1. Introdução: Há séculos o homem produz brinquedos, Até o final do século XIX, a maioria dos brinquedos era fabricada em casa, ou fabricada artesanalmente. Atualmente, a grande maioria dos brinquedos é fabricada em larga escala, e comercializados, através de uma complexa cadeia de distribuição, característica que torna o brinquedo um produto de “massa” inserido em um mercado altamente competitivo que exige produtos de qualidade, onde existem normas de certificação e segurança bem como o perfil do consumidor brasileiro que está se tornando mais exigente, há também que se produzir com baixo custo, um vez que a concorrência no mercado globalizado atinge também empresas atuantes no mercado interno como é o caso da empresa em estudo já que tem que concorrer com produtos importados. Sabe-se que em alguns países de onde se originam os brinquedos encontrados nas lojas, produz com o uso de mão de obra muito barata (quase escrava), o que reduz muito os custos de produção, contudo tais práticas obviamente não respeitam direitos básicos de seus trabalhadores. Nestes países os fabricantes também estão submetidos a normas “menos rígidas” com relação à segurança do brinquedo, o que por sua vez oneram menos os custos de produção. Neste atual cenário o empresário brasileiro do ramo de brinquedos, luta para atender a atual demanda por produtos de qualidade como baixo custo, para tanto há necessidade de maximilizar os recursos fabris no sentido de se aproveitar ao máximo os equipamentos e a mão de obra, portanto deve-se buscar a excelência através da gestão pela qualidade no planejamento e controle dos processos produtivos, com base na demanda dos produtos e sazonalidade específica deste mercado. O controle de estoques e a logística interna (produção enxuta) são fatores importantes que também afetam o desempenho da empresa, já que brinquedos geram grandes volumes de estoque. 2 A Empresa Objeto de estudo: A empresa objeto deste estudo de caso é uma pequena empresa fabricante de brinquedos, localizada no interior do estado de São Paulo, seu principal produto são bonecas voltadas principalmente aos consumidores das classes B e C. A área de atuação da empresa se estende por todo o território nacional, a comercialização é feita por meio de representantes comerciais autônomos. A empresa possui trinta e cinco funcionários, sendo cinco pertencentes a administração e trinta ao setor produtivo, existem dois sócios proprietários, um administra diretamente a empresa na função de diretor, há ainda um Gerente Comercial, um Gerente de Marketing e um Gerente de produção. Organograma: 2.1 O mercado de atuação da empresa: O mercado de atuação da empresa é composto de cerca de 25% de Atacadistas e 75% de comercio varejistas do ramo de brinquedos, incluíndo-se supermercados, lojas de departamentos etc. No mercado em que a Toroli atua enfrenta concorrência do mercado interno onde disputa espaço com empresas fabricantes de brinquedos como: Walbert, Adjomar Brinquedos, Milk Brinquedos, Brinquedos Anjo, Kitok Brinquedos, além de forte concorrência dos brinquedos importados principalmente da China, as importações respondem por aproximadamente 60% do mercado de brinquedos (vide quadro) e há ainda a concorrência de outros produtos que vem ganhando segundo a Abrin (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) nos últimos anos o brinquedo vem perdendo espaço para produtos eletrônicos como vídeo games, computadores, celulares, e outros aparelhos multimídia a exemplo dos MP3, Hi Fone entre outros. 