Pense na pior notícia que você poderia ler hoje. É ainda pior: o chocolate no mundo pode acabar. E o principal vilão — dentre outros — é a demanda global pelo produto, que já supera em muito a produção. Segundo duas das maiores fabricantes do mundo, a Mars Inc e a Barry Callebaut, o cenário é potencialmente desastroso caso a tendência se mantenha. Em 2013, o consumo mundial do doce superou o volume produzido em 70 mil toneladas métricas. Caso a tendência persista, em 2020 esse déficit deve chegar a 2 milhões de toneladas métricas. Essa pode ser a maior sequência de déficits anuais de chocolate em mais de 50 anos. O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor do mundo, atrás apenas dos EUA e Reino Unido. A previsão é que o país chegue à vice-liderança em 2016, segundo previsão do Euromonitor. O apetite dos chineses também aumenta a cada ano, embora o consumo por pessoa seja equivalente a apenas 5% do que um europeu ocidental consome. O tipo de chocolate favorito dos consumidores também influencia esse mercado: o tipo amargo, que contém mais de 70% de cacau, está ficando mais popular do que o tradicional ao leite, que contém apenas 10%. Por um lado a demanda cresce, e por outro a produção cai. Na África Ocidental, principalmente Costa do Marfim e Gana, onde são produzidos cerca de 70% do cacau de todo o mundo, a produção caiu por conta do clima seco. Outro problema sério é a proliferação do fungo Moniliophthora roreri — de acordo com a Organização Internacional do Cacau, estima-se que a praga tenha comprometido de 30% a 40% da produção global. Esse fator espantou alguns produtores, que resolveram investir em outras culturas, como o milho. Para terminar a série de tragédias, há o surto de Ebola na África ocidental, que elevou por si só o preço do cacau em 23%. O receio tem fundamento, porque essa é a realidade de quem trabalha em fazendas de cacau na África. Preço Para buscar o velho equilíbrio entre oferta e demanda, o mercado está ajustando os preços de acordo. Desde 2012, ano em que o consumo passou a superar a produção, a alta nos preços do cacau foi superior a 60%. Inovação Pesquisadores da área de agronomia da África Central já estudam soluções, como árvores capazes de produzir até sete vezes mais cacau do que o normal. Entretanto, esse aumento genético na eficiência pode prejudicar o sabor, como acontece com o tomate e morango. Nesse caso, o consumidor vai ter que se acostumar: é isso ou um colapso que pode derrubar a indústria global de chocolate. Com informações do Estadão