A gestão financeira é fundamental para que as empresas sejam bem sucedidas e sustentáveis buscando a perpetuidade. Ao longo do tempo os estudos sobre gestão financeira evoluíram bastante, com o crescimento das empresas, e a expansão do mundo corporativo, os empresários passaram a sentir a necessidade de compreender e controlar melhor as finanças empresariais, Assaf Neto (2008, p. 34) diz que: […] a partir dos anos 20 do século XX, já entendida como uma área independente de estudo, as finanças das empresas são motivadas a evoluir de maneira a atender à crescente complexidade assumida pelos negócios e operações de mercado. Antes da crise de 1929, os estudos de gestão financeira estavam mais voltados para a captação de recursos para as empresas, ao iniciar um novo negócio, os empreendedores buscavam fontes externas de capital, para financiar seus projetos e novos empreendimentos. O foco então era captação de recursos financeiros, em detrimento do uso e controle correto desses recursos financeiros para garantir um retorno adequado aos fornecedores de capital. Para Assaf Neto (2008, p.34): As principais preocupações do administrador financeiro fixavam-se em seus vários fornecedores de capital – acionistas, banqueiros e poupadores em geral, basicamente – e nas formas e práticas disponíveis de levantamento de recursos. Após a crise de 1929, os gestores financeiros começaram a compreender que apenas a captação de recursos financeiros não basta para assegurar a sobrevivência das empresas. Para garantir continuidade dos empreendimentos, é necessário usar bem esses recursos financeiros visando o retorno para o capital aplicado, o que exige maior atenção aos aspectos internos da organização como a eficiência produtiva, para evitar desperdícios, e a eficácia estratégica, para tomadas de decisão mais acertadas. Assaf Neto (2008, p.35) afirma que: Na década de 50, contudo, foi dada ênfase destacada aos investimentos empresariais e geração de riqueza.[…]Nesse contexto, as finanças corporativas passaram a preocupar-se tanto com a alocação mais eficiente de recursos, como com a seleção mais adequada de suas fontes de financiamento. Atualmente, a gestão financeira busca resultados pragmáticos para os negócios, retorno para o capital investido através do lucro das empresas, e esse retorno deve remunerar adequadamente o risco assumido pelo investidor. O vocabulário de um bom gestor financeiro, e de qualquer investidor sério deve possuir termos essenciais como 'retorno do investimento', 'custo de capital', 'gestão de risco'. Esses termos são vitais para a gestão adequada de qualquer negócio. Para isso, o gestor financeiro moderno precisa de uma boa formação generalista, visão sistêmica e integrativa de todo o negócio, e estar em contato permanente com todas as áreas da empresa, controlando e fomentando o negócio com informações estratégicas. Para Assaf Neto (2008, p. 33 e 34) A crescente complexidade do mundo dos negócios determinou, ainda, que o responsável pela área financeira desenvolvesse uma visão mais integrativa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente externo […] Nos dias atuais, a área financeira passou de uma postura mais conservadora e de absoluta aceitação dos fatos para uma posição bem mais questionadora e reveladora dos fenômenos financeiros. Esses termos são fundamentais para garantir que as empresas atinjam seu objetivo, que é o lucro e o retorno para os sócios. Toda empresa deve ser encarada como um investimento, e os empresários como investidores, pois somente o lucro garantirá a longevidade dos empreendimentos, e a continuidade dos investimentos realizados pelos sócios. Hoji (2004, p.21) afirma que: Para a Administração Financeira, o objetivo econômico das empresas é a maximização de seu valor de mercado, pois dessa forma estará sendo aumentada a riqueza de seus proprietários. […] Os proprietários de empresas privadas esperam que seu investimento produza um retorno compatível com o risco assumido, por meio de geração de resultados econômicos e financeiros (lucro e caixa) adequados por longo prazo […] Nesse contexto, é importante a participação de um gestor financeiro, ou ao menos que os empresários tenham uma visão financeira e econômica de seus negócios. Hoji (2004) destaca três funções básicas de um administrador financeiro: • Análise, planejamento e controle financeiro; • Tomadas de decisões de investimentos; e • Tomadas de decisões de financiamentos. O empresário deve estar atento a estas funções básicas em seu negócio. Deve analisar, planejar e controlar o uso de seus recursos financeiros e tomar decisões de investimentos e financiamentos precisas e inteligentes. Para realizar essas funções, tanto o gestor financeiro, quanto o empresário usará de relatórios, ferramentas e técnicas de finanças corporativas. Os relatórios mais comuns e eficazes na gestão financeira são o Balanço Patrimonial (BP), o Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) e o Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC). Para Damodaran (2004, p. 80): Existem três demonstrativos contábeis básicos que resumem as informações sobre uma empresa. O primeiro é o balanço patrimonial, que resume os ativos de propriedade de uma empresa, o valor desses ativos e o mix de financiamento, dívida e patrimônio líquido usado para financiar esses ativos em um ponto no tempo. O segundo é o demonstrativo de resultado do exercício, que fornece informações sobre as receitas e as despesas da empresa, e o lucro resultante obtido por ela durante um período determinado. Finalmente, o demonstrativo de fluxo de caixa especifica as fontes de receita de ambas as operações e novos financiamentos, e o uso desse dinheiro durante um certo período. O Balanço Patrimonial é como uma foto tirada em determinado momento da empresa. Com esta foto em mãos é possível entender como a empresa está naquele momento, se ela tem dinheiro em caixa, se tem muitas dívidas, se possui muito capital parado em bens permanentes, se possui capital investido em estoque, sendo possível ter uma visão geral da situação da empresa através desta foto. A Demonstração de Resultado do Exercício mostra a lucratividade da operação e sua capacidade