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Quando eu era adolescente, possuía uma agenda gorda, recheada de adesivos, ingressos de cinema, de shows, bilhetinhos de paqueras, recadinhos de amigas e todos os comentários próprios às divagações dos pubescentes!
Um daqueles pensamentos ali registrados, nunca me saiu da memória. Dizia assim: &#8220;Sou como um passarinho: amo a liberdade! Por isso, as coisas que amo, deixo-as livres. Se voltarem, as conquistei, se não voltarem, nunca as possui!&#8221;
O advento da popularização da internet tem propiciado (re)encontros impensáveis em outros tempos! A agenda de hoje, atualizada em tempo real &#8211; para todos os contatos- se chama facebook!
Há poucos meses, me reencontrei no ciberespaço com a querida &#8220;Tia Abadia&#8221;, que havia sido minha professora na Escola Classe 209 Sul, em Brasília, no início da década de oitenta, há exatos trinta anos&#8230;
Colegas de infância, antigos alunos, antigos vizinhos, todos agora novamente conectados, partilhando alegrias e eventuais percalços cotidianos.
Há alguns meses, resolvi fazer um site para divulgar meu trabalho na área clínica, acadêmica e escolar e tive várias gratas surpresas! Tenho recebido um número significativo de ligações de ex-pacientes que haviam perdido meu contato após receberem alta clínica há sete, dez, doze anos atrás.. Com isto, várias pessoas estão retomando o processo psicoterápico para um (re)pensar de suas atuais demandas. E como ficam felizes ao perceberem que suas histórias continuam vivas em minha memória&#8230; É como uma acolhida dobrada para ambos: para mim que fico feliz em ser novamente procurada e por eles que constatam que lembro com carinho de suas histórias, mesmo que muitos anos tenham se passado.
Dia desses ligou uma mocinha com uma voz titubeante, dizendo que jogou meu nome no google e achou meu site. Contou que foi minha paciente aos oito anos e que agora, aos vinte e dois gostaria de retomar o processo. Disse, timidamente, que dificilmente eu me lembraria dela. Falou o primeiro nome e quando eu falei seu sobrenome, a timidez desapareceu e uma alegria indisfarçável foi revelada em sua voz!
Embora fique muito feliz ao receber uma nova pessoa ou mesmo uma pessoa conhecida (um ex-cliente) em nova fase de vida, nada se compara ao prazer de dar uma &#8220;alta clínica&#8221;! Engana-se quem pensa que se trata de um processo simples para o paciente. Para o terapeuta, moralmente, deve ser. Ao menos para mim que não acredito em processos excessivamente grandes em psicoterapia, funciona assim. Entre outras razões por aquilo que Calligaris explica:
&#8220;Nenhuma psicoterapia, seja ela qual for, deveria almejar a dependência do paciente. Como disse antes, na psicoterapia, o terapeuta funciona um pouco como remédio. Ora, transformar a confiança inicial numa eterna admiração e gratidão seria como substituir uma doença por uma toxicomania: você não tem mais uma pneumonia, mas tem uma necessidade visceral de tomar e venerar antibióticos. Ou ainda, seria como curar um alcoolista tornando-o heroinômano.&#8221; (Cartas a um jovem terapeuta, p.7: 2004)
