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Outro dia uma desenhista me perguntou se ela poderia patentear o design inovador de uma cadeira criada por ela. Constantemente tenho sido questionada por esse tipo de pergunta que demonstra total desconhecimento de dois assuntos bem distintos dentro da Propriedade Industrial: patentes e design (desenho industrial). Respondi à pergunta com uma outra: você quer proteger algum mecanismo interno de sua cadeira ou apenas sua parte bonita de se ver? Ao que, toda orgulhosa, ela me respondeu que queria proteger o aspecto bonito da cadeira, pois, iria expô-la em uma Feira Internacional de Design e precisava se proteger.
O que são patente e design? Qual a diferença entre essas duas forma de proteção?
Tanto a patente quanto o desenho industrial (design) são títulos temporários concedidos pelo Governo, representado no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI – ao inventor (patentes) e ao autor de desenho industrial. Essas duas formas de proteção apresentam uma afinidade, ambas exigem a comprovação da aplicação industrial, quer dizer, os objetos da proteção devem ser feitos ou utilizados em qualquer tipo de indústria, conseqüentemente, não podem ser produtos artesanais.
Para que algum produto industrializado seja considerado uma patente, entre outras exigências legais, é necessário que ele comprove um considerável avanço tecnológico (privilégio de invenção) ou, uma melhoria funcional (modelo de utilidade), considerando o aspecto interno do produto.
Por outro lado, o artigo 95 da Lei de Propriedade Industrial – LPI, nº 9.279/96 – define desenho industrial como sendo a forma plástica ornamental de um objeto ou conjunto de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando um resultado visual novo e original na sua configuração externa. Quer dizer, enquanto que na patente ressalta-se a parte interna do produto, no desenho industrial, o visado é sua parte externa.
Dessa forma, no caso da desenhista, o que ela pretendia era depositar um pedido de registro de desenho industrial (design) e não, uma patente. Ela foi aconselhada a procurar o Órgão competente para efetuar a proteção necessária.

Posso patentear o design da minha cadeira?

Tanto a patente quanto o desenho industrial (design) são títulos temporários concedidos pelo Governo, representado no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial  INPI  ao inventor (patentes) e ao autor de desenho industrial.

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Administradores | Conhecimento para Resultados

É inquestionável o atraso crônico
do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no exame de pedidos de
patente depositados. Desde a década de 1980 o Instituto tem como meta a redução
do tempo utilizado para o exame dos pedidos de patente depositados, contudo,
até o momento não tem alcançado resultados que atendam as necessidades da
sociedade. Essa dificuldade muitas vezes tem contribuído para o descrédito de
empresas, inventores isolados (sem vínculo empregatício), pesquisadores e até
mesmo empresas estrangeiras em protegerem seus inventos no País.

Diariamente a sociedade pergunta
“Qual o motivo de tanto atraso?” São vários: um, é o enorme backlog (tempo médio em que o pedido
espera para ser analisado) acumulado ao longo de décadas aliado a quantidade de
depósitos que tem aumentado anualmente no INPI. Atualmente, segundo o Instituto,
o prazo médio de espera tem sido de dez anos, ou seja, mais que o dobro de
países desenvolvidos. Felizmente, esse atraso na decisão dos pedidos
não tem sido um entrave muito grande, haja vista que, segundo o próprio
Instituto, entre 2011 e 2012 o número de depósitos de pedidos de patente subiu
6%, sendo que, no total foram depositados 33.780 pedidos. Ainda de acordo com o
Instituto, anualmente são analisados 3.173 pedidos. 

Outra justificativa para o atraso
é a constante saída de examinadores seja por aposentadoria ou porque vão
trabalhar em empresas privadas ou mesmo, porque passam em outros concursos
públicos mais adequados ao perfil de cada um. Outro motivo também muito
importante é a inabilidade dos inventores/depositantes na redação dos pedidos
de patente, gerando pedidos mal formulados, insuficientemente descritos que não
atendem ao requisito mínimo para a concessão da patente (O relatório deverá descrever clara e
suficientemente o objeto, de modo a possibilitar sua realização por técnico no
assunto, artigo 24 da Lei de
Propriedade Industrial 9279) e, com isso, atrasando ainda mais o exame de
patentes pois, o pedido geralmente é descrito de uma forma tão ampla que não dá
para entender o que realmente está sendo reivindicado. De acordo com
informações do próprio INPI, anualmente são analisados aproximadamente 15 mil
pedidos de patente, entretanto, desse total, apenas 30% tem a
patente concedida.

