Gestão de pessoas na propriedade leiteira Danielle Ribeiro – Médica Veterinária, Doutora em Produção Animal, Graduanda em Administração – Faculdade de Tecnologia e Ciências dmmra@oi.com.br Gestão de pessoas é um tema bastante abordado em empresas que possuem inclusive, dependendo de seu porte, um Setor de Gestão de Pessoas. Infelizmente, as propriedades leiteiras, em sua grande maioria, ainda não são encaradas por seus donos e técnicos (quando estes últimos existem), como uma empresa. Esta visão antiquada traz muitos problemas para a produtividade dos animais na propriedade, pois o funcionário (“peão” ou “vaqueiro”) pode fazer o seu empregador entrar ou sair do vermelho, na medida em que se empenha ou não na atividade encarregada de realizar. Em rebanhos leiteiros, o produtor preocupa-se em primeiro lugar com o animal, pois já conseguiu perceber que o animal que produz leite – o produto que irá entrar na cadeia produtiva, deve receber todo o cuidado, dentro dos padrões de bem-estar animal, ou o deixará no prejuízo. Daí a procura constante, muitas vezes incansável, por novas técnicas de manejo alimentar, reprodutivo e sanitário e, mais recentemente, por técnicas que levem ao conforto do animal. No entanto, poucos produtores conseguem visualizar que o animal que produz bem, deixando a genética à parte, é aquele que é bem tratado. E o animal é tratado por alguém: o funcionário. Então o animal está à mercê do “humor” de seu tratador e, em última instância, o produtor está à mercê do seu próprio funcionário. Quem não já ouviu falar na queda de produção de leite na segunda-feira ou após um feriado? Neste sentido, gostaríamos de chamar atenção para alguns fatores que podem estimular o funcionário a se envolver mais com seu trabalho e assim, agir no sentido de ocasionar melhorias em toda a propriedade e aumentar o lucro do produtor. Em primeiro lugar, precisamos fazer uma diferença entre motivar e estimular (este último, atentem, foi o que utilizei acima). Ninguém motiva ninguém – a motivação é um fator intrínseco à pessoa, ou seja, vem de dentro de cada um. Podemos sim, estimular a pessoa e fazer com que esta, que já é minimamente motivada para uma atividade, desempenhe essa atividade com mais prazer. Esclarecido este ponto, podemos então destacar os fatores que estimulam o funcionário de uma propriedade rural a trabalhar melhor. São eles: Tratar o funcionário com respeito e ética. Nada de utilizar termos de baixo calão, desrespeitar a família do funcionário, explorar a mão-de-obra de seus filhos menores (que devem ser estimulados sim, a freqüentar a escola). Assegurar os “direitos” do funcionário. Com isso queremos dizer pagar salário justo e assinar a carteira de trabalho. Lembre-se que o funcionário rural é considerado um segurado especial pela Previdência Social e que estes “direitos” nada mais são que obrigações do empregador. Dar condições de trabalho ao funcionário. Aqui podemos destacar o fornecimento de equipamento de proteção individual (os famosos EPIs), como por exemplo, botas, macacão, chapéu (em preferência ao boné, que não cobre todo o rosto), protetor solar em áreas muito ensolaradas e, também, até como forma de demonstrar apreço pelo bem-estar do funcionário, repelente contra insetos. Utilizar currais adequados ao manejo dos animais também deve ser considerado como melhoria nas condições de trabalho do funcionário em uma propriedade leiteira, já que facilita o manejo dos animais diminuindo o estresse destes e, também, de quem está lidando com eles. Valorizar o conhecimento do funcionário. Muitas vezes, o produtor contrata um empregado que já está na atividade leiteira há muitos anos e nem mesmo escuta o que o ele tem a passar de experiência. Mesmo que o que o funcionário tenha a dizer não seja o manejo correto ou o utilizado naquela propriedade, merece ser ouvido, e demonstra, no mínimo, sobre o que precisa de capacitação. Capacitar o funcionário para a atividade. Estimular a participação do mesmo em cursos e palestras oferecidos por órgãos como o Emater, Senar, Universidades. O produtor não deve repetir o que comumente se escuta até mesmo de grandes empresários: – Ah! Foi só ele aprender alguma coisa e foi-se embora trabalhar para meu concorrente…, ou – Quando ele aprender, vai abrir sua própria “vacaria”. O produtor deve estar ciente que o funcionário só deixará a propriedade se nela não estiver se sentindo valorizado. E, pensando bem, se ele montar seu próprio negócio, o produtor-patrão perde, a princípio, mas contribui para o fortalecimento do Setor Leiteiro na sua região. Estimular o acompanhamento das atividades do técnico. Muitas vezes um técnico é chamado à propriedade, como o veterinário, por exemplo. No entanto, infelizmente, em muitas propriedades quando o técnico chega, é atendido e acompanhado pelo dono e não pelo tratador dos animais – o que é ruim para o veterinário, pois em geral, quem acompanha diariamente os animais é o funcionário e não o dono; para os animais, que poderão não ter o atendimento correto; para o dono, visto que a visita do técnico poderá não surtir o resultado ideal e, também para o funcionário, que se sentirá excluído do processo produtivo da propriedade. Caso ele acompanhe o técnico, sempre estará aprendendo coisas novas e se sentirá valorizado por poder conversar com o “doutor”. Bonificar o funcionário, de acordo com a melhoria na atividade que realiza. Com certeza, sabendo que poderá merecer ou não uma bonificação ele trabalhará mais empenhado, esperando elevar sua renda a partir de seus próprios esforços. Considerando que existem diversas atividades na propriedade, cabe ao produtor pensar bastante sobre quais serão as “regras” da bonificação para cada funcionário – seja o que trabalha com a pastagem, com a ordenha, com a inseminação artificial… Apesar dos fatores citados, que devem ser utilizados para estimular o funcionário, é imprescindível que o produtor avalie quem está contratando para lidar com seus animais para perceber se este tem dentro de si a “motivação” para trabalhar com bovinos leiteiros – todos sabemos como uma vaca leiteira é “sensível”… Desta forma, só deve trabalhar com bovinos leiteiros quem tem essa motivação, pois o trabalho é rotineiro, muitas vezes pesado, sem feriado ou dia santo (se não puder ser feito escalonamento de trabalho), faça chuva ou sol… E, só para ressaltar, assim como o funcionário deve corresponder às expectativas do patrão, o patrão deve corresponder às expectativas do funcionário, já que a produção de leite em uma propriedade rural é um grande trabalho em equipe: do dono, dos funcionários, dos técnicos e, por que não…, dos animais.