3 O processo produtivo: A empresa não possui um setor específico de PCP, sendo suas funções desempenhadas pelo gestor da empresa. Atualmente não são executados planos de longo, médio e curto prazo. O PCP na empresa é feito, como em grande parte das pequenas e médias empresas, sem método algum e baseado completamente na experiência do proprietário e através da utilização de planilhas do Excel. A produção é programada por lotes, a partir da demanda (pedidos) e também para geração de um estoque mínimo de cada produto. À medida que os pedidos são cadastrados, é verificado o estoque de produtos prontos. Se o estoque atende ao pedido, o mesmo é faturado. Ocorrendo a falta de estoque, os pedidos são agrupados em uma ordem de produção padronizada por lotes. Neste momento é consultado o estoque de matéria-prima. Caso o estoque não atenda esta ordem é efetuada a compra. A falta de um planejamento para execução das ordens ocasiona problemas de não atendimento do prazo de entrega, provocando uma quantidade tanto de ordens atrasadas, quanto de dias de atraso por ordem. Estes problemas têm origem e reflexo na superlocação de trabalho nos diferentes setores e um descontrole de materiais, o qual gera atrasos na execução de determinadas tarefas por falta ou demora na chegada da matéria-prima. Por não haver um planejamento e controle de materiais mais efetivo, há ocasiões em que a empresa executa compras em excesso, provocando um desencaixe financeiro desnecessário, e, por outro lado, não atende as programações. Há também o fato da empresa constantemente inserir pequenas ordens de fabricação que “furam” a fila da programação de produção por motivos como: o cliente pagou à vista, ou o cliente mantém muito boas relações comerciais com a empresa e tem algum tipo de prioridade. O diagnóstico do sistema de produção foi realizado através de um levantamento de todo o processo produtivo. Observou-se a inexistência de sistema de controle de materiais por ordem de fabricação e a precariedade da organização do almoxarifado, impedindo um efetivo controle de materiais para suprimento das ordens de fabricação. Verificou-se também que a empresa não trabalha em função do seu gargalo que está localizado no setor de rotomoldagem, este fato gera estoques interme-diários desnecessários em várias etapas do processo.Do planejamento, acompanhamento e controle de ordens existe somente o planejamento baseado na experiência do proprietário, gerando seqüências de fabricação sem método para cálculo de carga ou quantidade de recursos a empregar e sem um sistema de acompanhamento e controle que apresente um feedback quando da conclusão das ordens. 4 O processo produtivo e a sazonalidade do mercado: Pelo gráfico abaixo que representa o montante anual de vendas da empresa, podemos observar que a principal característica do mercado de brinquedos, principalmente o de bonecas que é o nicho em que atua a empresa, possui alta sazonalidade de demanda: Mês JaneiroFevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Unidade (mil) 1.70 3.52 4.41 4.68 16.72 25.64 37.29 62.92 82.80 24.63 64.56 13.25 % 0,491,02 1,28 1,36 4,88 7,49 10,89 18,30 24,20 7,20 18,86 3,87 Segundo Slack (1997) conhecendo-se a capacidade produtiva e a demanda os métodos para se atender as flutuações da demanda podem ser: – Manter os níveis de produção constantes. – Alterar a capacidade conforme as exigências da demanda. – Tentar influenciar a demanda para adequá-la a capacidade. Manter os níveis de produção constantes é trabalhar com a mesma força produtiva durante todo o período, o que no caso da empresa em estudo significa aumentar o volume de estoques no período de baixa demanda, para tanto há de se analisar os custos das mercadorias estocadas, por outro lado os empregos seriam mantidos, fortalecendo-se assim sentimento de estabilidade do empregado em relação à empresa. O terceiro método não condiz com a realidade do caso em questão, já que sendo a empresa de pequeno porte e o mercado em que atua é fortemente globalizado, conforme descrito na apresentação deste trabalho, ela não tem nenhuma influência sobre o mesmo. Atualmente é utilizado o segundo método, no qual se altera a capacidade de acordo com o aumento da demanda, apesar de o nível de estoque se manter mais baixo e com isso diminuir-se o custo da mercadoria estocada. Contudo com o aumento da demanda ocorre também a escassez de matéria-prima, alguns itens para fabricação de termoplásticos chegam a aumentar em 30% neste período entre os meses de maio a agosto e como se isso não bastasse, ainda não são raros os atrasos nas entregas por falta de insumos que somados a erros na previsão de estoque de matéria-prima