O mercado de trabalho brasileiro está bastante aquecido. De acordo com o último dado divulgado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no mês de outubro o emprego formal teve crescimento em quatro das cinco regiões do país. Apesar da boa notícia, é comum ouvir que a falta de mão de obra qualificada é uma constante no Brasil em diversas áreas. Isso acontece porque há um descompasso entre a qualificação buscada pelo trabalhador e aquela exigida pelas empresas. A cultura predominante no país é a de que o próprio colaborador deve investir em sua capacitação e o mercado responderá com melhor empregabilidade. Trata-se de um conceito falso, pois os profissionais não têm as mesmas condições de investimento que as companhias. Além disso, eles não possuem a visão exata das reais necessidades de competências que as empresas, de fato, têm. Por isso, na grande maioria das vezes, acabam depositando tempo e dinheiro em cursos de baixo retorno. Por outro lado, empresas que apostam na qualificação de seus funcionários muitas vezes não conseguem mensurar o resultado obtido. Quando os cursos e treinamentos são direcionados para as áreas administrativas, a mensuração fica ainda mais difícil de ser realizada pela falta de indicadores de desempenho objetivos que possam mostrar as melhorias em custos, vendas, velocidade de processos e outros fatores da gestão. Apesar disso, deixar de investir em sua própria mão de obra e em criar e reter talentos não é a solução mais indicada para os empresários e gestores. Para que seja capaz de competir e atuar no mercado, o constante aprimoramento do capital humano é essencial. Caso contrário, com o passar do tempo, eles terão custos elevados, baixa produtividade e pouca ou nenhuma capacidade de inovação. O que deve ocorrer para a solução desse desencontro entre empregados e empregadores é uma mudança de cultura. É preciso que os setores que movimentam a economia percebam que um profissional qualificado é essencial para a eficiência de sua atuação. E qual a melhor forma de ter colaboradores alinhados com as necessidades da empresa, senão treiná-los? Nos setores mais competitivos da economia, as margens de lucro estão se tornando menores a cada dia. A competitividade ferrenha faz com que a briga por consumidores seja mais acirrada. Desta forma, as chances de sucesso de uma empresa ficam mais atreladas à sua capacidade de desenvolver produtos e serviços de maneira diferenciada da concorrência. Para isso, é indispensável inovação e a constante busca de melhorias internas. No final das contas, podemos dizer que resultados consistentes e duradouros são obtidos com a colaboração de pessoas capacitadas. Em outras palavras, a qualificação constante já não é mais um diferencial somente ao profissional. Esse personagem passou a ser obrigatório dentro das organizações para que ela possa acompanhar o ritmo das mudanças e ser parte ativa delas. Marcelo de Carvalho Reis é doutor em Engenharia pela Unicamp, onde é professor, e diretor de pesquisas do CENNE, empresa especializada na geração de leads