasto durante um determinado período.&nbsp;



E, da mesma forma, ela também te ensina a priorizar os seus sonhos, pagando primeiro a si mesmo antes de colocar a sua renda em qualquer lugar. E vai além.



O método brasileiro te mostra os melhores caminhos pra mudar seu comportamento diante do consumo, parar de gastar por impulso e direcionar o seu dinheiro para o que realmente importa: seus sonhos e metas.



Veja que há uma enorme diferença conceitual entre separar o dinheiro em “caixinhas” mentais e aplicar métodos validados e definir valores para as suas realizações.&nbsp;



Isso porque você não vai direcionar recursos sem antes se organizar, colocar os pés no chão e saber exatamente o que está fazendo.



Sem confusões mentais ou achismos: você vai redistribuir seus recursos de maneira inteligente e fugir de qualquer destino que não seja uma vida de plenas realizações.



Você não precisa de caixinhas mentais. Precisa de clareza, método e propósito.&nbsp;



Clareza pra entender que organizar o dinheiro só na sua cabeça não resolve.&nbsp;



Método pra agir com lógica e aprender a se organizar na prática.&nbsp;



E propósito, pra seguir firme e forte até o fim, sem desistir no caminho.&nbsp;



No fim das contas, não é o quanto você ganha que faz diferença, mas pra onde você direciona sua energia e seu dinheiro todos os dias.

O administrador e a Administração

Daniel Nascimento-e-Silva

Empreendedorismo: como construir um legado, com Raquel Teixeira e Cleusa Maria | Café com ADM 461

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Sobre o autor

Daniel Nascimento-e-Silva

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