também já levaram a empresa a paralisar alguns setores pela falta destes produtos. Há ainda implicações como a contração de mão de obra temporária e todos os custos adicionais por conta das demissões, mas não há só custos nesta questão, também existe o lado moral e humano, pois para muitos contratar e demitir apenas para satisfazer as necessidades de demanda de uma empresa é tratar os seres humanos de forma totalmente inaceitável, é levar a relação de trabalho a um nível humilhante para a parte do empregado gerando neste grande ansiedade pela continuidade ou não do seu trabalho e na grande maioria das vezes afetando, sua auto-estima quando da demissão. 4.1 A atual distribuição da produção: Conforme podemos observar na planilha abaixo a distribuição da produção da empresa em estudo, durante o ano busca acompanhar a demanda sazonal, contudo segundo Slack (1997) tais práticas são mais indicadas à empresas que não podem armazenar estoques, como produtos perecíveis ou que possuem um custo de estocagem muito elevado, às vezes, é difícil conseguir variações muito grandes da capacidade de um período para outro, já que implicam em variações muito grandes em números de mão de obra, que precisa ser integrada rapidamente ao processo produtiva, sem tempo adequado para treinamento e capacitação, também há pouca margem para realocação no caso de o funcionário que não se adapte a determinada função. Os gerentes tem também a difícil tarefa de manter os padrões de qualidade, produtividade e ainda manter os níveis de segurança adequados. 4.2 Capacidade produtiva x vendas: Mês de Venda Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Total Total 1.709 3.520 4.410 4.685 16.722 25.645 37.293 62.924 82.804 24.634 64.561 13.250342.157 Capacidade 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000 30000360000 Diferença (28.291) (26.480) (25.590) (25.315) (13.278) (4.355) 7.293 32.924 52.804 (5.366) 34.561 (16.750) 4.3 Cálculo do custo de produção com base na política atual de produção casada com a demanda X política de produção constante. Utilizaremos a seguir duas tabelas com simulações contemplando a primeira na situação 1 a atual política de produção casada com a demanda e na segunda a situação 2 a política de produção constante para melhor compreende-las observe o seguinte: Na linha Previsão de demanda, são colocadas as previsões de vendas dos referidos períodos. No Estoque inicial como o nome já diz é o estoque no início de cada período. As linhas referentes à Mão de obra servem para cálculos de contratação e demissão. As linhas referentes à Produção mostram quais são os volumes planejados a produzir. A linha Produção – demanda indica um cálculo, uma subtração entre o total que foi produzido e o que se prevê vender, ela indica caso o resultado seja positivo que há sobra de produção que deverá ser somada ao estoque (produto colocado no estoque) do mês seguinte, caso seja negativa o valor correspondente deve ser abatido no montante do estoque (produto retirado do estoque). Situação 1: Cálculo com base na estratégia de produção casada com a demanda: Mês Previsão Demanda Estoque inicial N° funcionários N° de contratações Demissões N° final funcionários Em horário regular Em horas extras Em subcontratação Prod Total Prod Total-DemandaEstoque Final Jan 1.700 0 15 0 0 15 1.700 0 0 1.700 0 0 Fev 3.500 0 15 0 0 15 3.500 0 0 3.500 0 0 Mar 4.400 0 15 0 0 15 4.400 0 0 4.400 0 0 Abr 4.700 0 15 0 0 15 4.700 0 0 4.700 0 0 Mai 16.700 0 15 0 0 15 16.700 0 0 16.700 0 0 Jun 25.700 0 15 0 0 15 25.700 0 0 25.700 0 0 Jul 37.300 0 15 5 0 20 37.300 0 0 37.300 0 0 Ago 63.000 0 20 10 0 30 63.000 0 0 63.000 0 0 Set 82.800 0 30 0 0 30 82.800 0 0 82.800 0 0 Out 24.700 0 30 0 0 30 24.700 0 0 24.700 0 0 Nov 64.600 0 30 0 10 20 64.600 0 0 64.600 0 0 Dez 13.250 0 20 0 5 15 13.250 0 0 13.250 0 0 Temos ainda mais alguns dados levantados junto a empresa que serão utilizados para cálculo do custo de produção: Discriminação do Custo Custo de Contratação de Pessoal Custo de Demissão de Pessoal Custo de Estocar Custo regular da produção Valor 1.000,00/ funcionário 