INDICADORES DE PERFORMANCE ORGANIZACIONAIS RELATIVOS A PESSOAS Daniela Mesquita Santos * Gilmar Dias de Carvalho ** RESUMO Assim como nos esportes, também no mundo corporativo é crescente a busca por uma alta performance, propondo um desafio maior aos Gestores de Pessoas e profissionais de Recursos Humanos. Fundamentado no pensamento de referendadas personalidades do tema no Brasil e no mundo, o presente artigo levará o leitor à reflexão sobre o quão importante é gerar indicadores para a tomada de decisões e incorporação da meritocracia na cultura organizacional, visando à transformação do RH em um parceiro do negócio. PALAVRAS-CHAVE: Performance, competência, sustentabilidade, retorno, pessoas ABSTRACT: Just as in sports, also in the corporate world is increasing the search for a high performance, offering a greater challenge to the management of People and Human Resources professionals. Based on the thought of people supported the issue in Brazil and abroad, this article takes the reader to reflect on how important is to generate indicators for decision making and incorporation of meritocracy in organizational culture to transform HR into a business partner KEYWORDS: Performance, power, sustainability, return, people. __________________________ * Gerente – Hotel Del Canto Psicóloga – Universidade Tiradentes Especialista em Teoria e Técnica Psicanalítica – FASE E-mail: danielamesquitapsi@gmail.com ** Analista de Recursos Humanos Sr. – Construtora Norcon Administrador de empresas – Universidade Tiradentes E-mail: gilmar_adm@hotmail.com INTRODUÇÃO Planejar um eficiente modelo de gestão de recursos humanos alinhado à estratégia do negócio tem sido o objetivo das organizações. No entanto, muito se questiona quanto à estratégia da área e suas contribuições para o negócio. Neste contexto, como mensurar e justificar a própria existência e o orçamento da área? A dificuldade da área em responder a questões como esta justificou a pesquisa bibliográfica onde o presente artigo, intitulado Indicadores de Performance Organizacionais relativos a Pessoas, baseado na experiência de especialistas em avaliação de performance, tem como objetivo trazer a tona, numa abordagem prática, uma alternativa para monitorar, de forma sistemática e científica, todos os processos da área e mensurar a eficácia dos Recursos Humanos – RH. Respostas a questões quanto ao absenteísmo, rotatividade, satisfação, higiene e segurança no trabalho, retorno dos investimentos em recrutamento, seleção e desenvolvimento serão obtidas. Para Becker (2001), a maioria das empresas não consegue avaliar de que maneira a arquitetura de RH contribui para a excelência da companhia, em razão da visão bem desenvolvida dos valores estratégicos nos limites do próprio departamento. Não são poucos os CEO´s e gerentes de linha céticos ao papel estratégico do RH ou que reconhecem as pessoas como seus recursos mais importantes. Estes, muitas vezes, não conseguem criar a arquitetura de RH para convergir esta visão em realidade. Por muito tempo, o papel do gestor de recursos humanos foi gerenciar benefícios, folhas de pagamento, recrutamento e seleção. A mentalidade era avaliar o resultado das pessoas e como isso se refletia no desempenho da companhia. Para Chiavenato (2008), a aldeia global dos tempos modernos tornou o ambiente empresarial mutável, dinâmico, imprevisível e turbulento. Neste cenário, o modelo clássico de RH, burocrático, rígido, inflexível, com o objetivo de impor a ordem, orientação, disciplina, status quo, não mais atende as demandas do negócio, nem consegue ajustar e impulsionar a empresa, atuando como uma espécie de 'camisa-de-força' que bloqueia a empresa no acompanhamento das mudanças ambientais. Ainda como preconiza Becker, se o objetivo é sair acompanhando a concorrência, pode-se continuar 'sentado' com esta mentalidade, porém para companhias que querem 'largar à frente' é preciso redesenhar a arquitetura do RH e absorver seu novo papel. Neste contexto, a terceirização de suas antigas funções é uma alternativa. A arquitetura de RH estratégico precisa quebrar paradigmas, focar suas ações não mais no operacional e garantir sua sobrevivência através da sua influência na sustentabilidade do negócio, passando de coadjuvante a melhor ator no planejamento estratégico da empresa. Para firmar-se em seu novo papel, assim como a área financeira, o RH precisa sentar-se à mesa de negócios com o balanço de performance da companhia, destacando os ativos intangíveis