Por muitos anos a visão sistêmica da área de Recursos Humanos das corporações foi considerada um avanço útil e importante na sua contribuição para o mundo empresarial, num mercado cada vez mais globalizado e competitivo. Era claramente compreendido que seu papel se baseava em quatro sistemas, a saber: Captar, Integrar, Manter e Desenvolver recursos qualificados e com motivação suficiente para agregar valor às empresas, ao mesmo tempo em que sentiam-se fortemente identificados com a mesma. Ou seja, uma lealdade corporativa que ultrapassasse o mero chavão do vestir a camisa. Em muitos casos os programas de integração, desenvolvimento e benefícios conseguiam tatuar a imagem corporativa nas pessoas. E elas sentiam-se felizes e realizadas com isso. Foi possível constatar que, especialmente nos níveis de média e alta gerência, as pessoas entregavam suas vidas e carreiras à empresa. Incorporavam o sobrenome de tal forma que nem ao menos se preocupavam em manter uma identidade própria. Ou pelo menos dela não sentiam falta já que o mundo, e a sociedade de uma forma geral, valorizam o vínculo corporativo muito mais do que a individualidade. Surgiu de todo este movimento o homem organizacional. Mas ao longo dos últimos anos deste novo século muita coisa mudou em nossa realidade. Constatou-se que as corporações também morrem ou desaparecem. Elas já não podem ser vistas como entidades imortais à qual podemos entregar nossas vidas e identidade. Com base neste conjunto de desafios e oportunidades provocados por um mercado altamente desafiador, também as carreiras se tornaram mais curtas e muitas competências, ou até profissões, enfrentaram uma obsolescência arrasadora. Paralelamente a todo este movimento ocorriam, no campo da medicina, significativas conquistas biológicas que propiciaram ao ser humano maiores índices de longevidade. E não apenas um mero alongamento da vida. Mas a oportunidade de poder desfrutar destas conquistas com uma melhor qualidade de vida. Como resposta a todo este conjunto de desafios novamente nossos gurus de plantão vieram com soluções imediatistas e pragmáticas. Surgiu o conceito de empregabilidade como uma atenuante à dor provocada pelo desemprego. Mais recentemente estamos importando o EVP – Employment Value Position -, onde a marcada empresa é utilizada, mercadológicamente, como uma forma de atrair novos funcionários. Para muitos até parece que não existe vida – e muito menos realização ou felicidade – fora do mundo das empresas. Programas de desligamento voluntário ou compulsório, e até de aposentadoria, eram amenizados com um tratamento didaticamente semelhante ao que as empresas sempre fizeram para Captar,Integrar, Manter e Desenvolver seus recursos humanos. Ou seja, se continuava gerando dependência e vínculo com alguma entidade que funcionasse como guarda-chuva protetor de pessoas despreparadas para uma vida cidadã. Diante disto vale registrar que um novo sistema deve fazer parte das políticas e práticas de Recursos Humanos. E este novo sistema deve estimular as pessoas a se desenvolverem em todos os seus demais papéis além do profissional. O compromisso da empresa com seus colaboradores não deve restringir-se aos seus interesses exclusivos, mas também na sua responsabilidade como parte de um universo mais amplo. Portanto, além de Captar, Integrar, Manter e Desenvolver, é fundamental também provocar o auto-desenvolvimento como uma forma de preparar o colaborador no seu processo de substituição da identidade coroporativa. E este encaminhamento deve ser feito buscando formas que desenvolvam a responsabilidade individual como algo que é intransferível. Cabe a empresa criar programas que permitam ao próprio indivíduo encontrar formas criativas e confortáveis de reinserção na sociedade, família e círculo de relacionamentos. Já foi possível comprovar que toda aquela pessoa que se apropria do seu destino agrega mais valor à empresa, além de sentir-se melhor cidadão e responsável pelo sucesso das suas múltiplas identidades. Esse encaminhamento não pode ser encarado como um benefício assistencialista a ser desenvolvido apenas nos programas de preparação para o desligamento da empresa. Ele pode ser também muito útil e de forma preventiva, com os atuais ocupantes de cargos que foram educados dentro de uma perspectiva ultrapassada de que a corporação é a única responsável pelos seus projetos de vida. Portanto, trabalhar este quinto sistema –reinserção social ou Pós-Carreira como o intitulei a partir dos anos 80 – deve ocorrer desde o início da formação do profissional e se estender aos processos que as empresas criam para preservar o vínculo… enquanto ele dure. Recomenda-se aos profissionais de recursos humano estendam seu olhar crítico para as oportunidades que ultrapassam os muros das empresas. Seu compromisso exige uma visão também ao país e ao mundo. Para tanto não basta esperar que apenas as associações de classe ou entidades representativas o façam. Cabe a cada um de nós descobrir oportunidades onde muitos apenas enxergam problemas.