A terapêutica almeja a liberdade do sujeito e não sua dependência. Mas como já pontuei, esta ruptura muitas vezes não é simples para o cliente, que pode se sentir abandonado, inseguro ou desamparado. Uma vez que esteja claro que ele sempre poderá voltar, que você sempre o acolherá se for necessário uma retomada, as finalizações ocorrem entre algumas lágrimas e tantos sorrisos.
Semana passada recebi um longo email de uma ex-paciente que me disse algo comovente. Seu intuito não era retomar o processo, mas refletir sobre o espaço terapêutico em sua história, em sua vida. Tomo a liberdade de reproduzir um trecho:
&#8220;Desde que deixei a terapia tenho vivido situações que sempre me remetem a sua voz (&#8230;)
Outras vezes, falo aos meus botões: puxa ela ia se orgulhar disso, nos meus momentos de fraqueza, resmungo: aí se a Luciana sabe disso &#8230; E quando acordo sobressaltada com os sonhos que não consigo entender. Digo, espera, como a Luciana entenderia esse sonho? (&#8230;)
Não faltaram motivos para que eu desejasse escrever ou te ligar. No início era pra dizer da sensação de vazio que havia ficado, o sentimento de orfandade &#8230; Já não havia ninguém que pudesse me ouvir e me estender a mão. Mas, de tudo que eu queria te dizer,a despeito de tantas coisas que aconteceram , o que me inquieta e que repito todos os dias em forma de sentimentos é: Obrigada .
Um dia eu conheci uma menininha (ela tinha 5 anos) que usava um sapato apertado para ir para escola. Ela nunca me contou quanto aquele sapato a machucava (muito menos sua mãe). Eu descobri sem querer&#8230; E no dia seguinte procurei a marca mais confortável do mercado e com muita alegria deu um novo par de sapatos pra ela. Quando a menina tirou os sapatos velhos reparei que seus pés estavam cheios de bolhas&#8230; Ela olhou para os pés&#8230; Olhou para mim. Olhou para os sapatos novos e de uma maneira inesperada pulou no meu pescoço e me abraçando disse: muito obrigada, obrigada mesmo, obrigada por tudo.Esse foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Na hora não entendi o por tudo. Mas depois compreendi. Obrigada nem tanto pelo sapato novo, mas por ter tirado de mim a dor que o sapato velho me fazia sentir&#8230; Depois disso dei muitos presentes pra essa menina, ela sempre me agradeceu, mas igual aquele obrigada por tudo ecoa no meu coração até hoje .
Muito obrigada. Obrigada mesmo. Obrigada por tudo.
Esses são momentos impagáveis para um profissional. Amo minha profissão. Acredito muito na psicoterapia, quando há empatia e entrega ao processo. Não acredito em dependência. Acredito que vale à pena observar e encorajar uma criança timidamente a dar seus primeiros passos, os primeiros tombos na corrida de bicicleta, as primeiras frases gaguejadas no processo de letramento. Um terapeuta que não tem tranquilidade para deixar partir, talvez esteja precisando repensar o seu fazer e sua própria vida. Finalizo com a belíssima contribuição de Anaïs Nin:&#8220;Nós não vemos as coisas como elas são, nós as vemos como nós somos.&#8221; 
Se for a hora, parta e deixe partir!
Leia outros artigos em: www.lucianacampos.psc.br