e seu potencial para produzir benefícios tangíveis. Criar um sistema e métricas para o RH chegar a este nível de desempenho não é tarefa fácil. Se fosse, já seria uma prática na maioria das empresas. Cabe as pessoas o enfrentamento deste desafio, pois a inovação só ocorre com o trabalho conjunto. Quanto vale a cultura de uma empresa? Este é o posicionamento de Kaplan e Norton (2004), também defensores das medições dos ativos intangíveis, mediante componentes do Balanced Scorecard, que descreveram o mapa estratégico abaixo com o princípio de que 'o que não se pode medir não se pode administrar'. O mapa estratégico serve de base para o sistema de medição e gestão estratégica da empresa sobre quatro perspectivas: Figura 01: Exemplo de montagem do mapa estratégico do BSC. Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2004) apud Chiavenato (2008, p. 281). TOMANDO DECISÃO A evolução organizacional repensa, a todo o momento, as suas necessidades. Entretanto, a mudança precisa estar sustentada em dados e medições que confira aos seus dirigentes melhores ações, novas estratégias com o propósito de melhorar as estatísticas. Isto porque, o gerenciamento dos indicadores exerce forte impacto no processo decisório da organização. A gestão por indicadores permitirá aos colaboradores e à alta administração conhecer os resultados gerados por suas ações, revelando o status atual, as ações necessárias e possibilitando, ao responsável pelo processo, avaliar como se está saindo e integrar o processo com os diversos níveis organizacionais. Costa (2006) defende a avaliação de desempenho para estimular o aprendizado e ajustes na relação de causas e efeitos e não para reduzir os recursos financeiros destinados a uma atividade que não conseguiu alcançar os resultados esperados. Este tipo de medida fará com que as pessoas se retraiam e passem apenas a obedecer às ordens, perdendo o foco com o resultado final. Para gerenciar um resultado não desejado recomendam-se estabelecer punições administrativas como perdas de alguns privilégios, autonomia e incentivo. Para alcançar as metas desejadas é necessário equilibrar o conjunto de indicadores de forma que as pessoas se sintam motivadas a perseguirem as metas e alinharem suas tarefas com o objetivo da área de RH. Entre estimular a produtividade e gerenciar indicadores, existe uma grande diferença, alerta Costa (2006), pois se corre o sério risco de não se estimular as pessoas a focarem suas ações a agregar em valor à organização, focando apenas a produção de índices, pois há uma tendência em se concentrar os esforços em tarefas criticadas pelo sistema de medição. A gestão por indicadores não traz novos conceitos contábeis, ela apenas chama a atenção para pontos não mensurados pela controladoria, disponibilizando ao gestor um painel de controle que potencializa a melhor utilização do seu talento com foco na estratégia e nos resultados alcançados, tão necessários nos tempos modernos e competitivos. IDENTIFICAÇÃO DO SISTEMA A SER MEDIDO Pomi (2002) defende que é preciso criar avaliações sobre o quanto se produz, com que qualidade, em quanto tempo e a que custo. A gestão estratégica não se caracteriza sem indicadores, ou seja, sem o conhecimento mínimo dos resultados alcançados pelas práticas e políticas implementadas na organização. A autora defende que é preciso questionar sobre a real contribuição humana, conhecer e medir o próprio desempenho, comparar seus resultados e propor melhorias que garantam melhores resultados. Assim surge a necessidade de desenhar e implementar um bom sistema de avaliações, também conhecido como auditoria de RH, que permita medir custos e benefícios dos processos de RH e comparar seus resultados com o desempenho passado, com o desempenho de outras unidades de negócio e, até mesmo, com outras organizações. A figura 02 aponta algumas categorias e indicadores sugeridos por Pomi (2002, p. 74) e adaptados abaixo: Figura 2: Categorias e indicadores em gestão do capital humano. Fonte: Adaptado de Pomi (2002, p. 74). Outros indicadores: Carga horária teórica de produção Total de horas de produção real Total de horas perdidas Total de horas extras per capita Concentração de horas extras por centro de custo 'Dobra de férias' Multas administrativas por infração à legislação trabalhista e previdenciária Concentração de abono pecuniário Avaliação de desempenho Remuneração por resultado Concentração de acidentes por ato inseguro (aquele motivado pelo trabalhador) Concentração