Na fila do caixa de um supermercado, uma senhora pediu licença para passar à frente dos que aguardavam o atendimento, pois estava apressada e levava consigo apenas uma bandeja de iogurtes. Depois de passar o produto pelo terminal, a atendente questiona a senhora se ela levaria 'só o Danone', com o rápido assentimento da cliente. Nada de mais aos olhos de bons consumidores e, aparentemente, nada de mais também aos olhos dos acionistas da marca, não fosse o fato de que o iogurte era bebida láctea e o Danone era, na verdade, da Itambé. Situações parecidas não são raridades no cotidiano dos consumidores, mesmo daqueles que se dedicam ao estudo das marcas: fermento em pó, esponja de aço, amido de milho, achocolatado, café solúvel, haste com algodão nas pontas, são alguns exemplos daquilo que na Língua Portuguesa recebe o nome de metonímia, figura de linguagem que, dentre outras situações, ocorre quando se troca o nome do produto pelo da marca. Parece fruto de instrução acadêmica – e até bem disseminada – a percepção de uma vantagem implacável sobre os concorrentes nos casos em que a marca dá nome a toda uma categoria de produtos, como acontecido com o iogurte e os demais exemplos (aos quais provavelmente você deu os mesmos nomes que milhões de brasileiros). Não é bem assim. Enquanto lá na gramática a metonímia compõe um inocente campo de estudo, no marketing e em suas derivações, a marca que dá nome à categoria sem entrar no carrinho do cliente, vira um indicador absoluto de perda de mercado, de política de preços inadequada, de distribuição ineficaz, enfim, de uma série de fatores desfavoráveis a ela própria e que dão verdadeira vantagem aos concorrentes pelos quais o consumidor efetivamente paga. A marca amante É inquestionável que figurar entre as top of mind é fruto de esforços conjuntos – e intensos – de marketing, desdobrados nas vertentes da publicidade, do branding, da pesquisa, entre outras. De tal maneira, elevar-se ao posto de título para todo um segmento de produtos também é honraria das mais especiais, visto que há aí, se não a percepção imediata de qualidade, a participação intrínseca do produto na vida do consumidor. Imiscuir-se não somente aos hábitos de consumo, mas à própria vida e à cultura do público, que atrela uma marca a um produto e arraiga em si tal costume de forma tão intensa que se torna impossível separar categoria e rótulo, é um feito referenciável para qualquer projeto de construção e consolidação de marca – não é por acaso que as mais lembradas são quase sempre essas. Todavia, levar gato chamando-o de lebre é como chamar o amante pelo nome do cônjuge gravado na aliança. Para onde vai o dinheiro? Uma vez traída a marca – em grande parte dos casos sem ter tido sequer o primeiro contato com o consumidor, que leva a outra desde sempre – é evidente que surge aí uma absurda diferença entre ser top of mind e ser top of market. Como dizia McMahan, o mais importante festival publicitário é a caixa registradora e, se o público leva a outra marca no carrinho, a original só se mantém se compensar a perda de mercado no preço, contribuindo ainda mais para o distanciamento entre o que o consumidor prefere e o que pretere. Não significa que se deva buscar exclusivamente a maior fatia do mercado enquanto a incursão na lembrança fica em segundo plano (a menos que o objetivo seja ser lembrado em casa e esquecido na gôndola), mas tão somente que os rankings devem sempre ser equilibrados ante o perfil do público-alvo pretendido: quem lembra, compra; não o contrário. Quando volta para casa… Na era da informação, é disparate dos mais absurdos dizer que o consumidor ainda se mantém nos moldes do consumo do século passado, ou mesmo dos anos passados. Ele sabe o que faz com seu bolso e, na maioria esmagadora dos casos (sobretudo com o advento das camadas sociais de base), possui um poder aquisitivo e cognitivo que, apesar de não o permitir fazer extravagâncias, o dota de plena capacidade de desembolsar um pouco mais de dinheiro e pensamento quando o famoso binômio custo x benefício não gera tanto benefício assim. O resultado é o nivelamento da marca mais lembrada e que nomeou a categoria com aquela que passou pelo caixa como se fosse a concorrente, gerou lucro e atende às mesmas necessidades, desejos e percepções de valor do cliente. Quem compra a esponja de aço A e a chama por B (mais por vício do hábito do que por deliberação), compreende bem que assim o fez e faz porque ambos são, fora da embalagem, a mesma coisa, mas a primeira oferece uma vantagem que a segunda não tem – na maioria das vezes, o preço. Quanto vale o valor a mais Por fim, mesmo que haja ainda naqueles produtos que ficaram na gôndola alguma característica que lhes é peculiarmente vantajosa, um novo contratempo desponta daí: se o benefício não garante a preferência, possivelmente ele não vale a diferença de preço.