de gerar lucro econômico. Tirando todos os custos do faturamento realizado, o empresário consegue enxergar sua margem bruta e sua margem líquida (lucro). Este relatório é fundamental para analisar a operação da empresa, se ela é viável ou não. O Demonstrativo de Fluxo de Caixa mostra as movimentações ocorridas nos disponíveis da empresa, todas as entradas e saídas financeiras devem ser registradas no fluxo de caixa, sejam elas operacionais ou extra-operacionais. Este relatório é vital para o controle do capital de giro da empresa, para o planejamento de pagamentos e recebimentos, para que a empresa mantenha seus compromissos em dia e com uma marca sólida e confiável no mercado. Isoladamente, esses relatórios não fornecem informações seguras sobre a empresa, mas integrados é possível compreender toda a operação da empresa, se é uma empresa viável, se os recursos são utilizados corretamente, se a empresa tem crescido ao longo do tempo, se a empresa tem melhorado sua operação, etc. Analisando estes três demonstrativos ao longo do tempo, é possível ter uma visão completa e abrangente de qualquer empresa, tornando mais viável e segura a tomada de decisões estratégicas da empresa, garantindo sua sobrevivência e crescimento em longo prazo. Todavia, sem a análise contínua destes demonstrativos, as tomadas de decisões nas empresas ficam comprometidas e a visão do empresário é prejudicada, tornando-se turva e podendo gerar erros estratégicos graves, comprometendo a continuidade das mesmas. A análise por meio de índices financeiros é a ferramenta ideal para se ter o controle mais adequado para as tomadas de decisões nas empresas. Através dos indicadores financeiros é possível comparar uma organização com outras do mesmo segmento e até de segmentos diferentes de mercado (análise cross-sectional), estabelecendo critérios de avaliação do desempenho entre as empresas. Os indicadores também podem ser utilizados para comparar o desempenho da empresa consigo mesma ao longo do tempo (análise de série-temporal), tornando possível a avaliação de melhoria temporal da empresa. Para Gitman (1997, p.102): A análise por meio de índices financeiros envolve os métodos de cálculo e a interpretação dos índices financeiros, para avaliar o desempenho e a situação da empresa. […] A análise por meio de índices financeiros é usada para comparar o desempenho e a situação de uma empresa com outras empresas, ou consigo mesma ao longo do tempo. Hoji (2004) destaca duas formas de análise de balanços, a análise vertical e horizontal. Na análise vertical o foco é verificar a participação de cada item na composição de determinada coluna, na caso do Balanço Patrimonial, verifica-se a participação do itens no Ativo e no Passivo, na DRE e DFC verifica-se a participação dos custos na formação do lucro e a participação das saídas na formação do caixa. Na análise horizontal, o foco é mostrar a evolução dos dados por períodos. Para o agrupamento dos índices financeiros, toma-se a classificação utilizada por Hoji (2004) por entendê-la como mais simples e prática, embora a maioria dos autores utilizem classificação semelhante. Para Hoji (2004) os indicadores financeiros podem ser divididos em quatro grupos: • Índices de estrutura de capital; • Índices de liquidez; • Índices de rotação; e • Índices de rentabilidade. Os índices de estrutura de capital mostram como o capital está sendo alocado na empresa e sua origem, os principais indicadores são demonstrados na Figura 1. Figura 1: Índices de Estrutura de Capital Os índices de liquidez demonstram a condição financeira das empresas, e a capacidade de quitar suas dividas, os principais indicadores são apresentados na Figura 2. Figura 2: Índices de Liquidez Os índices de rotação mostram o giro dos ativos da empresa, são usados para analisar a forma mais eficiente para usar o capital de giro, buscando diminuir a necessidade de capital de giro das empresas. Os principais indicadores estão na Figura 3. Figura 3: Índices de Rotação Os índices de rentabilidade verificam o retorno dos capitais investidos, são indicadores vitais para a análise do desempenho das empresas, através destes indicadores é possível identificar se as empresas são viáveis operacionalmente. Os principais indicadores são descritos na Figura 4. Figura 4: Índices de Rentabilidade A gestão empresarial evoluiu muito em curto período de tempo, as empresas precisam se preparar para um mercado altamente competitivo e dinâmico, os empresários precisam de pessoas capacitadas para lidar com um cenário de alto risco. Gerir uma empresa sem controlar corretamente suas finanças aumenta consideravelmente o risco de fechamento. Sem a análise, planejamento e controle financeiro, as empresas são como navios sem rumo, não conseguem medir sua velocidade, e muito menos o rumo certo, podem estar correndo para um abismo sem que sua tripulação perceba. Esse geralmente é o fim de empresas geridas sem embasamento financeiro, por mais que conquistem clientes, possuam grandes parcelas de mercado, marcas reconhecidas e admiradas, funcionários e clientes satisfeitos, alta produtividade de máquinas e pessoas, sem a análise real da lucratividade e rentabilidade do negócio, as tomadas de decisão serão tomadas sem critério, e o barco navegará à deriva. Para gerir qualquer tipo de negócio é fundamental a análise, planejamento e controle financeiro, para dar segurança ao empreendedor que pretende abrir uma empresa e busca retorno para o capital aplicado nesta empresa. Sem os balanços financeiros, o empresário não consegue uma visão abrangente de seu negócio. Portanto sem o controle de seus indicadores, o empresário não está gerindo uma empresa, mas tocando um barco sem rumo em um mar altamente turbulento. Referências Bibliográficas ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. – 3. ed. – 2. reimpr. – São Paulo: Atlas, 2008. DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas: teoria e prática. – 2ª edição – Porto Alegre: Bookman, 2004. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira – 7ª edição – São Paulo: Harbra, 1997. HOJI, Masakazu. Administração financeira: uma abordagem prática. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2004.