de acidentes por uma condição insegura (aquele provocado ambiente de trabalho inseguro) O uso de indicadores nas organizações visa a dar maior visibilidade em como a empresa organiza e movimenta seus recursos. É comum ouvir-se falar de indicadores financeiros, econômicos, demográficos, dentre outros. A utilização de indicadores na gestão de Recursos Humanos vem crescendo cada vez mais à medida que a área de RH aumenta sua atuação nas estratégias de negócios onde está inserida. Dentre os indicadores citados na figura 1 (acima), os mais utilizados, atualmente, nas organizações são: absenteísmo e Turnover. INDICADORES DEMOGRÁFICOS Gerar indicadores demográficos é compreender o potencial da força de trabalho da organização, ou seja, mensurar a quantidade de empregados, distribuição por horário de trabalho, distribuição por sazonalidade, dias e horários de pico, proporção por sexo, proporção de terceirizados, proporção por estagiários, índices de ausência e rotatividade. Absenteísmo Conforme a Sub-Comissão de Absenteísmo da Associação Internacional de Medicina do Trabalho, o absenteísmo é 'a ausência dos trabalhadores ao trabalho, naquelas ocasiões em que seria de esperar a sua presença, por razões de ordem médica ou quaisquer outras' (TENÓRIO e JORDANO, 1979, p.21-26). A palavra 'Absenteísmo' ou 'Absentismo' era aplicada quando os proprietários rurais que abandonavam o campo e tendiam a viver nas cidades, sendo que, com o advento da revolução industrial, o termo passou a ser aplicado aos trabalhadores com tendência a faltar ao serviço (QUICK e LAPERTOSA, 1982). Há dois tipos de absenteísmo: o absenteísmo pela falta ao trabalho e o de 'corpo presente'. O absenteísmo pela falta ao trabalho, também chamado absenteísmo tipo I, é representado pela falta pura e simples do empregado ao trabalho, sendo de fácil mensuração e custo calculado. Leva à perda de produção das horas não trabalhadas. O absenteísmo de corpo presente, também chamado de absenteísmo tipo II, é aquele onde apesar de trabalhador não faltar ao trabalho, o mesmo não apresenta um bom desempenho, levando à diminuição da produtividade, em decorrência de algum problema de saúde. O absenteísmo de corpo presente não pode ser medido e o trabalhador não consegue exercer suas atividades laborais habituais (MIDORIKAWA, 2000). Conceitualmente, absenteísmo é a relação do grau de ausência ao trabalho x horas trabalhadas (total de horas trabalhadas no fechamento da folha de pagamento). Consideram-se as ausências ao trabalho de dias inteiros dos empregados ativos, e até no máximo 15 dias para os casos de auxílio doença e acidente de trabalho. HP = Horas perdidas HT = Horas trabalhadas (total de horas trabalhadas no fechamento da folha de pagamento). Turnover Um dos mais famosos indicadores aplicados à gestão de RH é o que se chama de Índice de Rotatividade, também conhecido como turnover, que é a palavra em inglês que representa a idéia do índice. O índice de rotatividade tenta captar a flutuação (entrada e saída) no quadro de pessoal, tendo em vista o impacto potencialmente negativo de uma rotatividade não desejada, dentro dos resultados de um negócio. Numa determinada empresa, observou-se que 20% dos estabelecimentos com a mais baixa rotatividade de funcionários rendiam o dobro das vendas e 55% delas possuíam lucros mais altos do que os estabelecimentos com taxa de rotatividade mais alta. O turnover ou índice de rotatividade é, na realidade, a média dos indicadores de entrada (admissão) e de saída (desligamento): Índice de Rotatividade (Turnover Global) = Assim, seriam calculados os Índices de Rotatividade (turnover), para cada mês, de maneira contínua para que cada propriedade pudesse criar suas próprias referências com relação ao indicador, percebendo os efeitos de sazonalidade que, porventura, possam acontecer na atividade, etc. O custo da rotatividade é um desafio dos que atuam na gestão de recursos humanos. Há experiências que caminham na direção de que tal valor pode ser resultado de uma combinação de variáveis, entre as quais custo de demissão, reposição dos exames para demissão e admissão; tempo médio de reposição de vagas; treinamento introdutório; ambientação de novos empregados; perda de produtividade; qualificação ou adaptação, entre outras variáveis. O custo de rotatividade varia conforme o impacto da posição na estrutura da empresa. Considerando-se que a idéia do turnover é medir a rotatividade, deve-se desconsiderar nos números, as entradas por