O Diretor
de Patentes do INPI, Julio Cesar Castelo Branco, informou que a meta do INPI é redução
da espera para a decisão dos pedidos para quatro anos. É preciso ter em mente
que esse atraso nas decisões do INPI não prejudica apenas a sociedade, mas
também, dificulta em muito o trabalho do examinador de patentes que tem que
perder tempo analisando tecnologias já obsoletas (devido à demora na análise)
uma vez que, todo pedido de patente que dá entrada no INPI tem que ser
analisado, para garantir (ou não, caso da Carta Patente não ser concedida) os
direitos do depositante do pedido. Não é pelo fato da tecnologia já estar em
desuso que o pedido pode ser esquecido.

 Para alcançar a meta de redução no tempo de
espera nessa fila, o INPI adotou algumas medidas. Entre elas, acabou de lançar no
Congresso INPI, realizado no Rio de Janeiro, o sistema e-patentes. Com a
implantação desse novo sistema, a expectativa do Órgão é aumentar a agilidade
no processamento dos pedidos em 20%. O e-patentes foi criado baseado no sistema
adotado pelo Escritório Europeu de Patentes que, entre outras facilidades,
permite a correção de alguns erros corriqueiros cometidos pelo depositante no
próprio sistema. Outra medida adotada pelo Instituto foi a solicitação e, agora,
a expectativa de aprovação pelo Senado Federal para a realização de concurso
público no Órgão até o final deste ano, de acordo com o Presidente do INPI, Jorge
Ávila. 

Ao longo de
décadas, o INPI tem mostrado que não se conforma com esse atraso na concessão
de patentes e tem sempre procurado soluções para agilizar os processos. Resta à
sociedade aguardar os resultados alcançados com a colocação em prática das
novas medidas divulgadas pelo INPI no Congresso realizado no Rio de Janeiro.

O que fica
de tudo isso? Que esse atraso do INPI na decisão dos pedidos de patente não
deve justificar a falta de proteção da Propriedade Industrial (no caso de
patentes) pelo depositante nacional. Todos sabem que a Justiça brasileira é
cara e morosa, entretanto, ninguém deixa de recorrer a ela para garantir seus
direitos.

INPI procura agilizar exames de pedidos de patente

O senhor Flavio (nome fictício) reside em uma região industrial e nos fundos de sua casa passa um córrego totalmente poluído. Em sua infância ele nadava naquelas águas puras e cristalinas, hoje, essa brincadeira de criança é impossível. O que antes era brincadeira e liberdade, hoje traz doenças e perigo.Preocupado com as questões de saúde e também, ambientais, o sr. Flavio resolveu colocar as mãos na massa e encontrar uma solução para o problema.
 Enfrentou muita luta, mas, depois de algum tempo, finalmente encontrou a solução para a limpeza das águas do seu córrego e também, de todos os rios da região e quem sabe, de todo o planeta! Logo comentou a solução encontrada com os amigos que imediatamente lhe disseram "você tem que patentear esse processo logo, se não, vão copiar". Aqui no Brasil, todo mundo copia tudo. Foi voce quem resolveu o problema vai querer que alguém roube sua invenção?"Pronto, pensando que tinha resolvido um problema, ele não imaginava que outro estava apenas começando. O que é patente? Como efetuar seu depósito? Onde ir?
 Depois de muita procura, o sr. Flavio ouviu falar do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI – e foi procurá-lo para ter informações a respeito do depósito da patente. Ao ser atendido e questionado em relação ao seu problema, ele, desconfiado e olhando para os lados, ficou temeroso de dizer qual o seu processo pois, temia que alguém pudesse escutá-lo e roubar sua invenção. Recusava-se terminantemente a dizer qual o seu assunto. Ele só queria uma coisa: depositar sua patente e sair de lá pra vender seu processo e, quem sabe, "oferecê-lo ao presidente para implantá-lo em todo o Brasil".
 Ficção? História? Infelizmente não. Essa é a realidade nos protocolos do INPI. Não se passa um dia sem que cheguem srs. Flavio, que podem ser, desde uma pessoa simples a até mesmo um pesquisador ou empresário, vivendo essa situação angustiante, um misto de temor e desconhecimento na área de patentes, apesar de toda a informação na mídia.
O sr. Flavio foi direcionado para uma conversa com a examinadora de patentes do INPI, para sanar suas dúvidas. Ele foi logo iniciando a conversa dizendo que ele já havia registrado seu projeto no Cartório de sua cidade, já tentando se proteger.
 A conversa com os inúmeros srs. Flavio foi a força propulsora para escrever esse livro. Esclarecer, em linguagem simples e direta, esse assunto tão falado, tão escrito mas, ainda tão confuso e distante de muitas pessoas. Muitas invenções são perdidas pelo desconhecimento das pessoas que deixam de proteger a invenção ou mesmo, de acompanhar a tramitação dos processos e, com isso, muitas pesquisas são literalmente jogadas fora, fazendo com que tanto o depositante e a sociedade como também o País, sejam impedidos de usufruir seus benefícios. Assim, o objetivo específico desse livro, não é explicar os "porquês", mas, o "como" as coisas funcionam.
Pois bem, sr. Flavio, vamos começar. Começamos com a distinção entre Propriedade Intelectual e Propriedade Industrial, dois assuntos que são constantemente confundidos e misturados; onde depositar a patente; a diferença entre marcas e patente; a distinção entre as naturezas da patente; a tramitação do processo; os direitos e deveres do depositante; a necessidade da busca de patentes antes do efetivo depósito; os sites de busca; as partes que compõe a patente, as informações para o depósito do pedido de patente no exterior; e, finalmente, a redação de um pedido de patente. Muitas perguntas foram feitas e respondidas ao longo de nossa conversa. Todavia, outras tantas com certeza, virão pois, não se teve a pretensão de esgotar esse assunto tão amplo.
Introdução do livro "Patentes como redigir, depositar e conseguir - Segredos Revelados", da autoria de Sonia Regina Federman, editado Fundac.
Esse livro pode ser parcialmente degustado no Google Book.

