O mês de novembro de 2014 foi marcado por um dos maiores escândalos de corrupção na gestão pública da história de Santa Catarina. Graças à Operação Ave de Rapina, realizada pela Polícia Federal, 26 pessoas foram indiciadas, entre representantes de empresas da região e servidores públicos, em um esquema de pagamento de propina em troca de favorecimento em licitações e fraudes em contratos com a administração pública. Instituições como a Câmara de Vereadores, o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis e a Fundação Cultural Franklin Cascaes foram afetadas, com base em provas coletadas ao longo de um ano. A análise deste momento pressupõe a compreensão de que em qualquer caso desse tipo há corruptos e corruptores. Diante do desequilíbrio evidente entre os cargos de chefia ocupados por critérios políticos e por servidores de carreira, essas ocorrências expõem um antigo hábito e uma mentalidade atrasada: acordos políticos e conchavos que distorcem o propósito legítimo da administração pública. A falta de referencial técnico e habilidades necessárias à gestão pública desses servidores acabam lesando a sociedade. Afinal, o volume de recursos desviado impossibilita a prestação de serviços básicos à população. Em Florianópolis, por exemplo, os milhões de reais tomados poderiam zerar a fila de espera por creches no município, segundo a Polícia Federal. Um dos instrumentos para o combate à corrupção é a profissionalização da gestão pública, com a alocação de profissionais capacitados e habilitados na área. Também é preciso utilizar-se de mecanismos como a Lei de Acesso à Informação para que administradores públicos e a sociedade possam ter acesso às informações fiscais de órgãos públicos. Para isso, é possível criar portais de transparência completos e didáticos que tornem o monitoramento da gestão pública uma missão cotidiana de todos. Acreditamos que as ações em prol da melhoria da gestão pública devem ser perenes e envolver diferentes agentes, para conquistar mais eficiência, ética e controle, revertendo assim a naturalização da prática da corrupção e sua impunidade. O Conselho Regional de Administração de Santa Catarina (CRA-SC), por meio da Câmara Setorial de Gestão Pública, espera contribuir para a promoção de melhores práticas no segmento, além de incentivar o debate sobre a atual conjuntura em todo o estado. Por Cláudio Roberto Vicente, secretário da Câmara de Gestão Pública do CRA-SC