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Na prática, um estado socialista se fundamenta em ampliar os benefícios que o poder público oferece ao povo, dentro de uma configuração mais centralizadora e intervencionista do estado, mantida através dos tributos e controle das atividades produtivas, buscando um sistema de equilíbrio social para diminuir a distância entre os mais ricos e os mais pobres e garantir, teoricamente, o mínimo de dignidade e bem estar para a maioria da população.
O poder público é o maior empregador no Brasil considerando a força de trabalho ligada ao governo federal, mais aquela ligada aos governos estaduais e municipais, nos três níveis de poder (executivo, legislativo e judiciário), em órgãos da administração direta e indireta, mais as empresas com participação do estado. Congrega 21% da força de trabalho formal do país, com salários que chegam a ser 56% maiores que aqueles praticados pelo setor privado, segundo dados do próprio IPEA (Instituto Pesquisa Econômica Aplicada). Não há como negar a força do estado enquanto agente econômico. Por sua dimensão e pelos interesses envolvidos, o estado brasileiro determina os segmentos que serão beneficiados diante dos cenários econômicos internacionais e diante das variáveis socioeconômicas internas.
Os governantes Brasileiros, em sua grande maioria, sempre consideraram que o estado deveria centralizar as ações econômicas, seja por raciocínio socializante, xenofóbico, ditatorial ou qualquer outro semelhante. O liberalismo, ou o neoliberalismo encontra pouco espaço no Brasil, principalmente depois da quebra da economia mundial pelos excessos provocados por um punhado de irresponsáveis. Os próprios empresários brasileiros sempre esperam do estado alguma forma de benesse, seja proteção, ajuda ou concessão.
Ao longo dos últimos setenta anos o poder público no Brasil criou um emaranhado tão grande em seu sistema tributário, que além de gerar amarras de todas as espécies à iniciativa privada, transformou-se em um rinoceronte indomável. Falamos então de todos os governos, inclusive daqueles que antecederam ao regime militar, passando por ele, até os governos atuais. Se, além dos impostos incidentes sobre os salários, forem considerados os impostos pagos na compra de produtos e serviços, uma pessoa empregada formalmente utiliza, em média, 55% dos seus ganhos para pagar tributos. Isto só acontece em estados socialistas.
A alma do poder público brasileiro é socialista. E como neste caso o empreendedor público não arca com o ônus do fracasso, a ampliação do estado precisou de dinheiro para crescer, facilmente conseguido através do incremento da carga tributária. Porém isto não quer dizer que as coisas aconteçam dentro de seus propósitos mais nobres. Ao longo do tempo foram criadas inúmeras aberturas para o desvio e para o roubo escancarado do dinheiro público, que em muitas circunstâncias é considerado por presidentes, governadores, prefeitos, juízes, legisladores de forma geral, dinheiro pessoal, tamanha a falta de controle da população sobre o que é feito com o dinheiro arrecadado. Se você coloca ladrões para guardar o seu cofre, há uma probabilidade de 100% de você ficar sem dinheiro, reclamando da sorte.
Além disto, ainda há o aspecto normativo do estado. Milhares de leis, decretos, instruções, normas e outros artifícios jurídicos, criam um cenário sobre os qual só resta uma trilha para avançar, a trilha determinada pelo estado. A própria expressão da liberdade está constantemente comprometida uma vez que os meios de comunicação são concessões do poder público. A crítica à estrutura de poder vigente, seja ela qual for, pode gerar desgaste e perda da concessão, semelhante às situações vivenciadas recentemente na Venezuela.
Então, do ponto de vista prático, somos socialistas. O Brasil socialista não foi criado pelo PTB de Getúlio, pelo PDT de Brizola, nem pelo PC do B (partido Comunista do Brasil), nem pela ARENA e MDB, nem pelos movimentos armados, nem pelos militares, nem pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), nem pelo PT (Partido dos Trabalhadores), nem por nenhum partido político.
O Brasil socialista foi construído por governantes de todos os partidos, que uma vez investidos no poder e de poder, por eleitores desinformados e descomprometidos, criaram amarras para beneficiar grupos específicos e a si próprios, municiados pelo oportunismo, fisiologismo, casuísmo e outros. Socializar no Brasil significa institucionalizar a má gestão, o desvio dos recursos públicos e o roubo, repassando o ônus a quem trabalha com dignidade, criando mais cargos públicos, mais impostos e mais normas, se não em todo o escopo do poder público, pelo menos em parte representativa dele.
Um grande contingente de pessoas honestas acreditam que é melhor trabalhar duro e esquecer a política. Na verdade a política está necessitando de um choque ético, que só pode ser realizado por pessoas verdadeiramente éticas e essencialmente honestas, sem relativismos, porque, gostemos ou não o Brasil já é socialista em forma e conteúdo, falta limpar a corrupção para que possam ser colhidos os frutos positivos desta situação.