Patentes como redigir, depositar e conseguir - Segredos Revelados

Há pouco mais de dois séculos o Brasil foi um vanguardista mundial ao pertencer ao seleto grupo de quatro países a ter sua Lei de Patentes. O tempo passou e apesar dos esforços empreendidos pelo Governo (incentivos e criação de núcleos tecnológicos, entre outros) a posição brasileira no ranking dos países depositantes de patentes nos Estados Unidos, continua vexatória. Parece que todo o trabalho tem sido em vão, pois continuamos com a lanterninha nas mãos, quando, mais uma vez, somos comparados ao países em desenvolvimento pertencentes ao Brics (grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China).
Muito se tem discutido a causa de tanto atraso nesse quesito importante para tornar o País respeitado na área de propriedade industrial (a que se refere especificamente a Patentes). Uns se baseiam em uma série de mitos – patente é complicado, burocrático, ninguém respeita, etc. – outros, alegam que preferem copiar o que já está protegido para "ganhar tempo e dinheiro", pois, como se sabe, pesquisa tem um elevado custo e às vezes, não se chega a um resultado interessante. Mas, na verdade, qual a real situação brasileira? Quem são seus depositantes de patente? Por que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é tão demorado na concessão delas?
De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) o Brasil está fazendo seu dever de casa com relação aos depósitos. No período de 2000/2010 teve uma variação percentual positiva de 158% em depósitos enquanto a Espanha, 159%, o Chile, 254%, e a Coréia do Sul (um país menor que o Estado do Rio de Janeiro), 356%. Ainda segundo o MCT no mesmo período, o Brasil possuía 138.653 pesquisadores dedicados à pesquisa, superado apenas pelo Reino Unido (235.373) que ocupa a 6ª colocação no ranking de patentes, a Coréia (264.118), ocupando a 4ª colocação no ranking e a Alemanha (327.500), a 3ª posição. Assim, nosso número de pesquisadores não está tão desproporcional em relação aos outros países.
Ainda de acordo com os dados disponibilizados pelo MCT, em 2010 o Brasil depositou cerca de 568 pedidos de patentes no Escritório de Patentes Americano (USPTO), a China 8.162 pedidos (com variação percentual de 1.640%), a Rússia 606 pedidos (com variação percentual de 58%) e a Coréia, nada menos do que 26.040 pedidos. Eis o nosso problema: bom número de pesquisadores de alto nível e péssimo número de depósitos de patente.
Com muito esforço Brasil vai procurando fazer sua parte, apesar de tudo. De acordo com o próprio INPI em 2011, 7.764 residentes brasileiros depositaram pedidos de patente contra 24.001 depositantes estrangeiros que elegeram o Brasil para depositar suas patentes perfazendo um total de 31.765 pedidos depositados. Mais uma vez, esses dados comprovam de um lado a importância que os países desenvolvidos conferem à proteção de patentes e do outro lado, nossa displicência. Os estrangeiros não apenas depositam patentes em seus países como também, depositam em outros potenciais delimitando seus espaços comerciais e industriais. Com os esforços aplicados (concursos, agilização de exame técnico, etc.) para aumentar o número de depósitos de patente, o INPI estima que em 2012 sejam depositados 35.000 pedidos de patentes entre residentes e estrangeiros; em 2013, 42.000 pedidos e em 2014 o equivalente a 50.000 pedidos depositados.
Existem várias explicações para o pífio desempenho brasileiro. Uma, está na localização desses pesquisadores. Ainda segundo o MCT, em 2010 cerca de 67,6 % dos pesquisadores estavam centrados nas universidades e centros de pesquisa enquanto que 25,9% estavam nas empresas (5,5% trabalhavam no Governo). Por outro lado, na Alemanha 57,1% dos pesquisadores estão nas empresas, 27,4% nas universidades e 15,5% trabalham no Governo. Na Coréia, 76,5% deles está gerando tecnologia nas empresas enquanto que, 14,9% estão gerando pesquisa básica para sustentar a tecnologia coreana. Os dados sugerem que se quisermos alcançar nosso merecido desenvolvimento e respeito tecnológico o exemplo coreano é muito bem vindo, ou seja, a