INTRODUÇÃO: O presente trabalho tem como objeto de pesquisa as redes sociais e abrange uma pesquisa do tipo básica ou pura, cujo objetivo é contribuir para o avanço do conhecimento a respeito da Comunicação nos momentos considerados críticos. Tal qual disse Andrade (2001), a pesquisa pura, está na satisfação de adquirir mais conhecimentos, mesmo sem haver aplicação prática prevista. O objetivo desta pesquisa é de caráter exploratório, que significa buscar o que há de mais recente em matéria de gestão de crises, mostrando casos factuais da esfera governamental. Uma pesquisa exploratória é exatamente o que a situação anterior sugere. O objetivo de uma pesquisa exploratória é familiarizar-se com um assunto ainda pouco conhecido, pouco explorado. Ao final de uma pesquisa exploratória, você conhecerá mais sobre aquele assunto, e estará apto a construir hipóteses. Como qualquer exploração, a pesquisa exploratória depende da intuição do explorador (neste caso, da intuição do pesquisador). Por ser um tipo de pesquisa muito específica, quase sempre ela assume a forma de um estudo de caso (GIL, 2008). Foi utilizado o método hipotético-dedutivo que é uma das formas mais clássicas de pesquisa. O método possui raízes cartesianas e foi definido pelo filósofo austríaco Karl Popper citado por Molina (2009) como “uma forma sistemática de explicar grande numero de ocorrências semelhantes, sendo conhecido assim como ‘métodos de tentativas e eliminação de erros’ “. Para tanto, utilizou-se a abordagem qualitativa (analise de discursos e teorias) que, de acordo com o Manual de Pesquisa da UFPR (s.d.p.4), significa que: As pesquisas qualitativas envolvem a observação intensiva e de longo tempo num ambiente natural, o registro preciso e detalhado do que acontece no ambiente, a interpretação e análise de dados utilizando descrições e narrativas. Elas podem ser etnográfica, naturalista, interpretativa, fenomenológica, pesquisa-participante e pesquisa -ação. Na coleta de dados foi utilizada a pesquisa bibliográfica, bem como sites de internet. 2- CRISE DE IMAGEM: 2.1.Definindo crise de imagem A crise de imagem pode ser caracterizada como a perda da confiança do consumidor em alguma empresa, do eleitor em seu representante ou em seu governo de uma forma geral. Na prática a crise dá quando as ações de uma pessoa ou organização não correspondem ao seu discurso. De acordo com Forni (2002), qualquer acontecimento negativo relacionado á empresa e que ganhe certa notoriedade, pode se transformar em crise. A mesma provoca um prejuízo à organização e aos seus. (empregados, produtos e principalmente reputação). Todas as organizações estão vulneráveis a crises. A diferença é que algumas, mais preparadas, principalmente do ponto de vista da comunicação, administram melhor os problemas. Outras deixam que os fatos, ou boatos, destruam a sua reputação. “A maioria das crises de imagem, se bem administrada, pode ser superada […] (FORNI, 2002, p.363). Já Curado (2008) diz que: A crise de imagem é a ameaça à perda do mais importante ativo de uma pessoa ou de uma organização: a sua reputação. A imagem é a atribuição de qualidades ou defeitos a alguém ou a alguma coisa, que não são necessariamente verificados objetivamente. A reputação é a percepção de ganhos adicionais proporcionados por alguém ou por uma organização, além das suas obrigações contratuais. Sendo assim, uma boa reputação não se resume a prestação do serviço contratado, mas diz respeito aos os benefícios produzidos além desse contrato. Rosa (2001) cita vários tipos de crises: Desastres industriais – explosões, incêndios, contaminações; Desastres naturais – tempestades, enchentes, desmoronamentos; Falhas em equipamentos ou construções – colapso na rede de computadores, queda de um edifício, defeitos em produtos industriais; Origem criminosa – sabotagem, seqüestros, fraudes, vandalismo; Natureza econômica – boicotes, greves, desvalorização das ações;Informação – boatos, intrigas, acusações de concorrentes;Natureza legal – ações judiciais contra a empresa, pedidos de indenização;Reputação – denúncias de corrupção, vazamento de documentos internos;Relações humanas – sucessão no comando da organização, demissão de altos executivos, denúncias de funcionários;Que envolvem risco para a vida – acidentes