O Brasil é socialista

O artigo apresenta, com uma visão crítica, os principais motivos pelos quais o Brasil pode ser considerado um país socialista.

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Há muitos anos escrevi um artigo sobre a distorção das informações pelos meios de comunicação e pelos detentores dos diversos tipos de poder. Lá afirmei, antes do advento das "mídias sociais", que as versões são, frequentemente, mais relevantes que os fatos. Com o passar do tempo foi possível perceber que, além da relevância, muitas versões acabaram se transformando nos fatos propriamente ditos.
Discernir não é uma capacidade inata do ser humano e o meio subverte a capacidade de análise e interpretação de fatos e fenômenos, tanto quanto o conhecimento acumulado, as experiências e referências pessoais. Esta subversão ainda é apimentada pelos gostos e preferências, além de receber um tempero especial do perfil comportamental e ético do indivíduo. Seria ingenuidade esperar portanto imparcialidade das pessoas e dos meios. Sempre teremos versões.
Seguindo uma determinada linha de raciocínio poderemos chegar a concluir que a história corre por versões, mais do que pelos fatos. Milhares de livros se aprofundam em versões. O poder se constrói numa versão. Daí decorre a lógica da dialética como reflexo da realidade, em alguns dos seus significados.
Como atores do microcosmo de informações produzidas e consistidas por algoritmos estamos sujeitos a criar versões e, sob certas circunstâncias, fatos.
Muito do que vemos e lemos na mídia (conjunto de meios) são versões da realidade. A ausência de discernimento, desde a origem do fato, marca o tal protagonismo do indivíduo do nosso tempo.
Discernir é portanto um raro resultado de desenvolvimento humano, praticamente impossível de esperar da mídia e de seus principais atores e players. Discernir é, diante da força dos algoritmos, uma capacidade em extinção.
Vivemos hoje uma realidade que não seria a mesma se não fossem as versões que influenciaram decisões, em um ciclo contínuo de realidades alternativas concretas, nas quais tanto se pode criar grupos que acreditam que a Terra é plana quanto heróis de mentira da noite para o dia, sem que a resultante seja inibida. A ausência de discernimento nos coloca numa espécie de Matrix real da qual dificilmente vamos escapar.