indústria nacional deveria procurar absorver os pesquisadores em seus quadros, pois, o desenvolvimento tecnológico é função e responsabilidade da indústria e não das universidades cujo principal objetivo é a produção de conhecimento e pessoal qualificado. Entretanto, cabe observar que as universidades nacionais também não podem se furtar à responsabilidade de proteger o produto de todo investimento que recebem, ou seja, aquela pesquisa básica que tem potencial industrial. O empresariado nacional é muito imediatista, não quer "perder dinheiro", não quer correr riscos, pois, todos sabem que algumas vezes, depois de anos de pesquisa e investimento os resultados não são tão interessantes no momento o que, no entendimento dos empresários, é perda de tempo e dinheiro.
Outra explicação para o baixo desempenho nacional é atribuída ao INPI por a sua demora na concessão das patentes. Esse atraso tem sido um grande aliado à manutenção do descrédito ao patenteamento tanto de nacionais quanto de estrangeiros. Apesar dos constantes concursos para ingresso de Pesquisadores (examinadores de patentes) nos quadros do INPI, o número desses examinadores responsáveis pelo exame de patentes ainda é muito baixo, apenas 273, segundo o próprio Instituto. Esses poucos têm a frente um backlog de quase 163 mil pedidos de patente, sem contar com os 106 mil pendentes. Apenas como ilustração, o Escritório de Patentes Europeu possui 1.567 examinadores e o Escritório Americano, 5.477.
Guardando as devidas proporções, pode-se comparar o trabalho do examinador de patentes com o de um juiz. Enquanto o primeiro de posse do descritivo técnico da invenção julga se a matéria atende ao disposto no artigo 8º da Lei de Propriedade Industrial (LPI 9.279/96), ou seja, se ela possui novidade, atividade inventiva e aplicação industrial para, então, conceder a proteção industrial (Carta Patente), o segundo, baseado nos autos julga a culpa ou a absolvição do réu. Ambos têm a frente uma enorme quantidade de processos para julgar e, cada um deles, com sua especificidade e complexidade. Ambos correm contra o tempo para decidir seus processos, ambos enfrentam um enorme backlog restando à sociedade brasileira, a devida paciência. Da mesma forma que não se graduam juízes na universidade, também não se formam examinadores de patente na universidade. No caso desse último, é imprescindível que após seu ingresso no INPI (sempre através de concurso público e possuindo mestrado e doutorado) participe de um treinamento específico (nunca inferior a 2/3 anos) na área de propriedade industrial que só é dado no INPI, órgão nacional responsável pela concessão de patentes (e de marcas, de desenho industrial, etc.).
A demora na decisão dos pedidos pelo INPI não é desculpa nem para a indústria nem para as universidades e centros de pesquisa não depositarem pedidos de patente no INPI e no exterior. No caso nacional, a partir do simples ato de depósito no INPI já se adquire a expectativa do direito (sua concretização só virá após o exame técnico), quer dizer, enquanto o INPI não decidir sobre o pedido, seu depositante já tem uma expectativa de um futuro amparo legal. Logo, quem não efetuar o depósito da patente não tem como buscar auxilio no caso da cópia da sua invenção. Lembrando que, se a invenção tiver um diferencial tecnológico, com certeza alguém vai se interessar por ela e, se a mesma não estiver devidamente protegida estará livre para cópia. Alguém deixaria de buscar seus direitos na justiça só porque a brasileira é cara e morosa?
A triste posição brasileira no ranking de depósitos de patente pode ser modificada, sem dúvida. Outros países muito menores do que o Brasil, com menos pesquisadores já passaram por ela e hoje, ocupam lugares de destaque. Para tanto, alguns passos devem ser seguidos: continuar investindo pesado na divulgação da propriedade industrial, enfatizando seu valor e importância; o INPI contratar e capacitar mais examinadores de patente (que se juntarão aos já existentes); a indústria nacional contratar mais pesquisadores para seus quadros, arregaçar as mangas e enfrentar "a terrível patente".