aumento do quadro de funcionários (vagas que não existiam no passado) ou por redução no quadro (vagas que deixaram de existir). Se uma determinada vaga foi criada no mês – e se, por essa razão, um empregado foi contratado (admitido) – é possível compreender que não se trata de uma rotatividade (entrada de alguém para substituir um outro empregado desligado da empresa). Sendo assim, pode-se calcular o 'turnover global' (conforme se vê nos indicadores calculados acima) ou somente considerar o 'turnover de substituição' de empregados. Quem irá definir esse critério será o próprio gerente ou responsável, desde que ele continue utilizando o mesmo critério para todos os meses subsequentes para não haver distorção no entendimento das informações. Como bem salienta Rugenia Pomi (2002) co-fundadora da Gênesis Desenvolvimento e Potencialização Humana e da Sextante Brasil (ex-Saratoga Institute), o alto turnover é sinônimo de perda de produtividade, da saúde organizacional e conseqüentemente da lucratividade, com impacto na motivação das pessoas, no comprometimento, muitas vezes gerando mais faltas de funcionários, rotatividade e interferindo até na credibilidade junto aos clientes. (Pomi, 2002). Em um sentido mais amplo, a perda de pessoas significa perda de conhecimento, de capital intelectual, de inteligência, de entendimento e de domínio dos processos, perda de conexões com os clientes, de mercado e de negócios. Para Philips (2008), os programas de educação continuada, treinamento e capacitação são as prioridades atuais para as companhias mais competitivas, aumentando o desafio do RH em aferir o que define como ROI (return on investment, ou retorno sobre investimento) das pessoas. Utilizando princípios da contabilidade, Philips os adaptou para estudar a aferição de resultados dos programas de RH desde 1972 nos Estados Unidos e alerta que este seu método causa uma instabilidade no gestor de RH pela accountability (transparência) na prestação de contas. Há uma relutância dos gestores em publicar resultados de programas que rendem baixo retorno, o que é um equivoco, mas, geralmente, logo entendem o método e o apóiam pela confiabilidade dos índices. Seu método consiste numa perspectiva que todos os programas precisam ser avaliados financeiramente. Calcular o ROI de um projeto de instalação de qualquer empreendimento para os colaboradores parece difícil, porém aos olhos de um especialista é algo mensurável financeiramente e explica sua metodologia. Certamente, acredita-se que isto elevará o nível de satisfação das pessoas, reduzirá o turnover, custos com saúde, absenteísmo e acidentes, melhora o desempenho físico das pessoas e tudo isso se converte em cifras, e para isso deve-se comparar os índices futuros com as séries históricas anteriores à instalação do empreendimento. Para o consultor, entre 20% a 30% dos estudos de ROI têm retorno abaixo do esperado e isso não quer dizer que os programas de RH devem ser extintos nem tampouco justificados. A idéia é avaliar os impactos para a companhia e agregar valor ao programa, ajustando-o, onde for necessário, em busca de melhores resultados. A extinção deverá acontecer quando percebido que o programa é desnecessário e nunca vai agregar valor. O custo para cálculo do ROI pode comprometer de 0,5% a 10% do orçamento de um projeto. Projetos mais caros tendem a um custo menor proporcionalmente. Esta metodologia fará do RH uma área como todas as outras e responsável pelo seu orçamento. Isso significa usar o talento para trazer retorno financeiro ao negócio. Em setores com baixa margem de contribuição, como o varejista, e até mesmo no setor financeiro com larga margem de lucro, esta já é uma prática. A metodologia já foi implantada em 51 países, incluindo o Brasil, porém os melhores cases estão na Cingapura e Irlanda. Nas empresas do grupo Unibanco, os indicadores de performance já são uma prática e a companhia publica os indicadores de performance, comparando desempenho passado, presente e com outros bancos de grande porte ou de primeira linha. INDICADORES FINANCEIROS Assis, (1999, p. 63) defende que a organização pode buscar um desafio maior e demonstra como medir o retorno do investimento em pessoas. Abaixo algumas formas de conhecer profundamente estes resultados: Salário Médio: Conhecer o salário médio pode auxiliar na compreensão da dispersão salarial praticada na organização como: menor salário pago, salário médio e a distância entre o menor e o maior salário pago. Salário