Ausência de discernimento gera Matrix real

Pode procurar com as aspas. Claro que não encontrará. Não há uma resposta sequer para esta pesquisa no Google em português. Você encontrará artigos e livros de Administração para Médicos, Advogados, Engenheiros, mas não há livro de Administração para Socialistas, nem um sequer. Sei que ser socialista não é profissão, mas, na prática, os pensadores socialistas com influência acabam assumindo funções gerenciais e, frequentemente, se mostram uma negação na gestão da coisa pública, inclusive quando esta “coisa” é um país inteiro.
Sabe então por que não há livro de Administração Para Socialistas? Porque um enorme percentual de socialistas, principalmente os que se tornam políticos, detestam administração, odeiam números e exatidão, passam por cima de qualquer planejamento, gerenciam puramente pela emoção, pelos acordos de bastidores, são guiados pelo raciocínio da unificação, mesmo sem compreender direito que igualdade não significa necessariamente colocar um gênio e uma pessoa normal em condições iguais de produzir coisas boas para uma comunidade. É difícil para um gestor socialista compreender ou aceitar a mais óbvia ululante constatação que os seres humanos são diferentes, não pensam igual, não possuem as mesmas vocações, não têm os mesmos interesses, não acreditam nos mesmos deuses e assim por diante. Além disto, há um desprezo pelo significado de maioria, pela transparência de dados e orçamentos, pela compreensão do que é o povo considerando um país inteiro. Odiar Administração é só uma consequência disto.
Administrar para todos é diferente de administrar para a metade. Imagine você empresário gerindo um negócio no qual você só se preocupa com metade de seus colaboradores associados. Não precisa ter bola de cristal, para compreender o problema que terá pela frente. A própria justiça, se ela funcionar, se encarregará de destruir sua empresa e você como gestor.
Só o fato de você tratar pessoas de forma diferente numa empresa, principalmente se estiverem ocupando o mesmo cargo, já traz transtorno, imagine o que significa isto dentro de um contexto que coloca frente a frente um governo e a população de uma país.
Você pode gostar mais de algumas pessoas, ter mais afinidade com alguns grupos, encontrar mais adesão em determinadas áreas, ser convicto de suas ideologias, mas todos são colaboradores e a gestão deve contemplar todos.
Em 2015 escrevi um artigo que fala sobre a falta de um “sonho brasileiro” que seja coletivo e viável, no qual as pessoas consigam perceber os benefícios de sua realização de forma concreta. Isto só se faz com Administração voltada para o todo e não para a metade.
Assim sendo, matar metade da população como sugerem os revolucionários, que não deixa de ser uma decisão de administração, é menos efetivo do que aprender a gerir de forma correta, com as dores da gestão de qualquer organização, seja ela de direita, de centro, ou de esquerda. Isto é inalcançável para ignorantes. Só resta na cabeça de muitos, matar metade da população, ou fazer um enorme esforço para deixá-la calada, sempre uma regra utilizada nos governos autoritários.
O melhor a fazer por aqui, para evitar problemas venezuelanos logo adiante, é fazer com que nossos socialistas se interessem por Administração. Este interesse deve começar pelas lições de planejamento com visão macro para que se compreenda, de uma vez por todas, que o povo de um país não é formado por quem votou em quem foi eleito, mas por todos que nascem e vivem em um país.
O legado que um mandatário recebe quando eleito não é o de um país pronto, muito menos o país que ele, individualmente, quer ou imagina que deva ser na sua cabeça. É o país que ele recebeu da história para fazer algo melhor de acordo com uma vontade coletiva e não para levá-lo à bancarrota por ser cego de um olho, por ser definitivamente parcial, ou por conhecer pouco ou nada de Administração.
Apenas a Administração tem a possibilidade de abrir novas perspectivas para um novo tipo de socialismo, mais inclusivo, mais amplo e efetivo. A partir daí se chegará à conclusão que não há melhor caminho para o socialismo que adotar algumas regras do capitalismo. Não precisa procurar muito. Basta tomar exemplos marcantes como Rússia e China, passando por todos os países capitalistas que pregam e adotam o “welfare state” para seu povo, ensinam socialismo para o mundo, mas exploram todas as oportunidades capitalistas em outros países.
Como é praticamente impossível eliminar a nossa vocação e nossa estrutura de estado socialista, que pelo menos nosso socialismo seja bem melhor do que aquele, oligárquico e anacrônico, no qual vivemos atualmente.

Já ouviu falar em "Curso de Administração Para Socialistas"?