Lanterninha, outra vez?

Concorrência predatória e como sobreviver ao caos

Quando o olhar está atento e o corpo está presente, o encontro com o grupo deixa de ser apenas técnica e se torna vínculo



Há momentos em uma discussão de grupo em que o ar pesa um pouco. Ninguém fala, mas todos estão dizendo alguma coisa. O moderador sente isso antes mesmo de entender por quê. Um desvio de olhar, uma respiração contida, uma troca rápida de expressões entre participantes são sinais sutis que anunciam que algo importante foi tocado. É o tipo de dado que não aparece no relatório, mas muda tudo no resultado.



Em pesquisa qualitativa, estamos acostumados a buscar o que é dito. As palavras, as narrativas, os argumentos. O discurso é o território visível, fácil de transcrever e de citar. Só que o silêncio também fala e, muitas vezes, fala mais do que o discurso ensaiado.



Ele surge quando a fala não dá conta, quando o grupo ainda está elaborando, quando o que foi dito toca em algo sensível demais para ser verbalizado.



O silêncio pode ser pausa de reflexão, barreira emocional ou até forma de resistência.



Às vezes é coletivo, quase ritual, como se o grupo inteiro precisasse respirar junto antes de seguir. Outras vezes é individual, um participante que se recolhe porque sabe que dizer o que pensa criaria desconforto. Em todos os casos, o silêncio é uma resposta. Só que é uma resposta que pede outro tipo de escuta, aquela que percebe ritmo, temperatura e tensão no ambiente, não apenas o conteúdo das palavras.



Quem pesquisa qualitativamente precisa aceitar que há dados que não cabem em gravações. São sensações captadas no instante: o momento em que o grupo para, hesita, e ali, no meio da pausa, revela o que realmente importa.



<h2 class="wp-block-heading">O silêncio que protege</h2>



Há silêncios de defesa. Quando o tema toca algo íntimo, um valor pessoal ou uma experiência incômoda, a pessoa recua. O corpo se fecha, os ombros sobem, o olhar foge para o chão ou para algum ponto neutro da sala. Às vezes ela ajeita o cabelo, brinca com a caneta ou finge anotar algo, como se esses gestos pudessem esconder o desconforto. É o corpo tentando dizer que já foi longe o bastante.



Em um grupo, isso costuma acontecer logo depois de uma pergunta muito direta ou quando alguém assume o papel de quem sabe o que é certo e errado. Nesse momento, o silêncio se torna abrigo. Ele diz “não quero me expor aqui” ou “não confio o bastante para abrir esse assunto”.



Esse tipo de silêncio é revelador. Ele mostra onde estão as fronteiras da confiança, onde termina a leveza da conversa e começa o território do cuidado. O silêncio de defesa revela tensões, hierarquias e temas que ainda não podem ser ditos em voz alta. Para o moderador, perceber isso é um ato de respeito. É entender que o dado não está apenas no que é falado, mas também no que as pessoas precisam esconder para se sentirem seguras.



Forçar a fala nessa hora é o mesmo que apagar o que o silêncio estava tentando mostrar. Quando o moderador sustenta o espaço sem pressa, o grupo entende que aquele recuo é permitido. E muitas vezes, depois desse respiro, alguém volta a falar de outro jeito, com mais calma, achando palavras que antes não vinham. É nesse ponto que o silêncio cumpre seu papel: proteger o que ainda está sendo elaborado, até que possa ser compartilhado.





<h2 class="wp-block-heading">O silêncio que concorda</h2>



Em grupos que compartilham valores ou experiências parecidas, o silêncio muitas vezes é sinal de acordo. Um participante fala com firmeza e os outros apenas balançam a cabeça, trocam olhares, relaxam a postura. Ninguém sente necessidade de repetir o que já foi dito, porque todos entenderam e, de algum modo, se reconhecem naquela fala. O silêncio vira uma forma de pertencimento. É como se o grupo dissesse junto, sem palavras, “é isso mesmo”.



Esse tipo de silêncio é confortável. O clima fica leve, a respiração se iguala, há um sentimento de que o grupo encontrou uma ideia comum. Para o moderador, é um momento de atenção. Romper o silêncio rápido demais, tentando manter o ritmo da conversa, pode apagar um dado valioso. Às vezes, o que importa não é a fala seguinte, mas a energia que permanece no ar depois de uma fala que tocou o grupo.



