Tenho ouvido desde os primeiros dias das manifestações que esta é uma manifestação sem partidos, que é a voz do povo, a voz das ruas. Tenho ouvido diversos especialistas falando sobre a importância das redes sociais no 'planejamento' das manifestações. Tenho ouvido que os governos devem abrir canais de comunicação direta com a população ou aprimorar os existentes. Ouvi atentamente o pronunciamento de nossa presidente, dizendo 'estar atenta às vozes que veem das ruas'. Pensando em canais de comunicação vejo uma situação alarmante. Como podemos ser ouvidos pelos órgãos competentes, se mal conseguimos cancelar uma linha de telefonia móvel? Os chamados serviços de atendimento ao cliente são 'altamente sensíveis' com suas máquinas 'falando conosco'. O grande desafio dos governos e da sociedade é entenderem que a era da tecnologia da informação esta distante da era da comunicação. O potencial humano ainda é o determinante para a comunicação, parece óbvio, porém muitos parecem se esquecer. Somente gente é capaz de entender os anseios, os desejos, os sonhos de uma sociedade. Gráficos, planilhas, números são ferramentas importantíssimas para nos iluminar os caminhos da vida profissional, mas gente é essencial. Onde encontram-se os profissionais Ombudsman que tanto sucesso fizeram no passado? Não posso afirmar que esta é a solução, mas acredito que é o caminho. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele […]. (FREIRE, 1999: 127-128)