Todos conhecem, direta ou indiretamente, os malefícios dos entorpecentes, mas então porque os conselhos não bastam para afastar os jovens das drogas? Um dos problemas é que estes conselhos são dados por pessoas que desconhecem o que é ser um dependente químico (na maioria das vezes nunca usaram drogas) e por conta disso o discurso soa vazio, desprovido de vivência. Isso já não ocorre nas seções de terapia de grupos de ajuda mútua, como as promovidas pelos narcóticos anônimos, onde os depoimentos partem de pessoas que experimentaram este mundo, que podem atestar o que lhes atraiu, o prazer proporcionado no começo, a dependência que se segue e as dificuldades de se libertar do vício. Falar de controle emocional é fácil para quem nunca experimentou momentos de fúria onde perdemos a razão e “vomitamos” tudo que nos vem à mente sem filtros sociais ou atacamos de “Super Sinceros”, personagem brilhantemente personificado pelo ator Luiz Fernando em um seriado homônimo. Para Goleman (1995) as explosões emocionais são sequestros neurais. A amígdala, um centro no sistema límbico, detecta uma emergência e recruta o resto do cérebro para o seu plano de emergência. E o nosso cérebro pensante, o neocórtex, ainda não percebeu o que está acontecendo. Esses sequestros ocorrem conosco com certa freqüência, quando perdemos o controle e explodimos com alguém e depois ficamos arrependidos e perplexos com nossa ação irracional. Em alguns momentos, felizmente cada vez mais raros, experimentei esta sensação de desconforto, e neste patamar de “dependente” é que me propus a escrever este artigo. Muitas pessoas, equivocadamente, creditam o controle emocional à supressão definitiva da emoção. As pessoas que desprezam as emoções nas suas relações não são mais inteligentes emocionalmente de quem as coloca em primeiro plano em detrimento da razão. Também não é saída deixar de expressar opiniões ou tomar decisões importantes a despeito de oposições, discordância ou até mesmo desaprovação de outrem, temendo o confronto que poderia desencadear uma explosão emocional. De acordo com Goleman (1995), cada emoção leva consigo uma disposição distinta para a ação rumo à direção que deu certo no lidar com os recorrentes desafios da vida humana, ficando gravadas em nosso sistema nervoso como tendências inatas e automáticas do coração humano. Cada pessoa tem impresso em sua formação, experiências emocionais vividas quando criança (in útero, inclusive), adolescência e vida adulta, sejam no âmbito familiar ou social e este mapa emocional não pode ser desconsiderado ou erradicado da nossa história. Na música “Meu Reino” da banda Biquini Cavadão seu carismático vocalista Bruno Gouveia canta os seguintes versos que sintetizam como moldamos nossa realidade: “Mas eu preciso de outros sapatosDe outras roupas, outros temperosPara formar minhas idéias e meus sentimentosEu sou a soma de tudo que vejoE minha casa é um espelhoOnde a noite eu me deito e sonho com as coisas mais loucasSem saber por quê. É porque trago tudo de foraViolência, dúvida, dinheiro e féTrago a imagem de todas as ruas por onde passoE de alguém que nem sei quem éE que provavelmente eu não vou mais verMas mesmo assim ela sorriu para mimEla sorriu e ficou na minha casa que é meu reino” Já faz tempo que “os problemas de casa ficavam em casa” quando estávamos no trabalho e os problemas no trabalho “não afetavam” nossa relação em casa. Nossa composição é racional e emocional e suscetível a variações no ambiente externo. Para melhor lidar com nossas emoções, se com freqüência perdemos o controle, o primeiro passo é reconhecermos esta “dependência” e que precisamos de ajuda. No contexto empresarial uma avaliação bem realizada acompanhada de um processo de coaching pode ser decisiva para a “recuperação” do “dependente”. Para se obter o resultado esperado este processo não pode ser pautado na critica desvinculada de quem se acha imune à situações de “seqüestro da amígdala”, pois neste caso o discurso será inócuo, assim como daqueles feitos aos dependentes químicos por quem nunca vivenciou este universo. Em seu livro “Trabalhando com a Inteligência Emocional”, quando Goleman aborda a questão da autoavaliação precisa, ele destaca a dificuldade que temos em reconhecer nossas falhas e de receber feedbacks construtivos. “Uma das informações mais difíceis de serem encontradas na vida empresarial é o comentário honesto e construtivo sobre como estamos nos portando, principalmente em relação a nossas falhas. Há uma espécie de trato de Fausto nessa cumplicidade de se agir como se tudo estivesse perfeito, quando na verdade não esta. Com isso, obtemos a ilusão de harmonia e eficácia, à custa da verdade que poderia abrir caminho para uma melhora genuína”. Cientes da nossa condição, devemos identificar quais situações despertam estas emoções descontroladas para que seja possível tratá-las de forma adequada. Seguindo o lema dos grupos de ajuda mútua, “é preciso viver um dia de cada vez” e manter-se sob vigilância interna constante, evitando um contato direto com “o entorpecente” e uma provável recaída emocional até que tenhamos desenvolvidos ferramentas internas que nos ajudem a lidar, de uma forma cada vez melhor, com as “tentações” diárias. O caminho para quem deseja evoluir e não ser um adicto emocional não é fácil, mas recompensador. Aqui quem fala é Luis Anjos e eu estou há três semanas “limpo”.