Partindo do contexto da teoria weberiana, Burrell (1998) expõe que os teóricos organizacionais da época estavam fascinados com a burocratização e ao mesmo tempo míopes, fazendo com que a análise organizacional fosse ignorada. Afinal, em relação a burocracia, racionalidade e efetividade não haviam questionamentos e a teoria contingências eram tidas como meros elementos que interferiam na operação dos princípios da modelagem e do funcionamento organizacional. A análise da teoria organizacional é criticada por Morgan (2005), segundo ele os teóricos frequentemente entendem seu objeto de estudo a partir da uma estrutura de referências com base em suposições inquestionáveis, atrelado a isto há distanciamento alcançado no modo ortodoxo de observar o objeto. Burrell (1998) se propõe então a discutir o explanandum e explanans. As pessoas influentes viam a administração como um fenômeno a ser explicado (explanandum), entretanto não consideravam o panorama explanatório utilizado, que era positivista e estrutural (explanans). Solucionando-se o problema pouco importa a forma pela qual chegou-se a solução. Os estudos organizacionais se encontram em um campo desigual e fragmentado, são carentes de uma linguagem e de um projeto compartilhados. O autor expõe uma visão que a teoria organizacional deveria ser mais disciplinada, centralizada e controlada por um pequeno grupo, desta forma paradigmas, metáforas, discursos e genealogias são tidas como lesões à vida organizacional. Conceitualizações aprisionam, imobilizam e ferem, até mesmo porque há pouco acordo em relação aos tipos de conceitualização. Conforme se aumentavam as diferentes explicações de problemas crescia-se, também, o número de acadêmicos envolvidos com a teoria da organização, e isto fez a fragmentação de tal teoria ficar mais visível. Outro ponto importante é que a natureza móvel do empreendimento (por exemplo as privatizações, as franquias e o ataque sobre a burocracia) passou a demonstrar que o explanandum estava em transformação. O mundo organizacional não cabia mais num sistema classificatório. Assim, a teoria das organizações não está mais pautada na “ciência normal”, que seria a atividade de resolver problemas e realizar pesquisas incrementais, com base em modelos teóricos aceitos e institucionalizados (paradigmas?), mas na “ciência revolucionária”, no qual o objeto de estudo, os modelos de interpretação e o conhecimento são criticados e reavaliados continuamente (REED, 1998). Morgan (2005) apresenta três definições para o termo: 1) um modo de ver a realidade; 2) organização social da ciência em termos de escolas de pensamento e realizações científicas; e 3) utilização de ferramentos e textos para a solução de quebra-cabeças científicos. O autor usa o termo com significado de visão explícita ou implícita da realidade, e discute paradigma como realidade alternativa. Paradigma, segundo Burrell (1998) é um termo que expressa a ideia de “leis clássicas” e “modos de vida comunitária”. Paradigmas, para Lewis e Grimes (2005) são consideradas premissas, práticas e concordâncias em uma comunidade acadêmica. Alguns analistas organizacionais sem se preocuparem com a ortodoxia legitimaram outros paradigmas, hoje isto está longe de acontecer (BURRELL, 1998). No meio acadêmico busca-se em vez de “imposição paradigmática” do que a “proliferação paradigmática”, de maneira a desenvolver o intelectual com estímulos a abordagens diferentes que não foram contaminadas pelas perspectivas competitivas. É preciso então decidir pela ilimitação da liberdade intelectual de forma fragmentada e isolada ou pelo consenso antiquado reforçado pela vigilância e controle intelectuais. Há uma terceira via que caminha em direção da reconstrução da história do desenvolvimento intelectual da teoria das organizações balanceando contexto social com as ideias teóricas. Até mesmo porque a criação de uma teoria está intimamente ligada a prática intelectual e ao contexto social (REED, 1998). Nos argumentos paradigmáticos há quatro possibilidades: integracionismo (reconciliação eclética); isolacionismo (estratégia do separatismo); imperialismo (sucesso de uma posição teórica sobre outra) e pluralismo (rejeição de todas as abordagens e a promulgação de novas) (REED apud BURREL, 1998). O autor, Burrell, traz a tona a noção de metáforas como um meio pelo qual os paradigmas são atualizados nas mentes dos teóricos. A tal visão ortodoxa, apresentada no final do primeiro parágrafo, se baseia fortemente nas metáforas da máquina (como aquelas traçadas por Taylor, Fayol e Weber) e do organicismo (qualquer sistemas de partes interligadas e dependentes de forma mútua). A ortodoxia na teoria organizacional se desenvolveu a partir de metáforas que refletiam os pressupostos do paradigma funcionalista, no qual os fundamentos não são questionados. Como uma forma de desafio emergem os pressupostos dos paradigmas interpretativistas, humanista radical e estruturalista radical gerando uma série de metáforas para a análise organizacional. O ponto principal é que a teoria organizacional ortodoxa deve repensar a natureza do objeto frente aos diferentes paradigmas, que com suas várias visões de mundo favorecem algumas metáforas que constituem a natureza das organizações (MORGAN, 2005). A teoria das organizações precisa desenvolver investigações baseadas em uma série de paradigmas, multiparadigmática, ou ainda construir teorias com base em uma série de paradigmas, metatriangulação (LEWIS, GRIMES, 2005). Entretanto, a compreensão do conceito dominante, que afirma como as tarefas da administração poderiam ser organizadas, tende a fazer a teoria da organização mude apenas a sua forma (por meio de metáforas) e não o todo (BURRELL, 1998). Referências BURREL, G. Ciência Normal, Paradigmas, Metáforas, Discursos e Genealogia da Análise. In: CLEGG, S. R. et al. (orgs). Handbook de Estudos Organizacionais, v.1. São Paulo, Atlas, 1998. p. 439-462. LEWIS, M. W.; GRIMES, A. J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas.Revista de Administração de Empresas, v.45, n.1, 2005. MORGAN, G. Paradigmas, Metáforas e Resolução de Quebra-Cabeças na Teoria das Organizações. Revista de Administração de Empresas,v.45, n.1, 2005. REED, M. Teorização Organizacional: um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S. R. et al. (orgs). Handbook de Estudos Organizacionais, v.1. São Paulo, Atlas, 1998. p. 61-98.