Em 1942, sentado em seu quarto no Copacabana Palace, Walt Disney deu os primeiros traços verde-e-amarelos que se transformariam no carismático Zé Carioca; reuniu inspiração para criar um papagaio – quer símbolo mais vívido e colorido para representar o Brasil? – alegre, que não recusa uma boa roda de samba e que leva tudo 'no bico'. Zé Carioca é sedutor, não gosta de trabalhar, é preguiçoso, adia qualquer tipo de compromisso e sempre resolve qualquer tipo de situação 'na lábia'. Fez, quase que imediatamente, um imenso sucesso com o público americano, é considerado o elo entre o fantástico mundo de Disney e o Brasil. Mas por que tanta empatia por mais um desenho animado, em um mundo onde os Mickeys, Minnies e Patos Donalds reinavam com soberania magistral? Para o mundo, Zé Carioca é a personificação do que somos, em nossa mais pura essência; nascia o termo 'jeitinho brasileiro', que tanto nos define e faz de nós verdadeiras caricaturas de nós mesmos, frente ao que somos, diante daquilo que poderíamos ser. O brasileiro é sim, um povo alegre e festeiro, que recebe e agrada como ninguém; basta perguntar à qualquer um dos milhares de estrangeiros que estiveram aqui durante a Copa do Mundo de futebol, sobre o que mais gostaram em nosso país, para obter uma resposta praticamente unânime: independentemente das derrotas e eventuais eliminações das seleções de seus países, nossos visitantes nos apontam – nós, os brasileiros! – como o melhor deste mundial. É cultural, é visceral, é intrínseco sermos desta forma, e o mundo nos ama por causa disso. Mas o mundo também nos condena por nossa falta de iniciativa, de proatividade. Estão errados? Quantos de nós se distraíram vendo a Seleção jogar, enquanto tudo acontecida aparentemente de forma alheia ao que estava acontecendo em nossos estádios, em nossos bares e restaurantes, em nossas praias, ruas e avenidas? 'Mas como assim? A vida não parou por causa da Copa?' – a resposta é pungente e ressonante 'não'. A vida urge, tem pressa e não perdoa desperdícios. Temos criatividade e força de sobra para exceder expectativas – em especial as nossas. Aquela famosa e repetitiva frase 'Imagina na Copa!' é um exemplo claro de que estamos muito enganados sobre o nosso potencial. Fizemos um evento considerado por toda a imprensa internacional como o melhor dos últimos anos, em termos de organização e qualidade de serviços; nossas estruturas – polêmicas à parte – foram capazes de atender seus propósitos e não deixaram a desejar em nada, se comparadas à de países que também já sediaram Copas do Mundo, como África do Sul e Alemanha. Fizemos muito mais do que poderíamos ter sonhado; podemos muito mais do que aquilo que já foi feito. O primeiro passo é deixar de lado as 'muletas do conformismo': pararmos de nos apoiar em desculpas que não nos deixam ser tão ousados e inovadores quanto possível, deixarmos de postergar importantes iniciativas e decisões em detrimento de coisas ou fatos que, em princípio, parecem ser definitivos, mas que ao longo do tempo se mostram nem tão importantes assim. Precisamos surfar a onda, entrar no bonde, aproveitar pequenas oportunidades: o timing é o senso de oportunidade que vai definir quando podemos, eventualmente, mudar o rumo de nossas vidas. Devemos nos voltar para o que realmente nos interessa, sem subterfúgios e munidos pelo poder de transformação, e o 'plano de jogo' é, de fato, simples. O potencial latente precisa ser investido em identificar um 'problema' – que, aqui, traduzo livremente para o termo 'oportunidade' – e sua solução, tomar a decisão adequada para a situação que se apresenta, traçar meios e definir objetivos para, finalmente, acompanhar os resultados. Tanto investimento estratégico de força inteligência não pode, e nem deve, resultar em nada menos do que o sucesso. E, se por algum motivo, este não for o desfecho da empreitada, cabe voltar à prancheta, analisar o processo e, novamente, identificar o problema/oportunidade. O resto do caminho, certamente, já será conhecido. Antes de voltar a trilhá-lo, no entanto, cabe isentar-se de todo e qualquer tipo de culpa. Dar fim à 'barrigada', velha conhecida dos brasileiros; não aferir em si próprio, nem muito menos nas circunstâncias externas (não importam quais sejam elas) mil-e-um motivos para o fracasso. Temos a faca e o queijo na mão – não perca tempo e energia com tão pouco. Resumindo, precisamos nos livrar – urgentemente! – do 'Complexo de Vira-lata' que carregamos há tantos e tantos anos. Provar que o 'jeitinho brasileiro' é o da superação, e que o querido Zé Carioca só nos representa pela alegria colorida que, hoje, brilha intensa aos olhos do mundo. Décio Casarejos Pecin Jr. é presidente da rede de Ensino de Idiomas CNA. Contador, Administrador de Empresas com especialização em Economia e MBA em Gestão Empresarial, Décio tem formação acadêmica em instituições como PUC-SP, FEA-USP e FGV. É professor de Economia e Gestão Financeira de Empresas, palestrante e autor de artigos sobre economia e negócios.