O Pacto Global da ONU (UN Global Compact) foi lançado, primeiramente, em 2000, pelo então Secretário Geral Kofi Annan, após a ONU reconhecer que os maiores desafios que as sociedades enfrentavam requeririam uma extraordinária colaboração de seus agentes (empresas e sociedades). O Pacto Global da ONU não é um requerimento para as empresas – as empresas podem, voluntariamente, alinhar suas estratégias e operações aos dez princípios deste pacto. Adotando tais princípios, as empresas, como agentes primários para criação de empregos e riquezas, pode ajudar os mercados a avançarem de forma a beneficiar economias e sociedades em diversos lugares do mundo. Quais são estes dez princípios? Direitos Humanos Princípio 1 – As empresas devem dar todo o suporte necessário, assim como respeitar, a proteção dos direitos humanos; e Princípio 2 – Devem assegurar-se da sua não participação na violação dos direitos humanos; Trabalho Princípio 3 – As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; Princípio 4 – A eliminação de todas as formas de trabalhos forçados ou compulsórios; Princípio 5 – A abolição efetiva do trabalho infantil; e Princípio 6 – Eliminar a discriminação no emprego; Meio ambiente Princípio 7 – As empresas devem apoiar uma abordagem efetiva aos desafios ambientais; Princípio 8 – Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e Princípio 9 – Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis; Anti-Corrupção Princípio 10 As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. Hoje, as empresas participantes do Pacto Global da ONU são de diferentes setores da economia, regiões geográficas e buscam embasar seu crescimento em pilares sustentáveis e de maneira responsável, que contemple os interesses de seus stakeholders (funcionários, investidores, consumidores e da sociedade como um todo). Os benefícios para as empresas que são voluntárias ao adotar o Pacto Global da ONU são inúmeros! É um grande passo para a preservação da imagem da empresa e, também, para a colaboração com a sociedade que a cerca. Infelizmente, não é muito raro vermos nos noticiários sobre trabalho forçado, violação dos direitos humanos, degradação ambiental etc.. E estas notícias que degradam a imagem das empresas não são novidade e, também e infelizmente, parecem longe de acabar. A fim de mitigar os riscos e promover efetivamente o Pacto Global da ONU as empresas, mais uma vez, precisam concentrar mais esforços em controles e políticas internas. Dependendo da natureza das operações e do tamanho da empresa, não é possível mitigar todos os riscos olhando somente para dentro da própria empresa – aquelas empresas que terceirizam tarefas, precisam expandir seu foco até seus prestadores de Serviços. Hoje em dia é necessário, até, estender as análises à Fornecedores e Clientes. Há anos, a gigante dos esportes Nike passou por apuros quando foi denunciada por exploração do trabalho infantil e escravo no terceiro mundo. A Nike, então, contava com um fornecedor que fabricava seus calçados fora dos Estados Unidos e, devido a falta de análises mais profundas, só tomou conhecimento de irregularidades neste fornecedor após a notícia ser dada pela imprensa internacional. Danos enormes foram causados à imagem da Nike, sem contar com as diversas ações judiciais sofridas pela empresa que não tinha conhecimento do trabalho infantil e escravo que seu fornecedor mantinha. Recentemente, a Zara foi acusada de violação dos direitos humanos ao contratar serviços de fornecedores que violavam os direitos humanos de seus “funcionários”. Além de abalar a imagem da Zara, a empresa também foi co-responsável pela indenização e regularização de seus fornecedores – embora alguns tenham sido descadastrados do arquivo de Fornecedores da Empresa. Mais recentemente, a FoxConn levou um golpe diferente de todos os vistos anteriormente. Por atraso nos salários, e consequente parcelamento dos mesmos, seus funcionários tiveram seus direitos violados e ameaçaram a empresa com uma promessa de suicídio coletivo. Na última quinta-feira, dia 12 de janeiro de 2012, a FoxConn e a Microsoft informaram que chegaram a um acordo com os funcionários e que este acordo evitou a tragédia anunciada. Como vimos, os dez princípios do Pacto Global vão muito além dos direitos humanos. Abrangem, também, o direito ambiental. Grandes empresas também sofrem com danos ao meio ambiente. Duas empresas que, recentemente, sofreram um abalo em sua imagem devido a desastres ambientais foram: BP (British Petroleum), com o vazamento de petróleo no Golfo do México, e a Chevron, com vazamento de petróleo na costa brasileira. Além de multas milionárias, as empresas sofreram um forte golpe em sua imagem corporativa. Outro tema muito importante é o de combate à corrupção! A Anti-Corrupção está cada vez mais presente no dia-a-dia das empresas. Em alguns países o tema já é tratado com legislação específica, em que a corrupção é prevista como crime e já possui penas específicas (vide artigo “Bribery Act – o que é?”, para mais detalhes sobre o tema). Recentemente, a Olympus processou alguns executivos por corrupção. Diversos países sofreram com as alegações e os processos contra os executivos continuam. Não é de hoje que corrupções e fraudes são manchetes! Na última década foram dezenas de casos, dentro os quais podemos destacar: Enron, WorldCom, Arthur Andersen, Parmalat, Generali, Banco Pan Americano etc. Algumas as empresas citadas acima não sobreviveram para contar história. Outras persistem! Mas é sabido que o pior dos cenários que uma empresa pode enfrentar é este último: corrupção e fraude. Grande parte das empresas que passam por escândalos deste gênero não sobrevivem para contar a história. Talvez, seja por estes motivos que poucas empresas são voluntárias ao Pacto Global, pois requer um investimento significativo. Porém, muitas empresas enxergam tais investimentos como “despesas” o que, em suma, não é verdade. Trata-se de um investimento na imagem institucional e na área de Gestão de Riscos da empresa, de médio e longo prazo. Há a necessidade de investimentos em controles e análises “além da própria fronteira”, a fim de que as empresas obtenham detalhes das operações de seus principais stakeholders (fornecedores e clientes, por exemplo). As empresas estão em processo de entendimento de suas responsabilidades que vão além de seus próprios muros. Todos somos agentes da sociedade a fim de defender seus interesses e anseios. As empresas deveriam fazer tais investimentos para que estas análises “além dos próprios muros” tornem-se parte do seu dia-a-dia. Análises de potenciais fornecedores, análise de contratos com parceiros, fornecimento para distribuidores etc. As empresas devem se conscientizar de que estas análises fazem parte de uma efetiva Gestão de Riscos. A Gestão de Riscos não está só dentro dos nossos portões, análises minuciosas precisam ser realizadas. Um excelente exemplo de Gestão de Riscos é o caso noticiado há poucos dias de ONGs protetoras de animais, que contrataram um Detetive Particular para investigar uma de suas “principais clientes”, que adotava uma quantidade significativa de animais de estimação. Após investigação, o Detetive das ONGs entrou em contato com a polícia, após ter presenciado e evidenciado crimes contra os animais de estimação, cometidos por esta “principal cliente”. O exemplo é ainda melhor por tratar-se de Organizações Não-Governamentais – sem fins lucrativos. Embora tais ONGs não sejam entidades que visam o lucro, estas demonstraram um enorme planejamento e uma política de Gestão de Riscos que, infelizmente, é raro de se ver. Para os estudiosos, as ONGs usaram um sistema de CRM (Customer Relationship Management – Gerenciamento de Relacionamento com Clientes) para observar que uma de suas “principais clientes” adotou um número de animais domésticos que fugia da normalidade do mercado e, com isso, visando maiores riscos, contrataram um Detetive Particular para investigar o caso. As empresas não precisam chegar a este ponto. Não é necessário contratar detetives particulares – mas é preciso, ao menos, preocupar-se com seus fornecedores e clientes, assim como com as suas atividades. É mais comum observarmos em nosso dia-a-dia que as empresas de cartão de crédito utilizam com maior eficácia estes sistemas de CRM – basta fazermos uma compra “fora de nosso perfil”, que a central de atendimento do cartão de crédito irá entrar em contato com seu cliente. Por que não expandirmos estas análises à fornecedores e clientes? Faz parte da Gestão de Riscos investigar aquele fornecedor que consegue nos fornecer o mesmo produto. com a mesma qualidade e no mesmo prazo estipulado pelo mercado, com um preço significativamente menor. No Brasil há o Comitê Brasileiro do Pacto Global (CBPG), um grupo voluntário que tem por finalidade promover a adoção e a incorporação dos Princípios do Pacto Global na gestão de negócios das empresas que operam no Brasil (www.pactoglobal.org.br/cbpg.aspx).