Produzir planos sem conexão com as grandes prioridades do país, simplesmente para cumprir tabela, colocar terno e gravata para se fantasiar de executivo ilibado, falar emocionalmente para enganar a audiência, fazer cara de sério, para se fazer de sério, indicar um séquito de assessores, todos da família, para os gabinetes e assim por diante. Desta forma é montado o Estado, colocado a serviço de um punhado de espertos, aos quais não interessa a boa administração.
Paralelamente, as discussões político-partidárias quando vão para o lado emocional, desconsideram qualquer aspecto ligado à observância de prioridades, de restrições orçamentárias, de busca de efetividade. Um lado diz corta tudo, inclusive o que não deve, o outro diz libera tudo, até estourar o duto.
O Estado brasileiro não quer saber de gestão. Um exemplo prático no “niilismo” aplicado à gestão pública são os Conselhos de Administração, como o da Petrobrás, na compra da Refinaria de Pasadena. Seus membros são cooptados a dizer sim a qualquer coisa. Estão ali como bonecos de cera. Depois se arranja uma desculpa qualquer para explicar os motivos pelos quais foram colocados centenas de milhões de reais em um mico.
Gastar milhões em eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas é também um exemplo de completa desconexão entre prioridades nacionais e interesses pessoais. Se fosse um reino, estes eventos seriam considerados “mimos para o rei” e podem ser considerados um enorme desserviço ao que é essencial e escasso.
Dados e informações com números consolidados e tratados de forma adequada, com visão sistêmica, estão dispersos e, ramente, mostram alguma conexão entre causa e efeito, permitindo a multiplicação de propostas sem nenhum fundamento. Onde estão os dados concatenados da previdência mostrando os recolhimentos, os rendimentos, a aplicação dos recursos que foram tomados do empregador e do trabalhador? Cada órgão fala uma coisa, cada partido distorce as diferentes versões à sua própria vontade, não há nada que possa ser tomado como verdadeiro. Então tudo é mentira, como a própria gestão do Estado.
O Brasil detesta gestão porque não sabe ler nem escrever, porque não sabe calcular e porque há inúmeros interessados na continuidade desta situação. Qualquer pessoa com mais de trinta anos e com relativa conexão com o mundo que a cerca, poderá listar no mínimo 100 ações descabidas do Estado, incluindo os crimes envolvendo dinheiro público e a coisa pública, em um simples par de anos.
Quando se acompanha de perto tudo que acontece nas metodologias de gestão e nas tecnologias aplicadas à gestão é instantânea a conclusão de que o Brasil não tem só um problema político, o Brasil tem um enorme, gigantesco e quase incorrigível problema de gestão. Com certeza os trilhões gastos nos últimos vinte anos em obras e ações, sem nenhum propósito verdadeiro e sem visão de prioridades, fariam sumir a pobreza brasileira, sem a necessidade de um salvador da pátria, que, de verdade, não existe nem vai existir.
A “salvadora da pátria” é a boa administração, por mais que queiram trucidá-la e por mais que a odeiem. Ela deve estar em todos os lugares, em todas as atividades e em cada ação de cada cidadão e de cada membro do Estado. Só ela muda a perspectiva de futuro. Enquanto for desprezada, o futuro será sempre igual ao presente e pior, poderá ser igual ao passado.

O Estado brasileiro despreza a administração

90% das empresas antecipam impactos em suas operações e 66% preveem aumento de investimentos em tecnologia para se adaptarem a jornada de transição fiscal do país



Aprovada por meio da Emenda Constitucional nº 123/23, a Reforma Tributária inaugura um novo capítulo na dinâmica de apuração, fiscalização e gestão de processos fiscais no ambiente de negócios brasileiros. Ao mesmo tempo, em que se pesem seus potenciais ganhos em termos de simplificação e transparência de nosso sistema, não há dúvidas de que a reforma traz consigo impactos que vão muito além das alíquotas definidas para o IVA Dual que passa a ser aplicado no país já a partir de 2026.



Como se sabe, no ano que vem entram em vigor com percentuais de 0,9% para a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e 0,1% para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).



Essas alíquotas, residuais neste primeiro momento, no entanto, não devem iludir os empresários: mais do que um custo tributário, o verdadeiro peso nesse início da jornada de transição do país estará no investimento operacional necessário para a devida adaptação ao novo modelo.



Esse ponto é reforçado, por exemplo, por uma pesquisa recente da Thomson Reuters a qual indica que 90% das empresas veem um impacto de médio a muito alto em suas operações para que possam se adaptar às diretrizes da Reforma Tributária.



E esse impacto passa também pelo aumento de custos, com 66% dos entrevistados entendendo que o investimento em soluções de gestão tributária deve ter crescimento no período de seis meses e dois anos – expansão que deverá se manter nos próximos nove anos para mais de 40% das empresas.



Ou seja, mais do que pensar no peso das alíquotas do CBS e do IBS nesse primeiro momento, o que se impõe às organizações é a necessidade de repensar processos, sistemas e estruturas para lidar com um cenário de regras em mutação. E esse movimento, naturalmente, não vem sem custos.



Ato contínuo, a complexidade do período de transição não decorre apenas da mudança legislativa em si, mas da simultaneidade de dois sistemas convivendo por quase uma década.