Esperar um pouco permite que o eco do que foi dito se instale. Nesse tempo de pausa, surgem expressões sutis, pequenos gestos de concordância, sorrisos discretos. É ali que o consenso se revela de verdade, não como resultado de uma pergunta, mas como sintonia entre as pessoas. O silêncio que concorda é um sinal de comunhão momentânea, quando o grupo respira junto e o pesquisador percebe que está diante de algo que faz sentido coletivo, uma convergência significativa.



<h2 class="wp-block-heading">O silêncio que questiona</h2>



Nem todo silêncio é sinal de acordo. Existem pausas que carregam dúvida, discordância ou resistência. Quando alguém lança uma ideia e o grupo fica quieto por tempo demais, o ambiente muda de tom. O ar parece mais denso, as pessoas mexem o corpo, cruzam os braços, desviam o olhar. É um silêncio que fala alto, mesmo sem som.



Esse tipo de silêncio é um protesto educado. Ele aparece quando alguém discorda, mas não quer confrontar, ou quando a ideia dita parece fora da realidade do grupo. É uma forma de dizer “não sei se é bem assim” sem precisar abrir conflito. Às vezes, esse silêncio é mais verdadeiro do que qualquer resposta direta.



O moderador sensível percebe esse movimento quase imperceptível. Ele nota o desconforto, o riso curto, o desvio de olhar. Entende que há ali uma tensão que merece cuidado. Forçar o grupo a responder naquele momento pode fechar ainda mais as portas. O caminho é outro: voltar ao assunto mais tarde, com uma pergunta mais leve, ou contar uma história que convide à reflexão. O silêncio que questiona não pede explicação imediata, pede escuta e tempo. É o intervalo onde o grupo ainda está decidindo se acredita no que acabou de ouvir.



<h2 class="wp-block-heading">O corpo como canal de fala</h2>



Cada gesto é uma frase curta. As pausas, os olhares desviados, a respiração contida, as mãos que se fecham sobre o colo. Tudo isso é discurso, mesmo sem som. Quem observa com atenção percebe que o corpo antecipa o que a boca ainda não decidiu dizer. A análise qualitativa, por isso, não pode se limitar à transcrição literal das falas. É preciso registrar o que acontece entre uma palavra e outra, anotar o tom, o tempo de resposta, a mudança na postura.



Em um grupo, a conversa é quase uma dança. Há quem avance, quem recue, quem ceda espaço. O modo como as pessoas se olham, como se interrompem ou desistem de terminar uma frase, revela papéis e dinâmicas de poder. Até as risadas importam.



Quando são rápidas demais, meio nervosas, costumam esconder desconforto ou cumplicidade. É o corpo tentando aliviar a tensão sem precisar nomeá-la.



Há grupos em que o dado mais revelador não está na resposta verbal, mas no que acontece logo depois. Um riso curto, um suspiro coletivo, um movimento leve de afastamento. Esses gestos contam histórias sobre o que se pode dizer e o que ainda precisa ser protegido. Ler o corpo é compreender a camada subterrânea da conversa, onde os significados se formam antes de ganharem o som das palavras.



<h2 class="wp-block-heading">O papel do moderador</h2>



Lidar com o silêncio pede calma. O moderador não precisa ocupar cada espaço com palavras. Muitas vezes, é o silêncio que faz a pergunta amadurecer dentro do participante. Uma pausa bem sustentada pode valer mais do que qualquer intervenção. Um olhar atento, um gesto leve de encorajamento, um simples “hum” podem mostrar ao grupo que está tudo bem continuar no próprio ritmo.



A pressa quebra o sentido. Quando o moderador se preocupa demais em manter o grupo “andando”, corre o risco de transformar a conversa em uma sequência de perguntas e respostas, como se fosse uma entrevista coletiva. Nesse modo, o grupo fala para agradar, não para revelar. O tempo interno da reflexão se perde.



A escuta verdadeira pede presença, não velocidade. É no intervalo entre uma fala e outra que o grupo começa a se reorganizar, a juntar ideias, a deixar o inconsciente aparecer. É nesse instante mais quieto que surgem frases inesperadas, lembranças espontâneas, confissões pequenas que dizem mais do que longos discursos. O papel do moderador é sustentar esse espaço sem se apressar a completá-lo, permitindo que o silêncio também participe da conversa.