médio = Somatório dos salários Nº de empregados Retorno médio por empregado: Este indicador tem por objetivo mensurar a real contribuição dos colaboradores na geração de retorno aos acionistas: Receita por empregado = (Receita bruta) Nº de empregados Lucro líquido por empregado = lucro operacional Nº de empregados Retorno de T&D = (receita bruta – (despesas totais – despesas com T&D)) Despesas com T&D INDICADORES OPERACIONAIS Os indicadores operacionais ou de eficiência têm por função medir o desempenho relacionados aos subsistemas de RH: recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento, administração de pessoal, segurança do trabalho, benefícios, folha de pagamento, relações trabalhistas. Segundo Ronaldo, gerente de recursos humanos da White Martins apud Assis (1999, p. 87), divulgar painéis em local visível com os indicadores operacionais, estimula equipes a superarem metas quantitativamente e qualitativamente. Rabaglio (2006) defende que é necessário avaliar também as competências de forma imparcial, ética, focada no desenvolvimento, crescimento e aperfeiçoamento de pessoas. Assim se faz necessário preparar os avaliados para receberem a avaliação como um instrumento de desenvolvimento e solução e não de criação de problemas. Por força das pressões do ecossistema atual sobre as empresas, para superarem novos níveis de qualificação e satisfação, surgiu a necessidade de maximizar e também medir o desempenho dos times organizacionais. Toda esta pressão resultou no desenvolvimento da Gestão por Competência, forma mais focada na gestão de pessoas, alinhada ao planejamento estratégico. INDICADORES DE CLIMA A pesquisa de clima é uma das maiores geradoras de indicadores ao gestor de recursos humanos e para a organização como um todo. Bastante utilizados pelas companhias, a pesquisa de clima retrata o reflexo da ação dos lideres e da percepção das pessoas sobre a organização. Este tipo de pesquisa gera indicadores que revelam a satisfação entre os pares, superiores, com as políticas e práticas de RH e com a organização como um todo. A Hay Group, consultoria especializada na gestão de clima organizacional, com estudos sobre melhores empresas na gestão de pessoas e publicação no Brasil na revista Valor Carreira, defende a geração de indicadores de recursos humanos segregados em três dimensões: • Processos corporativos: princípios e valores, qualidade de vida, comunicação, segurança e condições de trabalho, remuneração & benefícios, gestão do desempenho, T&D. • Estilo gerencial: justiça, reconhecimento e recompensa, feeedback e carreira, suporte e aconselhamento, planejamento do desempenho. • Gestão de empresas: relacionamento externo, clareza e alinhamento estratégico. O Great Place To Work Institute, consultoria presente em 25 países utiliza os indicadores de recursos humanos para publicar em parcerias com revistas e jornais de grande circulação as listas das melhores empresas para se trabalhar. No Brasil, a consultoria mantém parceria com a Revista Exame, da Editora Abril, desde 1997, defende a geração de indicadores em três dimensões: • Confiança: indicadores de confiabilidade líderes e na organização com aspectos em imparcialidade e respeito. • Orgulho: indicadores de identificação dos colaboradores com a imagem corporativa. • Camaradagem: indicadores de níveis de reconhecimento das parcerias existentes. Demandas por Indicadores No Brasil, é crescente a demanda por indicadores de RH e são muitas as consultorias especializadas: A PriceWaterhouseCoopers, através do ICAS – Intellectual Capital Advisory Solutions, produz o 'Global Human Capital Benchmarking' para integrar as ações do RH às estratégias de negócios. A Deloitte Toche Tohmatsu é outra consultoria que absorveu a parte do Human Capital, da Arthur Andersen, e coleta dados, analisa e disponibiliza às companhias relatórios sobre a gestão do capital humano. INDICADORES SOCIAIS Companhias que querem manter uma alta performance, precisam mensurar o impacto social de sua operação, bem como da operação de toda a cadeia de suprimentos e parceiros. Para a SGS Brasil, a norma internacional SA 8000, é reconhecida mundialmente como a mais aplicável ao ambiente de trabalho de todos os parceiros envolvidos com o negócio. As companhias atentas a agregar uma imagem positiva da sua marca, precisam de indicadores de toda a cadeia de suprimentos para evitar escândalos, envolvendo as suas marcas, por práticas reprováveis no ambiente de trabalho por seus parceiros de