de trabalho, grandes contaminações;Regulatórias – criação de obstáculos fiscais, legislação. De acordo com Forni (2002), uma crise não tem local fixo para acontecer, já que atualmente com o advento dos meios de comunicação de massa, as noticias tendem-se a propagar em tempo real. É pelo fator globalização, que as crises ganham repercussão internacional e se deve estar preparado para agir rapidamente. Outro fato comum às crises é que elas repercutem rapidamente na mídia, por conta do sensacionalismo que podem representar para os veículos de comunicação e do espetáculo que podem se transformar para a sociedade. (FORNI, 2002, p.367-368) Para Rosa, (2001), as crises só existem porque vivemos em um mundo em que tudo é muito unido, interligado, globalizado. Tanto que uma crise em uma só empresa pode atingir outras imediatamente. 2.2- Redes Sociais Com o surgimento e avanço das tecnologias digitais, houve um aumento do consumo da informação, o que gerou um aumento de participação dos consumidores para expressar suas opiniões. De acordo com Cardozo (2008,p.5): redes sociais representam um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados. A questão central das redes é a valorização dos elos informais e das relações, em detrimento das estruturas hierárquicas. As redes sociais são exatamente as relações entre os indivíduos na comunicação mediada por computador. Esses sistemas funcionam através da interação social, buscando conectar pessoas e proporcionar sua comunicação. Para Sluzki (1996), a Rede Social representa o conjunto de todas as relações que uma pessoa possui de forma significativa, assim percebidas por ela, definindo o nicho social próprio que contribui para seu reconhecimento. A Rede Social é uma fonte essencial de sentimento de identidade, do dever ser, de competência e de ação. Há também o fator interesse nas escolhas das relações, formando assim o que os cientistas chamam de “laço social”. Cardozo (2008) afirma que laços sociais são interações sociais em contraposição aos chamados “laços associativos”, que são meras conexões formais. Massini (2009, s.p.) nos diz que: com o surgimento da Internet e o avanço das tecnologias digitais, da mesma maneira que o acesso dos consumidores à informação teve um aumento significativo, aumentou também a facilidade dos consumidores em expressar suas opiniões. O termo Consumer-Generated Media (CGM) ou mídia gerada pelo consumidor, descrever o conteúdo que é criado e divulgado pelo próprio consumidor. Na Internet o CGM está presente em comentários, fóruns, lista de discussões, blogs e fotologs, comunidades, grupos, sites participativos, no YouTube, na própria Wikipedia. Os consumidores utilizam todas as ferramentas disponíveis (Messenger, sites, blogs, e-mails, mensagens, celulares, etc.) para divulgar, sobretudo, suas experiências pessoais e opiniões em relação a produtos, serviços, marcas, empresas, notícias. Nos meios chamados CGM, passa-se maior credibilidade que nas midias tradicionais como o radio e a TV. E é nessa credibilidade que resulta o maior poder de influencia. Além disso, o consumidor pode escolher o que quer ver e o partilha com sua rede, apenas aquilo que lhe é importante. Este tipo de comunicação não se torna impositiva ou imperativa, mas sim espontânea, o que aumenta sua receptividade. Já o sociólogo espanhol Castells (2003) nos diz que a cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento de informações, fazendo da Internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica . Dados da pesquisa Power to the people – social media tracker wave 3 realizada em 2008, apontam que as redes sociais são a forma que apresenta os maiores percentuais de aumento de 2006 a 2008: em 2006 27,3% dos usuários participavam de redes sociais, em 2007 o percentual subiu para 36,2% e em 2008 , 57,5%. A pesquisa considera usuários apenas aqueles que o acessam diariamente ou dia sim, dia não e na faixa etária de 16 até 54 anos. Abrange, portanto, um universo de 475 milhões de usuários. (Agencia Universal Mc Cann) No Brasil a participação em redes sociais é superior a média, com 75,7% dos usuários, ficando atrás apenas das Filipinas, Hungria, Polônia e México. As principais redes sociais mundiais estudadas foram: Myspace 32,3% Facebook 22,5% Blogger 