Entre 2026 e 2033, empresas terão que operar com o regime antigo e, em paralelo, implementar gradualmente as regras do novo modelo. Esse duplo esforço tende a aumentar consideravelmente os investimentos em tecnologias capazes de se adaptar a regras de modo contínuo que, aliás, ainda estão sendo desenhadas; ao mesmo tempo em que coordenam as exigências atuais, de modo que possam aproveitar créditos e atuar em conformidade com o antigo regime.





Nesse pacote, entram ainda os custos com treinamento de equipes e consultorias especializadas para garantir que não haja falhas no cumprimento das obrigações conjuntas. Não por acaso, a pesquisa da Thomson Reuters também indica que 62% das empresas esperam um crescimento dos investimentos em atualizações de processos e consultoria externa, ao passo que 51% preveem um aumento de custos em treinamento de colaboradores nos próximos seis meses.



Dentro desse contexto, a jornada de digitalização das empresas também tende a ser acelerada. Negócios que ainda operam com sistemas fragmentados ou manuais sentirão mais intensamente o peso da transição. Isso porque a Reforma não se resume a ajustar planilhas: ela exigirá integração de dados, parametrizações sofisticadas e capacidade de gerir regras em tempo real.



É nesse ponto que reside o paradoxo da Reforma. O discurso oficial enfatiza simplificação e transparência, e, de fato, no longo prazo, os benefícios podem ser palpáveis. No entanto, até que esse horizonte seja alcançado, a curva de aprendizado trará inevitavelmente custos e riscos. Estamos, assim, diante de um cenário em que a questão operacional se sobrepõe, neste momento, à discussão puramente dos custos fiscais.



Isso significa, por fim, que o impacto da Reforma não será uniforme. Grandes organizações, mais estruturadas e com recursos para absorver investimentos em tecnologia e assessoria, estarão em posição de vantagem. Pequenas e médias empresas, por outro lado, sentirão com mais força os custos de adaptação, o que pode gerar um novo tipo de desigualdade competitiva.



Esse olhar não invalida os possíveis ganhos da Reforma Tributária, mas busca frisar a necessidade de um possível apoio a uma parcela importante do mercado para que a adaptação ao novo sistema fiscal do país ocorra de modo mais equilibrado.



Ao mesmo tempo, para as organizações, cabe agir desde já, repensando processos e buscando caminhos estratégicos para que os custos operacionais da Reforma não se transformem em obstáculos competitivos. A promessa de simplificação pode até se concretizar, o desafio agora é se integrar com inteligência a maior transição fiscal do século.

O custo operacional da Reforma Tributária

Do mesmo jeito que um “empurrão invisível” enche o carrinho sem você perceber, ele também pode empurrar decisões importantes para o limbo



Você só queria pilhas.



Saiu com um kit de shampoo, dois pacotes de bolacha, uma caixa de ovos… e ainda pescou um Trident na gôndola do caixa.



Já aconteceu com você?



Pois é. Às vezes o desvio acontece no corredor do mercado. Outras, na sua vida financeira.



Do mesmo jeito que um “empurrão invisível” enche o carrinho sem você perceber, ele também pode empurrar decisões importantes para o limbo.&nbsp;



Tipo aquela ideia de começar a poupar para a aposentadoria, que vive sendo adiada. Não porque você não quer, mas porque o caminho até lá parece feito de senhas, formulários e burocracias.



Se isso soa familiar, saiba: você já foi alvo de um sludge. E nem percebeu.



Mas nem todo empurrão invisível é armadilha. Quando usado do jeito certo, ele pode ser exatamente o que faltava para uma boa decisão sair do papel. É disso que trata o nudge.



Quer ver um exemplo?&nbsp;



Em alguns prédios, a sinalização para a escada é colocada em destaque, com setas e cores chamativas. Um ajuste que aumenta as chances de alguém optar pelos degraus em vez do elevador.



Não há regra ou alarde. Apenas uma pequena alteração no ambiente que influencia o comportamento sem tirar a liberdade de ninguém.



<h2 class="wp-block-heading">Mas afinal, o que são esses “empurrões”?&nbsp;</h2>



Imagine observar o comportamento das pessoas por décadas e perceber que, mesmo diante de escolhas simples, elas frequentemente tomam decisões ruins.



Foi exatamente isso que os economistas Richard Thaler e Cass Sunstein fizeram.&nbsp;



Ao estudar como as pessoas escolhem no mundo real, fora dos modelos perfeitos da economia clássica, encontraram um problema crônico: decisões ruins não nascem da falta de informação, mas da forma como as opções são apresentadas.