"Adeus também foi feito pra se dizer!" Refletindo sobre a alta em psicoterapia

Dizer "adeus" a um trabalho, a um relacionamento, ao processo terapêutico é sempre delicado. Contudo, vinculações e cisões são inerentes à vida. Oportuno é saber o que te prende a cada situação, lugar ou pessoa.

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"Diz a psicanálise que o projeto inconsciente do ego, o impulso que vai empurrando a gente pela vida afora, esta infelicidade e insatisfação indefinível que nos faz lutar para ver se, depois, num momento futuro, a gente volta a rir... sim, diz a psicanálise que este projeto inconsciente é a recuperação de uma experiência infantil de prazer. Redescobrir a vida como brinquedo" (Alves, 2000: p. 54)
Trabalho, entre outras faixas etárias, com adolescentes inquietos, ansiosos por desbravarem seus futuros. Os pais me procuram, invocando os tais "testes vocacionais"... Explico a caduquice do termo 'vocação', ante a imensidão de escolhas e talentos descobertos durante toda a vida, inclusive na maturidade, contrariando a ideia romântica do "dom", da predisposição inata, do gene responsável por uma escolha infalível, predestinada! A jornalista Léa Reis, ao escrever o livro "Novos Velhos" mostrou bem isso, pessoas descobrindo novas habilidades após os sessenta anos... Nada contra os testes, mas as respostas importantes estão dentro do sujeito e importa mais ajudá-lo a descobrir que entregar-lhe uma resposta que sentencie algo. Também recebo em meu consultório adultos graduados, alguns enfadados da idealizada "vocação" juvenil ou aqueles que pegaram seu canudo não se dignaram a enfrentar a prática. Isto é muito comum: médicos, dentistas, professores, advogados... pessoas que não conseguiram se afinar com seus cursos ou não conseguiram enfrentar os desafios iniciais de toda carreira e acabaram por não exercer o ofício para o qual se formaram. Há também os jovens desejosos da profissão que dê dinheiro... Lamentável equívoco... Respondo como Rubem Alves:
"Tudo bem! Só que fico com dó de você! Pois não existe coisa mais chata que trabalhar só pra ganhar dinheiro. É o mesmo que dizer que, no casamento, amar não importa. Que o que importa é se o marido - ou a mulher - é rico. Imagine-se agora nesta situação: você é casado ou casada, não gosta do marido ou da mulher, mas é obrigado a, diariamente, fazer carinho, agradar e fazer amor. Pode existir coisa mais terrível que isto? Pois é a isto que está obrigada uma pessoa casada com uma profissão sem gostar dela. A situação é mais terrível que no casamento, pois no casamento sempre existe o recurso de umas infidelidades marginais. Mas o profissional, pobrezinho, gozará do seu direito de infidelidade com que outra profissão?" (Alves, 2000: p. 38)
Acho cruel, a maneira como se organiza nosso sistema educacional, obrigando jovens muitas vezes bastante imaturos e fazerem uma escolha tão importante. Muitas vezes é preciso trabalhar mais os pais, ansiosos por influenciarem na escolha do que entendem ser o melhor para o filho, que os adolescentes em si. O que esperar da escolha profissional? Honestamente desejo que o jovem encontre o que vivencio todos os dias na minha profissão: a arte de empinar pipas, crias histórias, ajudar os que me procuram a moldar castelos imaginários utilizando cores bonitas para tal. Sim, me divirto na minha profissão. Sou grata por tê-la encontrado. Costumo dizer que acho estranho alguém pegar um catálogo de profissões e a psicologia não saltar aos olhos. Sei que é assim pois esta é profissão que amo, tal qual a namorada que pensa que seu amado é o mais especial, que todas olham para ele com o mesmo encantamento que ela. Fico feliz quando encontro outros profissionais assim, apaixonados, dedicados e envolvidos com seu fazer: "the right man/woman in the right place"! Dia desses, um sacerdote com quem trabalho, me disse que quando criança queria ser padre pois enxergava um quê de "super herói" naquele ofício: um cara que usa capa e ajuda pessoas! Acho que é bem isso: sentir-se importante em seu fazer e ter gozo em realizá-lo todos os dias. É isto que desejo ao meu filho e aos adolescentes que oriento em consultório: que (se) encontrem (em) um fazer onde haja presença da alegria, da esperança, do entusiasmo, do lúdico, sendo este realizado em um escritório, um consultório, numa sala de aula, numa academia ou em qualquer lugar para onde o seu desejo o leve. Que seu ofício o convide diariamente e obstinadamente a "converter pranto em dança" (Salmo 30, 11). Desejar felicidade aos filhos e presenteá-los com os meios para realizar esta escolha é um grande presente. Termino com um pensamento com o qual abri uma conferência na ABOP (Associação Brasileira de Orientação Profissional) há anos atrás:
 “QUEM SOU EU? É através das provações, dos encontros, do conhecimento, que nós descobrimos o que somos. O que eu posso fazer por você? Esta também é uma questão importante. O que eu posso fazer pelo mundo, tal qual ele é hoje em dia? Então, a questão por que eu vivo transforma-se na questão: para quem eu vivo? E esta é uma verdadeira questão. Para quem eu me levanto a cada manhã? (Yves Leloup:1996)
Sentido de vida! A chave para a saúde emocional, como ensinou-nos Viktor Frankl! O reencontro com o prazer, com a felicidade e a ludicidade infantil na labuta diária é sem dúvida, a conexão mais honesta do ser humano consigo próprio e com o que lhe transcende!

Somos crianças em nossas carreiras?