negócio. Segundo Steimberg apud Gonzales,(2003, p.63.), Superintendente do Apimec, em pesquisa do IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, de 2000, 84% das empresas investem em programas sociais. Em outra pesquisa para o instituto Ethos e o Jornal Valor Econômico, 31% dos consumidores prestigiam companhias com boa conduta e 51% consideravam a ética nos negócios e relacionamento com os colaboradores como fatores mais importantes para julgar uma empresa. Logo, o social também dá lucro. Na Holanda, as companhias planejam exigir que seus fornecedores tenham certificação de responsabilidade social, S A 8000 e AA 1000. No Brasil, a CVM – Comissão de Valores Imobiliários foi favorável à elaboração do Balanço Social para empresas que possuem capital aberto. O modelo IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas é também estruturado, utilizando princípios da contabilidade. Para Sucupira (2003, p. 01), o Balanço Social 'é um conjunto de informações sobre as atividades desenvolvidas por uma empresa, em promoção humana e social, dirigidas a seus empregados e a comunidade onde está inserida'. Para o ISEA – Institute of Social and Ethical AccountAbility, uma ONG com sede em Londres, certificadora AA1000, ações desta natureza agregam valor aos capitalistas, pois estes percebem mais consistência nas ações da companhia. Steinberg (2003) defende que analistas e investidores de fundos socialmente responsáveis valorizam a organização transparente e com acesso a informação aos stakeholders (intervenientes ou impactados no processo). Estes querem saber como a empresa lida com todos os envolvidos direta e indiretamente e esperam retorno superior de companhias socialmente responsáveis, pois percebem maior vantagem competitiva em razão de: • Maior reconhecimento das marcas e melhor imagem. • Redução de custos pelo uso mais eficiente dos recursos naturais e pela reciclagem do lixo. • Antecipação a regulamentações restritivas dos governos. • Maior produtividade dos empregados motivados e menores taxas de absenteísmo e turnover. • Preocupação da gestão com valores estratégicos não é percebida pela maioria dos investidores, o que torna um diferencial para especialistas. Segundo Vergueiro (2008, p. 24), diretora de Corporate Finance da PriceWaterhouseCoopers é bom começar a prestar atenção nos ativos não mensuráveis. O BNDES – Banco de Desenvolvimento Econômico e Social – já estudou uma metodologia de elaboração de um demonstrativo de medição do capital intelectual para atribuir uma nota de classificação de risco na inteligência da empresa, com influência direta no custo de captação de recursos financeiros. A grande novidade vem da CVM que já começou em 2009 a exigir a contabilização de ativos intangíveis em item segregado no balanço, quando houver incorporação ou aquisição de empresas, a exemplo do que já acontece na Europa, Ásia e USA. BALANCO DOS INDICADORES Para demonstrar o desempenho efetivo da empresa, Pomi (2002) propõe o Balanço de Indicadores para retratar a realidade interna, o potencial em relação à concorrência, possibilitando um desafio maior para atingir o benchmarking. O balanço de indicadores tem por finalidade auxiliar os gestores na compreensão do desempenho da organização, servindo de base para estudo das causas, definição de prioridades e na elaboração de planos de ação para as diversas áreas do negócio. Uma vez entendido o estágio atual da empresa, é possível traçar metas e diretrizes para curto e longo prazo, dentro das práticas de mercado e perspectiva de futuro, de modo a assegurar um planejamento estratégico, mais fortalecido para o alcance dos objetivos. Dados Atuais Ano 2005 Benchmarking Hipotético Objetivo Ano Subseqüente Movimento 2006/2008 Lucro por empregado R$ 5.000,00 R$ 12.800,00 R$ 12.800,00 + 156% Faturamento por empregado R$ 50.000,00 R$ 70.000,00 R$ 68.800,00 + 38% Despesas Totais/Empregado R$ 45.000,00 R$ 57.200,00 R$ 56.000,00 + 24% Retorno p/ empre. (R$ 1,00) R$ 2,26 R$ 3,41 R$ 3,84 + 70% Retorno por RH (R$ 1,00) R$ 1,85 R$ 2,89 R$ 2,91 + 57% Figura 3. Amostra de Indicadores. Fonte: Adaptado de Assis, (2007, p.172). CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO E MEDIDAS Para Oliveira (2005), antes de avaliar os sistemas empresariais é necessário perceber se o nível de motivação está adequado, bem como se o sistema de punição e desempenho está sustentado no desempenho; se a equipe está tecnicamente habilitada para efetivar os controles e avaliações; se os dados