A partir disso, propuseram uma mudança sutil, mas eficaz:



Em vez de tentar consertar o ser humano, que tal ajustar o ambiente em que ele interage?&nbsp;



Assim surgiu o conceito de nudge (empurrão), uma mudança discreta no design que dá um empurrãozinho para que você tome uma decisão melhor.



Segundo Thaler e Sunstein, um nudge é qualquer mudança no ambiente que ajuda a influenciar uma decisão de forma previsível, sem restringir sua liberdade de escolha e sem precisar de recompensas ou punições.



A intenção é clara: facilitar o caminho certo e deixar o errado acessível (só que com um pouco mais de atrito).



Mas se o nudge abre portas, o sludge faz o contrário. Ele tranca. Ou pelo menos emperra a maçaneta.



O termo sludge surgiu quando os próprios pesquisadores notaram que os empurrões usados para ajudar também podiam ser usados para atrapalhar.



E pior. Em muitos casos, não por descuido, mas por interesse.



Sludge é quando o ambiente é desenhado para dificultar uma decisão ou atrasar uma ação que deveria ser simples.&nbsp;



O nome (do inglês, lama) faz justiça.&nbsp;



Em vez de empurrar, o sistema puxa para trás. Com atrito, obstáculos, burocracias.&nbsp;



É o cancelamento de serviço de telefonia que exige três ligações, senha, espera longa e uma desculpa cínica de que “este não é o tipo de experiência que prezamos”;&nbsp;



É o aplicativo que oculta a opção mais vantajosa sob cinco camadas de menus;



É o contrato que esconde informações em letras miúdas no rodapé da página, e por aí vai…



A lógica aqui também é previsível: quanto mais cansativo o processo, menor a chance de a pessoa insistir.&nbsp;



Ou quanto mais confuso o caminho, maior a probabilidade de ela desistir. Mesmo que isso signifique perder dinheiro.



O sludge não impede. Só complica. E, muitas vezes, é exatamente esse o objetivo.&nbsp;



E agora, vem a pior parte:



<h2 class="wp-block-heading">É impossível passar ileso!</h2>



Já percebeu como é fácil fazer uma aposta esportiva no celular? Dois cliques e o seu dinheiro está em jogo.&nbsp;



Agora tente investir em uma previdência privada no seu aplicativo do banco. Boa sorte em achar o caminho.



Essas diferenças não são acidente. Fazem parte do design que molda seu comportamento todos os dias. E é exatamente aí que entram os nudges e sludges.



Esses empurrões atuam sobre os <a href="https://evandrocanello.com.br/por-que-e-tao-dificil-deixar-ir-uma-explicacao-racional?">vieses cognitivos</a>, padrões automáticos de pensamento que usamos para tomar decisões rápidas.&nbsp;



Um dos mais comuns é o viés do presente: a tendência de priorizar o agora e deixar o futuro pra depois. É ele que faz você gastar com o que traz prazer imediato (roupas, celular) e adiar o que exige paciência, como guardar dinheiro para a aposentadoria.



Outro bem conhecido é o efeito manada, que nos leva a repetir o comportamento da maioria como se fosse um caminho comprovadamente seguro.&nbsp;



Já a aversão à perda é aquele impulso que faz a dor de perder cinquenta reais parecer maior do que a alegria de ganhar cem.&nbsp;



Na prática, é deixar o dinheiro parado na poupança, mesmo sabendo que há opções melhores, só pra não enfrentar a sensação desconfortável de abrir mão do que já está ali.



Esses vieses funcionam como atalhos mentais. E é exatamente por esses atalhos que os nudges e sludges sabem trafegar muito bem.



O resultado dessas influências é instantâneo e praticamente impossível de ser ignorado.



Duvida? Veja só o exemplo que usei no início do texto: você entra no mercado pra comprar uma coisa e sai com doze. O que aconteceu? Você caiu num sludge camuflado em um ambiente de compras.&nbsp;



E a coisa só piora: seus filhos também são atingidos diretamente.



Ou você nunca se perguntou por que diabos tem gôndolas de doces na fila do caixa que nunca medem mais que um metro e meio?