15,7% Badoo 15,0% QQ 14,6% Flickr 13,8% Sohu 11,5% Orkut 10,9% Hi5 9.7% Skyblog/Skyrock 8.4% LastFM 7.9% Friendster 7.7% Cyworld 7.4% Mixi 6.7% Second Life 6.2% Linkedin 5.7% Bebo 5.6% Bokee 5.1% Piczo 4.2% 2.3- Como gerenciar a crise de imagem governamental no âmbito das redes sociais. Há dez anos, as crises eram gerenciadas a partir de informações que eram dadas diretamente aos jornalistas e estes trabalhavam com a informação crua de acordo com suas possibilidades. Atualmente com o advento das redes sociais, a informação passa a ser dada em tempo real e de uma forma mais aberta e isso pode passar uma grande credibilidade para o publico. Para o governo, estar em uma rede social, implica em uma maior participação dos cidadãos, que podem ser informados sobre as ações do governo diretamente da fonte e evitar que as informações que chegam ao mesmo sejam selecionadas de acordo com os interesses de terceiros. Dentre as desvantagens de se gerenciar uma crise pelas redes sociais estão: a falta de comprometimento dos profissionais da comunicação, a falta de conhecimento acerca das redes sociais, a demora em dar respostas ao publico e a inadequação das mesmas. Não se deve ignorar de forma alguma os riscos que a organização corre , nem o agravamento da crise. González-Herrero e Smith (2008) dizem que: existem dois fatores a ser levados em conta: primeiro, a internet pode ser um facilitador de crises, pois pode ser usado para transmitir informações e acelerar uma crise, se tornando um meio explosivo. “A Internet acelera crises extraordinariamente e dá a elas novas dimensões, e a mesma crise teria uma repercussão mais lenta sem a existência da internet” (p. 145); o segundo ponto é que a internet pode ser considerada um “gatilho de crise”. Quatro são as etapas desenvolvidas em pesquisas de Gozalez-Herrero (2008) e Mei Bansal e Pang (2009) para o gerenciamento da crise: Issue Menagement: que engloba o desenvolvimento de um plano de comunicação digital, mapeamento das vulnerabilidades, identificaçao dos stakeholders, o mapeamento da marca e a unificação interna. Planejamento e prevenção: Nessa segunda fase, cabe estabelecer a comunicação online através de blogues e redes sociais através de respostas rápidas e precisas de acordo com cada rumor. Há tambem o estabelecimento do manual de crise online e a prevenção com os departamentos. Gerenciamento da crise: É a continuação do tópico anterior, com uma junção do gerenciamento de crise tradicional com o da web. Pós crise: É a fase da reconstrução. Avaliar os reflexos da crise e manter uma comunicação continua ajudam bastante a recuperar a reputação da marca.É nessa fase que entra os mecanismos de feedback e as pesquisas de popularidades encomendadas pelo governo. 2.4-Cases 2.4.1-Governo Dilma e a queda dos ministros após 10 meses de governo: É certo que um governo passará por crises e isso pode ser uma forma de fortalecer ou enfraquecer a unidade governamental. Devido às varias ideologias que se uniram para apoiar a candidatura de Dilma Rousseff, as pastas tiveram que ser distribuídas de acordo com os partidos que a auxiliaram na campanha. Desde a queda do ministro Palocci, o governo mostrou que seu ponto fraco é a corrupção e que também não investe em profissionais especializados e por isso os problemas não são tratados com a atenção devida. E isso faz muita falta, especialmente em horas de crise, como foi-e está sendo- a queda dos ministros. Os mecanismos de administração de crises do governo tem se mostrado ineficientes até agora, a começar pela falta de um manual de gestão de crises. A eleição de porta voz que esteja apto a atender prontamente com informações, faz muita falta. Outro ponto a ser salientado é a falta de unidade entre as assessorias de comunicação dos ministérios e a sociedade que sempre anseia por mais informação. As redes sociais são de extrema importância para a mobilização da população, tanto em nível de protestar quanto de informar mais e melhor. Assim como diversas manifestações contra a corrupção são articuladas pelas redes há de se convir que elas possam auxiliar na disseminação de informações a favor de ações do governo. As informações têm que estar em uma espécie de linha direta com o cidadão durante o maior tempo possível, respondendo perguntas e mantendo