DOMINIO PESSOAL x DOMÍNIO PRÓPRIO Milton Santos Independentemente de crermos ou não em vida futura, pós-morte, todos nós invariavelmente concluímos que a vida é bastante finita. Por mais que vivamos, sempre será pouco. Sempre acharemos que poderíamos viver mais tempo e provavelmente melhor. O que dizer da vida corporativa? Certamente mais finita ainda. O que fazer ou como agir para vivê-la da melhor forma possível? Agregando valor a nossa própria vida e à vida de todos aqueles que nos rodeiam ou que estão sob nossa área de influência? Duas coisas podem ajudar muito nessa busca: uma chama-se Domínio Pessoal, a outra Domínio Próprio. Será que existem esses dois tipos ou formas de domínio? E se existem, qual a diferença entre um e outro? Encontramos na literatura inúmeros materiais sobre Domínio Pessoal, raro, entretanto, encontrarmos material sobre Domínio Próprio. Sim, precisamos exercer o Domínio Pessoal. Sem esquecer, porém, o Domínio Próprio. O domínio em si, pode ser entendido como o exercício do poder e da autoridade. Seja como for, enquanto o Domínio Pessoal merece estudos e destaque, o Domínio Próprio parece algo esquecido, algo distante do mundo corporativo, ou não valorizado especialmente por aqueles que estão em posição de comando e liderança. I – Domínio Pessoal Especificamente, Domínio Pessoal, pode ser entendido como uma das várias competências que podemos ter ou considerá-lo como uma disciplina, segundo o entendimento de Peter Senge. Peter Senge ensina que 'o domínio pessoal é a disciplina de continuamente esclarecer a aprofundar nossa visão pessoal, de concentrar nossas energias, de desenvolver paciência e de ver a realidade objetivamente' e se surpreende 'como poucos adultos trabalham no sentido de desenvolver rigorosamente seu próprio domínio pessoal.' (1) Já para Fernando Viana, 'encarar a vida como um trabalho criativo, vivê-la da perspectiva criativa, ou seja, com a finalidade de aprender a gerar e a sustentar a tensão criativa – é a isso que chamamos 'domínio pessoal'. O que é realmente importante para nós? Como ver a realidade atual com mais clareza? Fernando Viana esclarece ainda 'a tensão criativa é justamente a justaposição da visão (o que queremos, o nosso objetivo maior de vida) e uma imagem nítida da realidade atual (onde estamos em relação ao que queremos). Assim sendo, a tensão criativa é a força, a energia de que precisamos gastar com a finalidade de unir a nossa visão com a realidade desejada. Define, portanto, da seguinte forma,' poderemos afirmar que o domínio pessoal é a essência do aprender a gerar e a sustentar a tensão criativa em nossas vidas. Todavia, aprender, nesse caso, não significa adquirir mais informações, mas sim expandir a capacidade de produzir os resultados que realmente queremos da vida. ' Das lições de Fernando Viana, depreendemos que o Domínio Pessoal, produz um senso de propósito que nos faz ver com clareza nossas visões e metas, que por sua vez mostra a realidade atual que deve ser vista sempre como aliada e não como inimiga. Assim aprendemos a trabalhar com as forças da mudança em vez de resistir a elas. Algo que instiga a nossa percepção é que o Domínio Pessoal não é algo que se possua, mas um processo, tornando-se disciplina da vida inteira. Assim, quanto mais Domínio Pessoal, mas as pessoas são conscientes da sua ignorância, da sua incompetência e dos seus pontos que precisam ser melhorados. No entanto, são pessoas com elevado grau de autoconfiança, o que apesar de paradoxal é uma realidade. (2) Acreditamos que o desenvolvimento do domínio pessoal, passa necessariamente pelo conhecimento de nós mesmos, de nossas competências, da situação singular que vivemos em nossa corporação e em nosso ambiente. Passa ainda pelo conhecimento do mundo ao nosso redor, das pessoas que também são a razão de ser da nossa corporação e daquelas que de alguma forma interagem conosco no nosso dia-a-dia. Através desse conhecimento pleno, descobrimos nossos pontos fortes e nossas limitações e vamos trabalhar a melhoria destes sem