O setor de serviços tem papel crucial para a economia de um país, seja ele avançado ou emergente, afinal, além de ter grande impacto na geração de empregos, possui fatia de quase ¾ dos PIB's nacionais da maioria dos países avançados e de cerca de 50% nos países em desenvolvimento. No Brasil os serviços já representam 68,5 % do (PIB) e continua crescendo. Hoje os serviços fazem parte do que se produz, consome e exporta em qualquer país que almeja ser competitivo. Por outro lado, o sucesso da empresa de serviços depende em grande parte de sua capacidade em oferecer uma experiência de serviço consistente e satisfatória a seus clientes. Entretanto, essa tarefa não é simples, pois diferentemente da produção de bens materiais como carros, eletrodomésticos, roupas, e calçados, onde o cliente não assiste o que acontece durante o processo de produção, a prestação de serviços tem essa possibilidade, onde o cliente está presente em algum momento da realização do serviço assistindo a tudo o que acontece, esse é o caso do corte de cabelo, de uma cirurgia médica, de uma refeição em um restaurante, voo de avião, estadia em um hotel e até de uma peça de teatro. Portanto, quando algo dá errado é bem certo que o cliente perceba a falha e fique insatisfeito, o que não pode acontecer é ele sair dessa experiência levando consigo essa insatisfação. 'A Recuperação do Serviço (RS), que é um conjunto de ações tomadas pelo prestador, auxilia nesse sentido, pois em situações de falha, ela tem o papel de resolver problemas, satisfazer e reter o cliente e melhorar o processo de serviço'. A pesquisa científica, bem como a prática dessa ferramenta tem sua raízes no final da década de 1980, no entanto, só se desenvolveu como campo sólido de conhecimento e pesquisa na década seguinte, destacando-se os trabalhos The profitable art of service recovery, dos autores Hart, Heskett e Sasser (1990), publicado pela Harvard Business Review e Recovering and learning from service failures dos autores Tax e Brown (1998), publicado pela Sloan Management Review. A título de “inocente” ilustração sobre o que é a recuperação do serviço, certa vez fui a um restaurante acompanhado da minha noiva, nos servimos e antes de iniciarmos a refeição, pedi gentilmente ao garçom um pão francês, cortado em fatias, infelizmente o restaurante não pode atender esse pedido. Finalizada a refeição, minha noiva notou dentro do restaurante um freezer de uma marca famosa de sorvetes e pediu que eu pegasse um de seus sorvetes preferidos. No entanto, para a minha surpresa, ao me aproximar do freezer, percebi que o mesmo estava sendo utilizado para resfriamento de outras coisas, tais como congelados, polpas de frutas, etc. e não para os sorvetes da referida marca. Assim que tirei os olhos do freezer, o mesmo garçom apareceu na minha frente, e aí eu o questionei sobre a falta de sorvetes, imediatamente com uma expressão de culpa, o garçom se desculpou e reconheceu que naquela dia, em especial em relação à minha pessoa, 'estava tudo dando errado'. Ele me acompanhou até a mesa e sugeriu à minha noiva um mousse de chocolate, ela aceitou e eu também. Na saída do restaurante, ao pagar a conta verifiquei que ele havia marcado apenas um mousse. Portanto, nota-se que o restaurante falhou na prestação do serviço por duas vezes, mas depois, reconheceu as falhas, resolveu pelo menos um dos problemas e de certa forma ainda me 'compensou'. Em síntese, apesar das falhas, mas, dado o esforço de 'recuperação' do garçom, confesso que sai satisfeito e com vontade de retornar ao restaurante. Importante destacar, que esse tipo de episódio não deve acontecer eventualmente, ele deve ser empregado sistematicamente pelas empresas e prestadores de serviços, no intuito de se resolver problemas, satisfazer o cliente e aperfeiçoar o processo de serviço como um todo. Por outro lado, apesar da simplicidade do exemplo, cabe mencionar, que infelizmente, quando acontecem falhas ou problemas em serviços, muitos clientes não reclamam, por diversos motivos, não querem 'perder' tempo, acham que o serviço não merece o esforço, pensam que o retorno financeiro é incerto, acreditam que ninguém está preocupado com seu problema ou disposto a resolvê-lo, não sabem onde ir ou reclamar, temem um confronto com pessoas conhecidas e muitos outros. O cenário ideal seria que tudo desse certo já da primeira vez, mas caso isso não aconteça, é importante olhar a recuperação do serviço como uma oportunidade de corrigir eventuais erros, aperfeiçoar o serviço e não perder o cliente e os lucros que ele pode dar.