"Sabe esses dias em que horas dizem nada?
(...)um dia a monotonia tomou conta de mim: é o tédio
cortando meus programas, esperando meu fim..." (Biquini Cavadão)
Como assim alguém ousa desejar o tédio a alguém em um ano que se descortina? Culturalmente, um novo ano traz consigo a promessa de novas possibilidades e conquistas, haja vista os muitos rituais de réveillon<a href="#_ftn1">[1]</a>: pular ondinhas, lançar flores ao mar e escrever ou pronunciar promessas a si ou a outros sobre as novas metas que serão alcançadas na etapa que se inicia.
Ano Novo rima com vigor e não com tédio. No entanto peço que me permita evidenciar as razões deste inusitado desejo.
Há alguns meses congratulei um conhecido que havia concluído um investimento intelectual pessoal que durou quatro anos. Uns dois meses após este feito, o indaguei acerca de como se sentia. Imaginava que fosse afirmar-se aliviado, leve, realizado ou algo do gênero. Para minha grande surpresa, ele me disse que sentia um vazio tedioso. A grandiosidade do que perseguia, o havia exaurido, mas ao mesmo tempo, o alimentava para findar a empreitada.
Perceba, há uma sutil diferença entre tédio e apatia. O primeiro refere-se à falta de vontade para fazer algo. Já o tédio é o contrário: a vontade frustrada de buscar satisfação através de uma ação. Neste sentido, o tédio pode encorajar a criatividade. A insatisfação com sua situação atual, pode lhe obrigar a trilhar novos caminhos.
Horta (2013) demonstra como o cérebro das pessoas criativas funciona de modo diferenciado. Os criativos, são entediados crônicos, vejamos:
"Segundo um estudo da universidade de Vanderbilt, nos EUA, pessoas mais propensas à busca de novidades têm menos receptores de dopamina - o neurotransmissor que alimenta o sistema de recompensa do cérebro. Esse sistema serve para dar um reforço positivo a estímulos que causem prazer, tais como comida, sexo e relaxamento. Quando encontramos esse estímulo, um neurotransmissor chamado dopamina é logo recaptada. Quando os níveis ficam baixos, surge o tédio. A cabeça começa a pesar mais até precisar apoiar o queixo na palma da mão. As sobrancelhas se arqueiam, o olhar se volta para o alto. Até que, finalmente, o entediado vai procurar algumas recompensas - ou seja, fontes de estímulo para elevar seus níveis de dopamina."(p.45)
O tédio pode conduzir o sujeito a cansar-se com facilidade daquilo que lhe trouxe grande satisfação em tempo recente. Como não lembrar da mente inquieta do poeta Vinícius de Moraes, que em sua escassez de dopamina, casou-se 8 vezes? Em um documentário sobre sua vida, Maria Betânia conta que o encontrou certa ocasião na fossa, em uma mesa de bar, em virtude de uma desilusão amorosa. Naquele momento ela estava com uma amiga, a qual apresentou ao desconsolado poeta. Instantaneamente a desilusão transformou-se em uma paixão e o novo casamento foi realizado em algumas semanas. Sim, eu sei...Vinícius foi tão intenso que chegou a ser caricato em algumas circunstâncias. Contudo, os gênios são excêntricos e dão conta de sua inquietude das mais diferentes formas. Obviamente, há várias formas de lidar com o tédio, das mais destrutivas, às mais inteligentes.
Para os criativos, a zona de conforto das conquistas, rapidamente torna-se obsoleta, produzindo o tédio. Deste modo, o tédio pode mover o indivíduo à ação e portanto pode ser o prelúdio da criatividade.
Mas suponho, que de toda esta questão já entendia Drummond, ainda que nas entrelinhas, quando nos presenteou com o seguinte carinho na alma:
"Gostaria de desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes. E que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade".
Que em 2015:
- Seu sofá não pareça tão confortável que te desestimule de caminhar ao pôr do sol,
- Que sua relação com quem lhe é querido, não pareça tão estável, que não te leve à necessidade de surpreendê-los com carinhos fortuitos,
- Que seu cabelo não pareça tão perfeito que não te leve a fazer um corte radical,
- Que seu trabalho não pareça tão seguro que não te impulsione a ousar,
- Que o tédio te empurre para a ação e crie uma ânsia bendita pelo renovo permanente. Que a cada dia se renove de sede a sua vida!
Feliz Ano Novo!!!
<div><hr /><div>
<a href="#_ftnref1">[1]</a> Réveillon vem do francês réveiller, que significa "despertar".
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Um 2015 com pitadas de tédio para você