esquecer-se de continuar aprimorando aqueles. II – Domínio Próprio Com relação ao Domínio Próprio, entendemos como melhor definição o exercício do poder e da autoridade sobre nós mesmos. Inúmeras situações conflituosas e aflitivas poderiam ser evitadas se sua prática fosse exercida. Dominar os outros é fácil! Subjugar os outros também é fácil! Ainda mais quando os 'outros' estão em posição inferior a nossa na estrutura hierárquica corporativa. A grande dificuldade, sem dúvida, é dominar a nós mesmos. Aos nossos impulsos de só decidir como queremos, de agir como queremos e de falar o que queremos e como queremos. Sem nos importarmos com as conseqüências e sem nenhuma preocupação com o impacto dos nossos atos e palavras na vida daqueles que estão sob o raio de influência. Como é fácil nos escondermos sob o manto chamado 'poder'! E sob esse manto agirmos ao nosso bel prazer. O historiador Jonh Dalberg-Acton se expressou da seguinte forma: 'O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente'. Vimos outra versão deste pensamento que diz: 'o poder corrompe e quanto mais poder mais corrupção'. Na prática, nada mais verdadeiro. Interessante percebermos que no início da Igreja Cristã, já havia uma preocupação clara com este aspecto ou competência. O domínio próprio está inserido entre as virtudes cristãs, elencadas por Paulo, o apóstolo. Quando relaciona as qualidades de um cristão, Paulo inclui o domínio próprio (Tito 1:8), junto com hospitalidade, benignidade, sobriedade, justiça e piedade. Pedro, o apóstolo, segue na mesma trilha, colocando como uma das virtudes a ser buscada pelo cristão, ao lado do conhecimento, da perseverança e da piedade. (2Pedro 1.6). Evidentemente, que trazemos à discussão aspectos da teologia, muito mais com o intuito de analisar uma preocupação que se arrasta ao longo da história, do que com intuito proselitista, o que não é o caso. Verificamos que Domínio Próprio é algo bastante problemática para nossa geração, acostumada à idéia de que a felicidade decorre do desprezo à idéia de disciplina e autocontrole. Colocando esta escolha em outros termos, podemos dizer que, para boa parte das pessoas, se a escolha for entre felicidade e autocontrole, talvez ouçamos alguém se dizer cansado de autocontrole e que agora pretende viver a vida com toda a sua adrenalina. Prevalece a idéia que autocontrole e alegria são incompatíveis. Podemos entender melhor o que é domínio próprio pensando no seu oposto. Quem tem domínio próprio se autodomina. Quem não tem é dominado por algo ou por alguém. Quem tem domínio não permite que sentimentos e desejos o controlem; antes, controla-os, não se permitindo dominar por atitudes, costumes e paixões. Acatando a definição de Israel Belo de Azevedo, Doutor em filosofia, podemos dizer que: 'Domínio próprio, portanto, é a capacidade efetiva que o ser humano tem de controlar seu corpo e sua mente. Esta competência, no entanto, nem sempre se realiza quando se trata de homem dominar a si mesmo. Esta percepção não pode ser um convite à passividade, mas um desafio a nos conhecermos mais e a nos esforçarmos mais'. Ainda tratando do assunto, o Dr. Israel Belo de Azevedo traz informações importantes sobre formas de exercermos o domínio próprio. Somos convidados a ter domínio sobre nossos sentimentos, sobre nossos desejos e sobre as circunstâncias que nos envolvem. 1. Dominando nossos sentimentos Somos movidos pelos nossos sentimentos. Ter domínio próprio é fazer com que os sentimentos bons sejam fortalecidos e canalizados para que possam ser aperfeiçoados. Quando temos domínio sobre o sentimento do amor, fazemos com que ele se torne operativo. Quando ao ódio, bem, simplesmente não devemos odiar e poderíamos encerrar a discussão aqui. No entanto, somos também capazes de odiar; este é um gigante da alma, como o descreveu um antigo psicólogo (Emílio Mira y Lopez). O ódio é, portanto, um sentimento a ser controlado ou ele nos dominará e nos levará a fazer o que não queremos. A ambição é um sentimento que também deve ser controlado. Não devemos ser acomodados; antes, devemos querer o máximo para nós. A ambição destrói quando não vê métodos e se baseia na comparação com o que os outros são ou alcançaram. Controle a sua ambição e ela não controlará você. A vaidade é um sentimento que também deve ser controlado. Não devemos achar que nada valemos e que os outros são melhores ou fazem as coisas melhores que nós. Nem sempre… A vaidade mata quando nos leva a nos achar onipotentes e oniscientes, acima da média humana. Controle a sua vaidade e ela não o controlará. 