Isso é sludge agindo, porque o ambiente foi pensado para sabotar a sua atenção.&nbsp;



Você está na fila, distraído, esperando o caixa liberar. De repente, aquele chocolate aparece na altura perfeita do seu campo de visão. Ou melhor, no campo de visão do seu filho, que está ali ao lado, no nível exato da gôndola. O apelo visual é direto, quase impossível de recusar.&nbsp;



E agora, me explica: como negar um doce para uma criança entediada, enquanto ela aguarda impaciente por longos minutos na fila?&nbsp;



Não é à toa que é comum ver criança dando chilique na frente do caixa. E as pobres sequer têm culpa. Tudo ali foi desenhado pra favorecer o impulso e dificultar o controle… cada detalhe.



Mas nem só de obstáculos vive o design de escolhas.&nbsp;



Alguns empurrões jogam a favor, como a inscrição automática em planos de aposentadoria, que aumenta a adesão simplesmente por já vir como padrão.&nbsp;



Ou o adesivo com o desenho de uma mosca colado no vaso sanitário masculino no aeroporto de Amsterdã, que melhorou a pontaria e reduziu a sujeira em 60%.&nbsp;



<figure class="wp-block-image size-large"><img src="https://cms-prd.administradores.dev/app/uploads/2025/09/image-1-1024x686.jpg" alt="" class="wp-image-421607"/></figure>



Perceba que não há instruções ou qualquer publicidade, apenas um detalhe no lugar certo.



<h2 class="wp-block-heading">Mais nudges, menos sludges&nbsp;</h2>



Sabia que você também pode usar isso a seu favor? Aplicar nudges dentro de casa é mais simples do que parece.&nbsp;



Por exemplo, deixar as frutas à vista sobre a mesa em vez de escondidas no fundo da geladeira, ou colocar os alimentos que quer evitar em prateleiras menos acessíveis da despensa.



E outra: quer reduzir o tempo de telas?&nbsp; Então por que você tem três TVs, dois celulares e um tablet dentro de casa?



A mesma lógica funciona com finanças.&nbsp;



Programar a transferência automática para a previdência assim que o salário cai ou ativar a função que sugere aportes quando sobra dinheiro na conta…



Tudo isso facilita a ação, reduz o atrito e torna a boa escolha quase inevitável. A decisão continua sendo sua, só ficou mais fácil de tomar.



E o sludge, o gêmeo do mal?



Sair ileso dele, como eu já disse, é praticamente impossível. Mas sair mais preparado? Totalmente viável.



Se você chegou até aqui, já está com uma boa camada de blindagem, porque entender como esses mecanismos operam no seu cérebro já é um bom começo.&nbsp;



A partir de agora, é bem provável que você nunca mais veja do mesmo jeito o design de um app, uma gôndola no mercado ou um cancelamento de um plano.



Mas dá pra ir além.



Uma das estratégias mais eficazes é criar dificuldades onde o impulso costuma mandar.&nbsp;



Quer comprar algo fora do planejado? Estabeleça um tempo mínimo de espera antes de decidir.&nbsp;



Esse respiro permite que o seu sistema mais racional entre em cena e questione se o gasto realmente faz sentido. Simples? Sim. Mas funciona.



Outra é automatizar as boas escolhas. Se você já decidiu que investir em previdência é importante, agende a transferência assim que sua renda entrar. Jamais pense em fazer isso depois de pagar contas ou gastar mais, senão o sludge vai puxar seu pé durante a noite.



E o mais importante: aprenda a reconhecer os sludges à sua volta. Sempre que algo parece mais difícil do que deveria, vale se perguntar: por quê? Quem ganha com a minha desistência?&nbsp;



Se um cancelamento exige esforço desproporcional, se uma escolha simples parece cercada de obstáculos, desconfie. Provavelmente tem um sludge bem posicionado, fazendo o trabalho sujo.



No fim das contas, Educação Financeira também passa por isso. Não se resume a planilhas ou taxas de retorno.&nbsp;



É sobre enxergar o cenário onde suas decisões acontecem e moldar esse ambiente para que o caminho certo também seja o mais fácil de seguir.

O Brasil é socialista

Jorge Márcio Daniel

Como o uso de benefícios flexíveis impacta sua marca, com Dan Josua | Café com ADM 462

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