links de vídeos, e noticias, vindas direto das assessorias do governo. Para isso, o governo tem que investir em uma assessoria de imprensa forte e capacitada e ações de divulgação em midias tradicionais, como o rádio e a TV. 2.4.2 Kit anti-homofobia: Uma das crises que poderiam ter sido evitadas se tivessem sido descobertas e tratadas no inicio foi a repercussão que teve o “kit anti-homofobia”. O kit anti-homofobia abordava temas como a descoberta da homossexualidade nos adolescentes, como. Os filmes seriam distribuídos pelo Ministério da Educação nas escolas publicas e divulgados para crianças e adolescentes de 10 a 17 anos , como forma de ajudar na socialização e aceitação das diferenças de gênero. Esse kit foi elaborado com a ajuda de gestores, profissionais da área de educação e participantes da sociedade civil, após um longo ciclo de seminários e é composto por caderno que trabalha o tema da homofobia em sala de aula e no ambiente escolar, que tinha como objetivos o aumento da, compreensão e confronto.Tem ainda uma série de seis boletins, cartaz, cartas de apresentação para os gestores e educadores e três vídeos. O mesmo provocou grande repercussão devido ás pressões das bancadas religiosas e deputados conservadores. Os mesmos afirmavam que os filmes representavam má influencia para os jovens. A presidenta Dilma acabou por suspendê-lo afirmando que iriam ser analisados antes de sua distribuição. O governo errou neste caso, recolhendo-se, ao invés de usar as mídias sociais como forma de informar a população. O ministro da Educação, Fernando Haddad foi colocado como bode expiatório do caso , que na época ajudou a encobrir e desviar as atenções das denuncias relacionadas ao ministro Palocci. É um erro, porém, afirmar que uma crise em cima de outra seja uma forma boa de se zelar pela imagem governamental. Neste caso, dados econômicos indicando o incremento da economia, a diminuição de algum tipo de imposto, alguma conquista na área médica ou das relações internacionais, poderiam ter sido divulgadas e ao invés de prejuízo, conquistarão mais a simpatia do eleitorado. 3-CONCLUSÃO As redes sociais podem ajudar ou piorar consideravelmente as crises de imagem, especialmente governamentais. Já que as mesmas são consideradas um espaço democrático, onde debates são inevitáveis, devem ser usadas de forma profissional e estratégica por conta dos gestores da informação. O governo possui uma série de mecanismos a serem usados no caso das crises que provavelmente aparecerão durante todo o curso do mandato. São verdadeiros trunfos se usados na hora certa. Grandes realizações do governo, dados e não apenas casos isolados, como tem se visto por aí. A oposição aproveita-se de todas as formas possíveis para atacar o governo e como é mais fácil a critica do que o elogio, por que para se chegar a este deve-se conhecer com profundidade.É justamente essa a intenção de uma forte agencia de comunicação governamental: Mostrar para o publico que o governo trabalha , produz e investe o dinheiro dos impostos que pagamos de uma forma racional,e não se resume a meros casos isolados que aparecem todos os dias nos noticiários. 4-REFERENCIAS Andrade, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2001. Cardozo,Missila. Monitoramento em redes sociais e subjetividade.Texto Acessado emNov/2011 Site:http://www.intercom.org.brn/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1061-1.pdf Castells, Manuel – A Galáxia da Internet, Rio de Janeiro, Zahar, 2003 Curado, Olga. Crise de imagem, uma morte anunciada.Texto acessado em novembro de 2011 Site:http://criseecomunicacao.blogspot.com/2009/03/crise-de-imagem-uma-morte-anunciada.html Forni, João José. Comunicação em tempo de crise. In: DUARTE, Jorge. Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia – Teoria e técnica. 2a. ed. São Paulo, Atlas, 2003, p.363-388 Gil, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Gonzalez-Herrero, Alonso e Smith, Suzanne. Crisis communications management on the web: how internet-based technologies are changing the way public relations professionals handle business crises. Journal of Contingencies and Crisis Management, 2008, Vol. 16 No. 3, pp. 143-53. Massini, Marcos. Conceito de Redes Sociais. 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