<h2 class="wp-block-heading">Ler o que não foi dito</h2>



Analisar o silêncio é tarefa sutil. Ele nunca é neutro e exige cuidado para não projetar no grupo aquilo que pertence a quem observa. Interpretar o silêncio é sempre caminhar entre o que se percebe e o que realmente está ali. Por isso, mais do que adivinhar sentidos, é preciso observar padrões: quem se cala, quando, diante de que assunto, e como o ambiente se comporta nesse instante. O clima emocional do grupo é o mapa que ajuda a entender o que o silêncio está tentando proteger ou revelar.



O silêncio de uma pessoa sozinha é diferente do silêncio que envolve todos. O primeiro pode indicar timidez, cansaço, reflexão ou resistência. Já o segundo é um fenômeno social, algo que o grupo cria junto, mesmo sem combinar. É como se todos compartilhassem a mesma pausa. Ambos os silêncios são cheios de informação. Falam sobre valores, crenças, medos e pertencimentos.



O olhar sensível consegue notar quando o silêncio pesa e quando ele acolhe, quando bloqueia e quando conecta. Essa distinção é o que separa a análise superficial da escuta e análise profunda. O que não é dito pode ser o fio que amarra o que o grupo realmente pensa ou sente, mas ainda não encontrou maneira de dizer em voz alta.



<h2 class="wp-block-heading">Conclusão</h2>



O pesquisador qualitativo não lida apenas com perguntas e respostas. Lida com pessoas. E estar diante de pessoas exige presença, uma atenção que vai além das palavras. O silêncio, que à primeira vista parece vazio, é na verdade um território denso, cheio de significados que se revelam aos poucos.



Escutar o silêncio é um exercício de humildade. É aceitar que a realidade humana não cabe inteira em frases. Há verdades que só se mostram quando o pesquisador aprende a esperar, a respirar junto, a perceber o que se move por baixo da fala. Essa escuta silenciosa é o que transforma a pesquisa em experiência viva. É o que, de fato, diferencia um leitor de roteiro de um verdadeiro moderador de grupo focal.



Quando o olhar está atento e o corpo está presente, o encontro com o grupo deixa de ser apenas técnica e se torna vínculo. É nesse ponto que a pesquisa qualitativa alcança seu sentido mais profundo: compreender amarrando o que é dito, o que é sentido e o que, por alguma razão, ainda não virou palavra.

O silêncio como dado: o que as pessoas não dizem em grupos focais

Como Guilherme da Codifica Edu revela por que CEOs que dominam IA estão deixando os demais para trás - e como você pode estar no grupo certo



Guilherme, fundador da Codifica Edu, está na linha de frente de uma revolução silenciosa que está redefinindo como líderes C-level tomam decisões estratégicas. Com experiência em educação tecnológica e desenvolvimento de negócios digitais, ele tem uma perspectiva única sobre como a inteligência artificial está criando uma nova hierarquia empresarial. Sua autoridade vem da responsabilidade de guiar o desenvolvimento educacional em um mercado que explodiu durante o boom tecnológico, observando tanto a resistência executiva à IA quanto o paradoxo de uma sociedade mais informada, mas ainda vulnerável a golpes digitais. Guilherme não apenas ensina tecnologia; ele molda líderes para navegar um futuro onde IA será parceira de boardrooms, provando que timing e reflexão estratégica são os grandes diferenciais competitivos.



<h2 class="wp-block-heading">1. Timing de mercado: como identificar oceanos azuis antes que virem vermelhos</h2>



Pergunta: Como você sabe se está entrando em um mercado na hora certa ou se já perdeu o timing?



Insight de Guilherme:



“Conversar o tempo todo com pessoas, conhecer modelos de negócio. O networking é fundamental para saber. Fazer imersões para de fato entrar no assunto e conhecer, cursos de curta duração/viagens para eventos e conferências. Refletir mesmo e não ficar trabalhando. Faz mais sentido que ficar o ano inteiro participando de um curso semanal que acabamos indo desfocado.”



O que Guilherme está destacando aqui é um princípio que poucos executivos aplicam sistematicamente: a análise de saturação antes do investimento. Quando ele fala sobre “mercado vermelho”, está se referindo ao conceito de oceanos vermelhos - mercados saturados onde a competição é feroz. Para C-levels, isso significa que timing não é sorte, é análise. O programa educacional que ele menciona para escolas “é um mercado muito quente” porque combina necessidade social (educação financeira) com demanda reprimida (jovens sendo “enganados da Bet e contos de influenciadores”). Essa intersecção entre problema social e oportunidade comercial é onde nascem os negócios mais sustentáveis. A metodologia prática que Guilherme sugere é clara: “Conversar o tempo todo com pessoas, se interessar negócios, conhecer modelos de negócio. O networking é fundamental para saber. Fazer imersões para de fato entrar no assunto e conhecer. Refletir mesmo e não ficar trabalhando. Faz mais sentido que ficar o ano inteiro e ir só na quinta.”