estão disponíveis à extração, e quanto as pessoas dispõem do tempo adequado para dedicarem à aplicação da avaliação e controle. Para implementar uma sistema de medição, Pande (2001, p. 206-221) define, numa visão geral, algumas ações e perguntas-chave a empreender nos passos de medição: Figura 4: Critérios para seleção e medidas. Fonte: Adaptado de Oliveira (2005, p. 82-84). Em abordagem sobre tomadas de decisão, Hammond (1999, p. 17) defende que para aumentar as chances de o gestor fazer a melhor escolha, com perda mínima de tempo, energia, dinheiro e serenidade, um processo de decisão eficaz deve preencher os critérios a seguir: – Concentrar no que é importante. – Ser lógico e coerente. – Reconhecer os fatores subjetivos e objetivos, combinando o pensamento analítico e o intuitivo. – Exigir apenas a quantidade de informações e análises necessárias para resolver determinado dilema. – Estimular e guiar a obtenção de dados relevantes e opiniões bem informadas. – Ser direto, seguro, fácil de usar e flexível. PROGRAMAS DE RECONHECIMENTO DE DESEMPENHO Muitas organizações estruturam programas para incentivar a melhoria contínua de seus processos e os resultados são, muitas vezes, questionados pela pouca confiabilidade da fonte e metodologia de recompensa. Junior (1999) defende que a meritocracia precisa ser sincera e honesta, pois resultados manipulativos ou pouco confiáveis podem ter efeitos contrários ou indesejados. Neste contexto, programas pouco estruturados podem gerar desconfiança entre colaboradores, premiações podem ser percebidas como práticas manipulativas e recompensas individuais, parecer privilégios apenas pelos 'olhos verdes'. A criação de um eficiente sistema de gerenciamento dos indicadores de RH é uma importante fonte para desenvolver um programa de reconhecimento do desempenho coletivo ou individual, capaz de reforçar comportamentos desejados; premiar o espírito empreendedor à iniciativa; encorajar a inovação e ajudar a estabelecer uma relação sinérgica entre objetivos pessoais e organizacionais. A gestão por indicadores estabelece no time a confiança necessária para as pessoas trabalharem e dedicarem seus esforços em prol da mesma causa, integrando pares e níveis da organização. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em que pese a importância dos indicadores, eles ainda não são uma realidade na maioria das empresas. Muito se fala da falta de tempo que permita a coleta e tabulação, sistemas gerenciais que produzem dados e não viabilizam a tradução em indicadores e, até mesmo, falta de percepção do valor dos indicadores para o negócio. Avaliar os resultados alcançados pela organização é uma necessidade atual que os executivos de recursos humanos precisam estar atentos para oferecerem uma maior contribuição ao negócio. Indicadores satisfatórios ou não, são frutos do talento da equipe como um todo, entretanto o executivo não deve se preocupar com indicadores dentro das fronteiras do que for esperado. No entanto, se o desvio exceder um pouco estas fronteiras, o executivo deve continuar a sua estratégia, porém ajustá-la para buscar a situação adequada. Já, se o desvio exceder em muito as fronteiras do que era esperado, é oportuno interromper a estratégia, até que as causas sejam identificadas, analisadas e mitigadas. Como gerenciar os resultados e tomar a melhor decisão se a empresa não gera os indicadores? Se não há indicadores, logo não haverá gestão. A área de recurso humanos por não conhecer os indicadores, leva a companhia a um custo de oportunidade quando não a um custo financeiro. O primeiro quando um ponto forte passará despercebido, perdendo a oportunidade de fortalecer a companhia e, no segundo, o problema se agrava quando por falta das medições ou mesmo por medições insuficientes as imperfeições organizacionais deixam de ser reveladas, perdendo a oportunidade de serem corrigidas antes de um resultado insatisfatório. Partindo da premissa de que a área de RH precisa garantir o ROI do orçamento da área, os indicadores são fontes confiáveis aos gestores para utilizarem antes de tomar a qualquer decisão. Antes mesmo de lançar o próximo programa, projetos, políticas e ações, considerando as reais necessidades da companhia em subterfúgio ao modismo das últimas teorias e práticas, é fundamental já implementar também um sistema para medir os resultados alcançados. O novo desafio do executivo de recursos humanos está em quebrar o paradigma e deixar para trás a história que o RH é um