2. Dominando nossos desejos Se os nossos sentimentos nos definem, nossos desejos nos constituem. Nós somos aquilo que desejamos. Desejamos coisas legítimas e coisas ilegítimas. Nem todos os nossos desejos são ruins ou perniciosos. Sejam quais forem, no entanto, se eles nos controlarem, passam a ser perniciosos. Comer chocolate não é ruim. Se, no entanto, não posso comê-lo e não consigo não comê-lo, comê-lo é pernicioso. Ver televisão não é ruim. Se, no entanto, eu deixo de fazer o que preciso fazer (seja ler, trabalhar, conversar) para ficar diante dela, ela me controlou. Desejamos coisas realmente necessárias e coisas suavemente impostas. Já não sabemos a diferença em coisas básicas e coisas supérfluas. De qualquer modo, no entanto, podemos dizer que grande parte de nossas necessidades simplesmente não existe. É parte da máquina do mundo, que nos torna primeiramente consumidores e depois cidadãos (se é que chegamos a sê-los). Ter domínio próprio é controlar os próprios vícios, não os vícios dos outros, que este já é outro vício… 3. Dominando-nos diante das circunstâncias Além dos sentimentos e desejos, que nós podemos controlar, em grau maior ou menor, há as circunstâncias, aquelas situações que não criamos, mas que nos atingem. Quando nos enredam, elas provocam desânimo. Diante delas, podemos perder o autocontrole, partindo para reações inadequadas, seja de desespero, seja com violência. Nossa reação mostra que, na verdade, estamos sendo controlados por elas. Adaptar-se não é aceitar conformisticamente as adversidades, mas saber que elas existem, mudá-las logo, mudá-las quando for possível e viver apesar delas. 4. Para ter domínio próprio Há certas ocasiões que, antes de perceber o que está fazendo, você perde o controle, e passa ser vítima do seu descontrole, velada ou violentamente. 1. Conheça-se e use o conhecimento a seu respeito a seu próprio favor. Tendemos a não perceber como somos, mas devemos nos esforçar para tal. Se você, no trânsito, é um pé de chumbo, vigie seu comportamento, para que controle o seu ímpeto de sair em disparada. A velocidade não é mais importante que você. Se você se ira com facilidade, evite as situações que provocam a sua raiva. Desenvolva métodos para que a irritação fique em níveis aceitáveis. Use o que você sabe a seu próprio respeito para se dominar melhor. 2. Aprenda a tomar atitudes diferentes das que toma hoje. Faça com que seus sentimentos e desejos não redundem sempre nos mesmos atos. Você nasceu assim, mas não precisa morrer assim. Abra-se para o diferente. Faça o que nunca fez antes. 3. Valorize a disciplina, ponha objetivos na vida e se empenhe para alcançá-los. O autocontrole é o resultado da disciplina e do esforço próprio. (3). Conclusão Estamos diante de duas competências extremamente importantes e úteis, que se devidamente valorizadas nos farão crescer no aprendizado, nos inter relacionamentos, na vida profissional, acadêmica e pessoal. Por Milton Santos (Administrador e pós-graduando em Gestão Estratégica de Negócios na Faculdade Adventista de Administração – Bahia) – e-mail: miltonsantos@oi.com.br. Bibliogafia (1) Senge, Peter M., A Quinta Disciplina: Arte e Prática da Organização que Aprende, Best Célio, 2008, pg. 41. (2) Viana, Fernando, www.infonet.com.br (3) Azevedo, Israel Belo de, Doutor em filosofia, dirige o Programa de Pós-Graduação em Teologia (Mestrado e Doutorado) do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio de Janeiro). Bíblia world net / mensagens pastorais.