Certa vez, uma conhecida, diretora de uma empresa, ligou para pedir informações sobre um psicólogo amigo meu que pensava em contratar para realizar uma palestra de formação para seus funcionários.
Fiquei curiosa: "Como sabe que sou amiga do psicólogo X?", indaguei. De um modo muito natural respondeu-me que foi ao site do conferencista e viu que já dei um curso em sua clínica. Confirmei a informação e a competência do profissional em questão e a conversa encerrou-se.
Algum tempo depois, encontrei a empresária e perguntei pela formação e sobre o desempenho do profissional que referendei. Ela disse que optou por não contratá-lo apesar das boas recomendações que eu fizera a respeito. Segundo ela, através do meu facebook, acessou o candidato e encontrou fotos em seu perfil que lhe desagradaram. Optou assim, por chamar outra pessoa para a missão.
Certamente a pessoa foi tão direta para contar-me sobre as ferramentas que utilizou para sua escolha por termos uma certa proximidade. De maneira geral, este tipo de pesquisa não é elencada como critério de seleção, bem como a pesquisa ao SPC SERASA, mas sabemos que informalmente funciona assim. As empresas costumam preocupar-se com a conduta pessoal de quem está contratando.
Esta história é apenas um singelo exemplo do quanto todos nós estamos expostos, de modo consciente ou não, para além dos nossos amigos adicionados voluntariamente.
Isso afeta o mundo do trabalho? Claro que sim! Conversando um pouco mais com a diretora da empresa, descobri que todo candidato à contratação em sua empresa de médio porte passa por uma espécie de "pente fino virtual" que ela mesma faz questão de fazer.
Falamos com frequência em Gestão de Carreira e ignoramos que algumas empresas estão conectadas com a "Gestão de Reputação". Seu currículo pode incluir Harvard, mas além disso e das eventuais cartas de recomendação, sua vida pessoal poderá ser objeto de observação e talvez critério de exclusão.
Citarei um exemplo fictício. Dr. Felipe é um médico responsável pela gestão do hospital Bom Jesus Operário -HBJO, situado em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele está a procura de um profissional de boa formação e com alguma experiência para dirigir o setor de Recursos Humanos. Chegaram dezessete currículos ao hospital. Como a formação sólida e uma boa experiência eram requisitos de base para concorrerem ao cargo, sua secretária selecionou quatro currículos de candidatos que se enquadravam no cargo e atribuições.
Dr. Felipe é uma pessoa muito ocupada e muito objetiva. Não tem muito tempo para gastar com longas entrevistas. Quer se dedicar a ocupar-se com algum candidato que efetivamente possa enquadrar-se no que espera para a empresa. Dr. Felipe resolveu fazer uma pesquisa dos quatro candidatos nas redes sociais e sites de busca. Vide o que encontrou:
a) Candidata 1: Com apenas trinta e dois anos, foi a candidata com melhor currículo e experiência. Além da densa formação acadêmica,um MBA em uma importante universidade, já teve experiência em duas grandes empresas em Recursos Humanos.Parecia perfeita. Na página de abertura do seu facebook, aparecia de biquini com dois rapazes. Em uma mão segurava uma cerveja e na outra um cigarro. A formalidade do Dr. Felipe e da instituição fizeram prontamente a candidata ser descartada mesmo antes da entrevista.
b) Candidato 2: O currículo era aceitável. Não era brilhante, mas estava dentro da formação desejada e o candidato já havia trabalhado na área. Dr. Felipe não conseguiu encontrar nenhuma informação acerca do candidato nas redes sociais. No site de busca descobriu que ele é membro voluntário de uma entidade voltada para ajuda de pessoas acometidas por esclerose múltipla. Pensou em algumas razões que poderiam se relacionar com isso, mas resolveu guardar esta questão para ser investigada posteriormente.
c) Candidato 3: O currículo era ótimo. O candidato possuía quarenta e três anos e sua aparência na foto do currículo agradou Dr. Felipe: Terno e gravata, cabelos cuidadosamente penteados e um óculos que conferia um grau de seriedade ao candidato. Haviam algumas referências secundárias no site de busca e um vídeo no You Tube. Tratava-se de uma reunião religiosa onde o candidato era conferencista e Dr. Felipe percebeu a radicalidade de suas posições, que se chocavam com a empresa, um hospital católico. Candidato descartado.
d) Candidato 4: O currículo era mediano e a carta de recomendação era de um amigo dos tempos da faculdade do Dr. Felipe. O que foi obtido nas redes sociais e sites de busca não tinham relevância para desqualificar o candidato.
Apenas os candidatos 2 e 4 foram selecionados para a entrevista.
Os exemplos utilizados tiveram apenas valor ilustrativo. Não pretendo com eles sugerir ao leitor uma reclusão virtual. Ao contrário, esta também poderia ser prejudicial ao trabalho.
O importante é que o bom senso esteja presente na hora de partilhar informações pessoais na rede. Fotos de cunho mais pessoal, ou devem ser omitidas ou protegidas em álbuns com acesso restrito a pessoas mais íntimas. No fim, tudo se resume ao bom senso, como ensina Esopo:"É mais fácil entrar em um problema do que sair dele; o bom senso recomenda procurar uma saída antes de entrar".
 
Leia mais artigos em meu site: www.lucianacampos.psc.br

"Adeus também foi feito pra se dizer!" Refletindo sobre a alta em psicoterapia

Luciana Campos

Da crise ao faturamento: como essa empresa de mineração se transformou, com Christian Hluchan

Da crise ao faturamento: como essa empresa de mineração se transformou, com Christian Hluchan

Sobre o autor

Luciana Campos

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