Hoje, eu estava fazendo uma caminhada leve na orla litorânea mais bela da costa norte de São Paulo, pensando novamente na questão dos currículos e nos departamentos de RH. Passei por uma banca de revistas, que levou-me ao fim dos anos 90 até o início da década de 2000. Uma lembrança de um tempo de labuta, dificuldades financeiras e muito estudo. E eu sempre amei ouvir música. Quem não gosta, né? Eu comprava CDs em uma loja no centro de minha cidade, Ubatuba. Tinha minha loja preferida. Naquela época, não havia MP3 na cidade. Eu ainda não havia comprado meu novo computador pessoal para trabalho, apesar de já ter tido outros consoles, em 91, como um TK-95 e um Itautech tela verde, com disquetes, com uma impressora Mônica (bons tempos). Voltando aos CDs, eu detestava comprar um álbum para ouvir apenas uma música ou outra. Comprei meu primeiro CD em 1995, quando fui morar e trabalhar em São Paulo, com apenas 18 anos. Ao longo dos anos, fui acumulando CDs de coletâneas (que eu adorava). Alguns CDs com 14 músicas eram úteis para tocar 2 ou 3 canções no player. Isso me irritava. Era muito dinheiro para ouvir 2 ou 3 músicas (um CD em 1992 custava, mais ou menos, R$ 35,00). Mas, é a vida. Finalmente, no começo dos anos 2000 eu comprei um computador para trabalhar com Web Design e a Internet discada era a maravilha dos tempos modernos. Chegou o MP3 e tudo mudou! CDs? Que nada. Viva a Internet. Porém, eu analiso minha coleção de CDs como uma maravilhosa ponte para dias maravilhosos e memoráveis tempos bons. Aquelas canções que eu ignorava, hoje são ouvidas e apreciadas da mesma forma, conferindo “peso” à coleção. E hoje, passando o pente fino pela área de RH, temos os analistas de carreiras, headhunters e especialistas de recrutamento e seleção, analisando currículos como eu analisava CDs com 2 ou 3 músicas úteis. A diferença é que eles continuam querendo esses “CDs”. Deixam de perceber o “peso” ou “quilate” do conteúdo, ignorado por “não ser compatível” com as necessidades da empresa. Tem empresa que deseja comprar a “coletânea”, mas, algumas insistem no discurso da variedade de gêneros musicais que não agrada. Hoje, é muito difícil ver um brasileiro que não tenha 2 ou mais empregos e hobbies remunerados. Em ambientes com demandas por serviços tipicamente sazonais, onde há mais demanda que ofertas de serviços, as pessoas empreendem e trabalham com o que têm, criando suas próprias oportunidades. Daí, criam suas “coletâneas”, de acordo com a “música tocada”. Está aí a tradução da expressão idiomática “dançar conforme a música”. Eu acredito que um currículo seja uma coletânea de momentos profissionais que formam a trajetória de uma pessoa, que é parte indissolúvel de uma obra (a vida). Quando existem diferentes áreas em um currículo, significa que as experiências apresentadas são resultado de adaptação ao meio, nem sempre de escolhas baseadas em aptidão ou habilidades, mas, fruto de um ambiente de jogo (uma analogia aos games que apresentam os níveis de dificuldade e que o player deverá jogar de acordo com as suas capacidades e disponibilidades da atmosfera). Durante os altos e baixos da vida, de acordo com as realidades diversas que cada pessoa apresenta, dependendo de inúmeras variáveis, suas “coletâneas” formam seu arcabouço de ferramentas profissionais que devem ser levadas em consideração. Um currículo “coletânea” é excepcional e exibe ferramentas que poderão ajudar uma empresa a crescer. A empresa não tem de examinar apenas as habilidades principais de um candidato para uma determinada vaga! Ela tem de analisar o rol de habilidades de forma geral, com as ferramentas todas para que um possível funcionário seja uma peça polivalente e indispensável ao trabalho (ou trabalhos). Defendo o currículo coletânea, com todas as habilidades e experiências daquele candidato. Se uma vaga for de Programador JAVA e PHP com MySQL, e o candidato possuir uma graduação em Ciências Contábeis ou Arquitetura, além de conhecer programação comprovada e que vai poder fazer toda a diferença na empresa, qual o problema de uma análise no que ele pode oferecer a mais? O que não defendo é o fato de toda e qualquer empresa pedir Inglês fluente como diferencial. Que diferencial é esse, se há empresas não trabalham com essa ferramenta? Sim, este é o CD com a música indesejável. Mas, se a empresa pede Inglês e não usa, por quê ignora outras áreas? O Inglês pode e deve ser uma ferramenta de suporte para ajudar em determinadas funções. O mesmo para a Matemática, Engenharia, Arquitetura, Gestão etc. Sim, é importante que o candidato tenha o “mínimo de requisitos” para uma vaga, mas, após analisar inúmeros exageros, vejo que as empresas exigem demais para um cargo, só para cumprir protocolo um tanto ultrapassado, quase um paradigma. Possuir um currículo centrado e substancioso em uma única área é atípico em muitos lugares. O brasileiro opta hoje por formações variadas (por adaptação e/ou inclinação) a fim de garantirem empregabilidade. É isso que o mercado não enxerga! Hoje, o MP3 destronou os CDs. E cada um pode fazer a sua coletânea de MP3. É assim no mercado. De acordo com as inclinações, uma pessoa cria um vasto rol de saberes e experiências. Um profissional polivalente é muito melhor que um engessado em uma área, por quebrar paradigmas e oferecer soluções que podem ser encontradas, exatamente, na variedade de saberes distintos. O mundo é de quem sabe mais, de quem resolve melhor os problemas, das mais variadas formas. Experiência do colaborador é a ferramenta mais importante para uma empresa. Deixem as pessoas trabalharem ao invés de chocarem-nas dizendo que o seus currículos têm muito mais que as vagas necessitam! Não se esqueçam do Inglês que é tanto exigido, mas, que nunca é usado! Assim como eu adoro coletâneas, empresas deveriam colecionar talentos!