A morte de dois estudantes chineses que usavam máscaras ao se exercitarem levantou um alerta quanto à segurança do uso das máscaras durante o exercício físico. A explicação para isso seria que a máscara levaria a um acúmulo do gás carbônico expirado, com risco para intoxicação pelo próprio gás carbônico. Tanto o exercício físico, como o uso de máscara são muito importantes nesse período que estamos vivendo. Porém depois desses acontecimentos, a comunidade médica tem se unido para avaliar se os riscos são reais ou não, explicou o ortopedista e médico do esporte, João Hollanda. As moléculas de gás carbono, porém, são minúsculas e não serão retidas pelas máscaras – elas são muito menores do que as gotículas contendo o novo coronavírus que as máscaras foram projetadas para reter. Além disso, nem as máscaras caseiras recomendadas para a prática de exercícios, nem as máscaras cirúrgicas vedam a saída do ar pelas laterais, impedindo, assim, o acúmulo significativo de gás carbônico. O gás carbônico pode, de fato, aumentar com o uso da máscara, mas não o suficiente para colocar o usuário em risco. Porém a proteção oferecida pelas máscaras com as atividades físicas é limitada, principalmente nos exercícios de alta intensidade. Assim, não devemos nos sentir seguros simplesmente por fazer o uso delas. A prática de exercícios em locais e horário com baixa circulação de pessoas é uma medida tão ou mais importante. Enquanto as máscaras forem obrigatórias, não há discussão, elas devem ser utilizadas. À medida que essa obrigatoriedade deixa de existir, a decisão deve ser feita individualmente: se for possível mantê-las secas, sem ficar mexendo nelas o tempo todo, e se o nível de exercício que se pretende realizar for factível mesmo com a máscara, elas aumentarão a proteção e deverão ser utilizadas. Caso contrário, o benefício será muito reduzido, esclarece Hollanda. O que muda nos diferentes tipos de máscaras? As máscaras servem como uma barreira para proteger o usuário quando em contato próximo com pessoas infectadas e para proteger as pessoas próximas na eventualidade de o usuário da máscara estar infectado. Esta proteção a terceiros é importante, uma vez que a maior parte das infecções acontece a partir de pessoas sem sintomas, que, por não terem ideia de que estão infectadas, deixam de se proteger. A proteção a terceiros é relativamente eficaz independentemente do tipo de máscara; mas, a proteção individual varia bastante de acordo com o modelo utilizado. As máscaras mais eficazes são as N95. São máscaras usadas principalmente pelos profissionais da saúde e outros profissionais em contato direto com pacientes contaminados. Como o nome indica, foram projetadas para bloquear até 95% de todas as partículas muito pequenas. A demanda pelas máscaras N95 aumentou bastante devido à pandemia, e existe uma recomendação para que a população em geral deixe este tipo de máscara para os profissionais da saúde e de outras áreas que mantêm contato próximo com pacientes, para que não falte para aqueles que mais necessitam delas. Para serem efetivas, as máscaras N95 precisam estar muito bem adaptadas ao rosto, de forma a impedir a entrada e saída de ar pelas laterais. O segundo tipo são as máscaras cirúrgicas. São máscaras descartáveis e com maior capacidade de filtrar o ar do que as máscaras de pano. Por outro lado, são menos efetivas do que as N95, uma vez que apenas cerca de 70% do ar externo se move através das máscaras, com os outros 30% entrando pelas laterais, sem ser filtrado. Por esse motivo, ainda que a proteção para terceiros seja significativa, para o usuário ela é bastante reduzida quando comparada com a N95. Outra desvantagem das máscaras cirúrgicas é que elas precisam ser trocadas a cada 2 a 4 horas. As máscaras caseiras, por fim, são bastante diferentes umas das outras, mas todas devem ser feitas com um material suficientemente denso para capturar as partículas virais e, ao mesmo tempo, oferecer facilidade na respiração. Devem também ter tamanho suficiente para cobrir o nariz e estender-se até abaixo do queixo. Mais do que proteger um usuário, sua finalidade é principalmente a de evitar que um usuário contaminado propague o vírus. Uso de máscara na prática esportiva Ao falarmos sobre o uso de máscara na prática esportiva, devemos considerar qual o tipo e a intensidade do exercício realizado. As orientações são totalmente diferentes para uma pessoa que busca fazer uma caminhada rápida ou para um atleta que corre, anda de bicicleta ou treina pensando em alto rendimento. O uso de máscara em atividades de leve intensidade é mais factível, já que o aumento no esforço respiratório é menor, o paciente não sua muito e a adaptação entre a máscara e o rosto é mantida com mais facilidade. Em teoria, todas as máscaras descritas acima podem ser usadas nessa situação, ainda que a dificuldade de respirar seja maior com a N95, seguida pela máscara cirúrgica e, por fim, a máscara caseira. Nas atividades de maior intensidade, o uso de máscaras possui diversos fatores limitantes a serem considerados: • Capacidade de proteção: quando duas pessoas usam máscaras e estão a uma distância de ao menos dois metros uma da outra, sem que façam esforço físico e em um ambiente sem vento, a probabilidade de transmissão do novo coronavírus é bastante reduzida. O exercício físico, porém, faz com que o esforço respiratório aumente, de forma que o distanciamento também precisa aumentar para continuar seguro. Em alguns casos, deve ser maior que 10 metros. Esse distanciamento é impossível em ambientes como parques ou calçadões de praias, de forma que a eficácia do uso de máscara para barrar a transmissão do vírus torna-se bastante frágil. A melhor saída, nesses casos, é exercitar-se em locais e horários nos quais o contato com outras pessoas será reduzido ao mínimo. • Suor: Quando as máscaras ficam úmidas, o ar não é mais capaz de atravessar o tecido, de forma que a entrada e saída de ar pela respiração passa a acontecer pelas laterais da máscara, sem que ele seja filtrado e a capacidade de impedir a transmissão do novo coronavírus torna-se bastante reduzida. A troca frequente da máscara pode até ser uma opção nas atividades mais leves, mas manter uma máscara seca em atividades físicas mais intensas é quase impossível. • Ajuste da máscara: quanto maior a movimentação, mais difícil manter o ajuste entre a máscara e o rosto do atleta. Nos esportes de contato, incluindo o futebol e as modalidades de luta, é impossível. Muitas vezes, o atleta ficará mexendo na máscara para ajustá-la, o que aumenta o risco de contaminação, caso a máscara tenha sido contaminada. • Dificuldade para respirar: A máscara aumenta o esforço necessário para respirar durante o exercício, o que impede a realização de atividades com esforço máximo ou submáximo. Segundo um estudo publicado em 2005 por pesquisadores de Hong Kong, o uso de máscaras cirúrgicas ou máscaras N95 levaram ao aumento da frequência cardíaca, aumento na sensação de fadiga e aumento da temperatura quando comparado ao mesmo esforço realizado sem o uso das máscaras.