Uma das faculdades humanas a que dou mais importância na hora de avaliar um candidato a um lugar de direção é a que se designa como “horizonte de tempo”. Aprendi isto nos anos 80 e cada vez mais acredito que é uma aptidão mental surpreendente e de uma utilidade indiscutível no nosso tempo. Lembro que o “horizonte de tempo” parece só existir no ser humano e fica a dever-se aos chamados “lobos frontais” do cérebro onde actua nossa mente executiva. Na prática traduz a capacidade de concebermos a dimensão tempo para nela projetarmos e planejarmos ações no futuro (a médio e a longo prazo). É um trabalho muito cerebral mas o resultado é um processo mental. Por outras palavras, o “horizonte de tempo” representa a extensão máxima de tempo que a nossa mente consegue alcançar e imaginar em direção ao futuro, permitindo-nos aí colocar as nossas “agendas mentais”. Por exemplo, quando planejamos as atividades para o próximo ano nós estamos usando o nosso “horizonte de tempo”. A cada instante da vida estamos, aliás, a utilizá-lo para podermos atuar no minuto seguinte, mais logo, amanhã, para o próximo mês, para o ano, etc. Acontece que algumas pessoas são capazes de trabalharem mentalmente com ideias e projetos que se estenderão muito longe no tempo e outras revelam dificuldade. Seus esforços mentais para lidarem com períodos de tempo alongados saem infrutíferos. A sua contribuição torna-se mais pobre nas reuniões em que se planejam iniciativas a longo prazo. Na prática, os grandes visionários revelam possuir amplos “horizontes de tempo” mentais. Também os futuristas profissionais (como Alvin Tofler e James Canton) têm essa faculdade. Muitas vezes acreditamos, com alguma ingenuidade nossa, que os visionários e os futuristas são apenas pessoas bem informadas, intuitivas e muito criativas (quando não acontece pensarmos que são meros adivinhos!). Na verdade, as suas faculdades mentais ultrapassam esses atributos. Seu “horizontes de tempo” revela também sua inteligênciaAumentam as provas científicas de que quanto mais profundamente o nosso cérebro for capaz de atuar com a dimensão tempo-futuro mais inteligentes somos. Nas pessoas em que o “horizonte de tempo” é pequeno verifica-se alguma rigidez na elasticidade de resposta a desafios em que o fator tempo-futuro seja decisivo. Em épocas como a nossa – em que temos de lidar com a complexidade, a ambiguidade, a rapidez dos acontecimentos e o paradoxo – as pessoas habilitadas a funcionar com amplos “horizontes de tempo” estão mais à-vontade para responderem criativamente aos desafios. Conclui-se facilmente que na hora de uma empresa escolher o seu timoneiro deve preocupar-se em encontrar alguém que, além de outros predicados, possua uma ampla capacidade de conjugar o futuro com o presente. Qual é habitualmente o perfil destas pessoas? Pois bem, eu dou muita importância aos seguintes pontos: – estar aberta a um amplo leque de fontes de informação; – ser capaz de obter mais do que uma resposta para os problemas; – saber usar conhecimentos ou informações contraditórias para gerar respostas alternativas; – pensar criativamente; – dar igualmente atenção às questões periféricas dos grandes problemas; – não ter receio de gerar e expor novas teorias ou explicações mesmo que, numa primeira fase, pareçam bizarras e impossíveis; – encarar a incerteza como recurso! Para testar os candidatos costumo perguntar-lhes sobre o que pensam como evoluirá a sociedade, a empresa e eles próprios, assim como seus projetos e ideias de futuro. Acreditem que a diversidade de respostas é muito grande mas o mais confrangedor é que são poucas as pessoas que revelam flexibilidade mental suficiente para lidar com “horizontes de tempo” amplos. Como prática ativa costumo aconselhar que as pessoas façam exercícios de imaginação sobre o futuro a 10 ou 20 anos de distância. Não é um trabalho de adivinhação que pretendo mas de agitação mental e de expansão da consciência. Também a leitura de artigos, sites e livros sobre visões do futuro são muito úteis pois abrem nossos horizontes mentais. Sugestão: www.theextremefuture.blogspot.com Visite também meu blog.Nelson S. Lima