departamento burocrático e teórico para transformá-lo num sistema embutido na gestão do negócio com influência nas pessoas e nos resultados. Nesta quebra de paradigmas, o executivo de recursos humanos começa a ser mais pressionado a apresentar retorno aos acionistas quanto ao capital investido nos programas de recursos humanos e começa a busca por líderes focados em indicadores financeiros e sociais. É notório como a gestão dos indicadores levará a companhia a desafios cada vez maiores, e, à medida que eles crescem, novas necessidades e exigências são atribuídas às pessoas, demandando uma arquitetura de recursos humanos com foco nos resultados. A gestão dos indicadores pode ganhar espaço para levar a organização ao 'descongelamento' de um potencial nunca antes explorado ou mesmo conhecido. Neste estágio de evolução, as pessoas precisam estar comprometidas em desenvolver novas tecnologias, revelar potencial e fraquezas das estratégias de recursos humanos para agregar mais valor ao negócio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, Marcelino Tadeu de. Indicadores de gestão de recursos humanos. Rio de Janeiro: Qualimark, 2005. Balanço Social do IBASE. Disponível em <www.ibase.org.br> Acessado em Março de 2009. BECKER, Brian E. HUSELID, Mark A. ULRICH, Dave. Gestão Estratégica de Pessoas com 'Scorecard'. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2001. CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento pelas diretrizes. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG, 1996. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. ___________________. Os novos paradigmas. 5. ed. São Paulo: Manole, 2008. Compêndio para a Sustentabilidade. Reino Unido – AA 1000 AccountAbility. Disponível em <www.institutoatkwhh.org.br>. Acessado em Abril de 2009. COSTA, Ana Paula Paulino da. Balanced Scorecard Conceito e Guia de Implementação. São Paulo: Atlas, 2006. GUIMARÃES, Sebastião. ROI em treinamento – Indicador de retorno do investimento. Disponível em <www.ogerente.com> e <www.rhportal.com.br/artigos> Acessado em Abril de 2009. HAMMOND, John S; KEENEY, Ralph L; RAIFFA, Howard. Decisões inteligentes: como avaliar alternativas e tomar a melhor decisão. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Indicadores de Performance do Unibanco. Disponível em: <http://webshare.embratel.net/unibanco/arq/link/Portugues/02InfoFin/Divulg_Res/382_Cap03.pdf.> Acessado em Março de 2009. JUNIOR, Thomaz WOOD , FILHO, Vicente Picarelli. Remuneração estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. MARRAS, Jean Pierre. Administração de recursos humanos. 11. ed. São Paulo: Futura, 2000. MIDORIKAWA ET. A odontologia em saúde do trabalhador como uma nova especialidade profissional: Definição do campo de atuação e funções do cirurgião-dentista na equipe de saúde do trabalhador. São Paulo; 2000. 337p. [Dissertação de Mestrado – Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo]. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Estratégia Empresarial & Vantagem Competitiva: Como estabelecer, implementar e avaliar. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. PANDE, Peter S, NEUMAN, Robert P, CAVANAGH, Roland R. Estratégia seis sigma: como a GE, a Motorola e outras grandes empresas estão aguçando seu desempenho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. PHILIPS, Jack. O ROI das Pessoas. Disponível em www.vocerh.com.br. Acessado em Abril de 2009. POMI, Rugenia Maria. Indicadores de desempenho em gestão do capital humano. São Paulo: Gente, 2002. QUICK TC, Lapertosa JB. Análise do absentismo em usina siderúrgica. Rev. Bras. Saúde Ocup. 1982; 10(40): 62-67. RABAGLIO, Maria Odete. Ferramentas de Avaliação de Performance com Foco em Competências. 2 ed. Rio de Janeiro: Qualimark, 2006. STEINBERG, Hebert. A dimensão humana da governança corporativa: pessoas criam as melhores e piores práticas. 4 ed. São Paulo: Gente, 2003. SUCUPIRA, João. A responsabilidade social das empresas. Disponível em <www.ibase.org.br>. Acessado em Abril de 2009. p.01. Systems de Services Certification SGS in Brazil. Disponível em: <http://www.br.sgs.com/pt_br/as_8000.htm?serviceld=10243&lobld=16819>. Acessado em Março de 2009. TENÓRIO LR, Jordano A. Absenteísmo-doença em construção civil. In: Anais do 18º Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho; 1979 out 21-25; Salvador, (BA). São Paulo: Fundacentro,1980. p. 21-26. VERGUEIRO, Andréa Fuga. A construção da imagem. Época Negócios 100. Novembro de 2008.