3.500,00/funcionário 0,04 unidade/mês 3,50 unidade/mês Calculando-se temos: Custo da produção em horário regular: produção regular de 342.350 produtos por ano X R$ 3,50 = R$ 1.198.225,00 Custo das contratações: 15 funcionários X R$ 1.000,00 = R$ 15.000,00 Custo das demissões: 15 funcionários X 3.500,00 = 52.500,00 Custo Total da produção (CP) = Custo da produção regular + contratações + demissões CP = 15.000,00 + 52.500,00 + 1.198.225,00 CP = R$ 1.265.725,00 Cálculo com base na estratégia de produção casada com a demanda: Mês Previsão Demanda Estoque inicial N° funcionários N° de contratações Demissões N° final funcionários Em horário regular Em horas extras Em subcontratação Prod Total Prod Total-Demanda Estoque Jan 1.700 0 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 29.430 29.430 Fev 3.500 29.430 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 27.630 57.060 Mar 4.400 57.060 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 26.730 83.790 Abr 4.700 83.790 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 26.430 110.220 Mai 16.700 110.220 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 14.430 124.650 Jun 25.700 124.650 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 5.430 130.080 Jul 37.300 130.080 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 -6.170 123.910 Ago 63.000 123.910 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 -31.870 92.040 Set 82.800 92.040 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 -51.670 40.370 Out 24.700 40.370 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 6.430 46.800 Nov 64.600 46.800 18 0 0 18 31.130 0 0 31.130 -33.470 13.330 Dez 13.250 13.330 18 0 0 18 – 0 0 – -13.250 80 Discriminação do Custo Custo de Contratação de Pessoal Custo de Demissão de Pessoal Custo de Estocar Custo regular da produção Valor 1.000,00/ funcionário 3.500,00/funcionário 0,04 unidade/mês 3,50 unidade/mês Calculando-se temos: Custo da produção em horário regular: produção regular de 342.350 produtos por ano X R$ 3,50 = R$ 1.198.225,00 Custo de estocagem: 342.350 produtos por ano X R$ 0,06 = R$ 20.541,00 Custo Total da produção (CP) = Custo da produção regular + estocagem CP = 1.198.225,00 + 20.541,00 CP = R$ 1.218.766,00 Comparando-se a Situação 1 (produção casada com a demanda) com a Situação 2 (produção constante) temos: CP1 – CP2 R$ 1.265.725,00 – R$ 1.218.766,00 = R$ 46.959,00 (3,71%) de economia. Considerações finais: Segundo o estudo apresentado além da economia a empresa ganha quando oferece condições mais dignas de trabalho segurança e estabilidade ao empregado, pode-se ainda investir-se no bem estar dos funcionários aplicando-se, por exemplo, o valor economizado em planos de saúde para os trabalhadores, ou melhor, dizendo para os colaboradores e suas famílias. Existem ainda outros fatores econômicos que podem ser explorados pela empresa, como a aquisição de insumos nos períodos de baixa demanda que segundo informações do setor de compras, o preço chega a ser 30% menor nestes períodos. A empresa também poderia investir em um sistema MRP visando a otimização do uso de materiais e recursos e com isso gerar um comportamento mais ágil no atendimento de pedidos conseguindo também um nível mais satisfatório de qualidade e economia. REFERÊNCIAS: CARVALHO, M.M; LAURINDO, F.J.B. Estratégia para a competitividade. São Paulo: Futura, 2003. JURAN, J., M. A Qualidade desde o Projeto: Novos Passos para o Planejamento da Qualidade em Produtos e Serviços. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 1992. MATTAR, F. N. et aI. Gestão de Produtos, Serviços, Marcas e Mercados: estratégias e ações para alcançar e manter-se “topo of market”. São Paulo: Atlas, 2009. Piazentin, F. O.; Moreira, G. T.; Gestão da cadeia de suprimentos para a obtenção de vantagem competitiva. Trabalho de conclusão de curso de administração de negócios. Universidade de Sorocaba. Sorocaba 2009. Slack, N.; Chambers, S.; Johnston, R.; Administração da Produção. 2 ed. São Paulo: Atlas 2008. Tubino, D. F. Planejamento e controle da produção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2007.