<h2 class="wp-block-heading">2. IA: o paradoxo executivo – por que quem mais precisa é quem menos aprende</h2>



Pergunta: Qual o gap da IA hoje nos C-levels e por que executivos experientes estão ficando para trás na adoção?



Insight de Guilherme:



“As pessoas não entenderam a base da IA para extrair bem. O que eu preciso aprender primeiro para isso ser produtivo? Existe a pessoa coagida que entende IA, acaba dizendo que sabe e até fica sem jeito de ir buscar. O C-level precisa entender da IA, mas que ele não vai usar tanto. Exemplo: criamos um agente para verificar algumas notas e afins.”



Aqui está o gap real: não é falta de recursos ou acesso à tecnologia, é o constrangimento de admitir ignorância em uma posição de liderança. Guilherme identifica que o problema não é técnico, é psicológico. C-levels sentem pressão para demonstrar conhecimento, o que os impede de fazer as perguntas básicas necessárias. A questão fundamental que ele levanta é: “O que eu preciso aprender primeiro para isso ser produtivo?” A solução prática que ele sugere - criar agentes para tarefas específicas como verificação de notas fiscais - mostra que a aplicação executiva da IA não precisa ser complexa, precisa ser estratégica. O valor está em entender onde aplicar, não em saber programar. Essa abordagem desmistifica a IA para executivos, transformando-a de “tecnologia intimidante” em “ferramenta de otimização”.



<h2 class="wp-block-heading">3. O futuro da IA: quando algoritmos viram conselheiros de boardroom</h2>



Pergunta: Qual a tendência da IA e como ela vai mudar a dinâmica de tomada de decisão nos conselhos administrativos?



Insight de Guilherme:



“A IA vai ser o principal parceiro do board da empresa. Que vai direcionar as conversas, análises e etc. O conselho geral vai ter mais IA.”



Esta é talvez a previsão mais disruptiva: IA não como ferramenta, mas como participante ativo nas decisões estratégicas. Guilherme está antecipando um futuro onde algoritmos não apenas fornecem dados, mas estruturam discussões e sugerem direcionamentos. Para conselhos que hoje dependem de intuição e experiência, isso representa uma mudança fundamental na governança corporativa. A IA se tornará o “conselheiro sempre presente” que nunca esquece um dado, nunca tem um dia ruim e sempre questiona premissas com base em padrões que humanos não conseguem processar. Isso não substitui a sabedoria humana, mas a amplifica com capacidade analítica impossível de replicar manualmente. O resultado será decisões mais informadas, rápidas e baseadas em dados que hoje passam despercebidos.



<h2 class="wp-block-heading">A revolução silenciosa que está mudando o jogo (mesmo sem hype)</h2>



A visão de Guilherme ressoa com o que as empresas de maior sucesso do mundo, como Google, Microsoft e Amazon, entenderam há muito tempo: inovação não é sobre seguir o hype, mas sobre construir capacidades de forma estratégica e disciplinada. A Codifica Edu, assim como essas gigantes, demonstra que a genialidade não está em gastar milhões em “IA” por “estar na moda”, mas em identificar onde a tecnologia realmente entrega valor tangível.



No contexto da inovação, a estratégia de timing que Guilherme propõe - entrar em mercados “quentes” mas não “vermelhos” - é um exemplo clássico de como construir vantagem competitiva sustentável. Essa abordagem evita o desperdício de recursos em mercados saturados, ao mesmo tempo em que capitaliza tendências emergentes.



E sobre a IA, a verdade dita por Guilherme é um banho de água fria necessário. Enquanto muitos C-levels são pressionados a “fazer algo com IA”, ele mostra que o caminho é mais sobre inteligência de aplicação do que sobre complexidade tecnológica. O foco em soluções práticas e específicas é um atalho eficaz para o retorno. A “fumaça” dos grandes projetos ainda busca seu lugar ao sol, e o retorno mais claro, por enquanto, está na capacitação das pessoas para que elas usem a IA como uma extensão de suas capacidades estratégicas.



Empresas que querem replicar o sucesso da abordagem de Guilherme precisam entender que a maturidade estratégica é sobre onde aplicar a energia e o dinheiro, e não apenas “ter IA”.



<h2 class="wp-block-heading">A pergunta que vai tirar seu sono</h2>



Você está construindo competência em IA para liderar a transformação ou esperando que alguém traduza o futuro para você?

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Sonia Regina Federman

Como formar líderes na sua empresa, com Luis Vabo

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Sonia Regina Federman

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