Construir uma carreira nesse ponto de interseção entre dados, ética e comportamento é desafiador, mas é também o caminho que permite ao RH cumprir seu papel mais essencial Durante muito tempo, a carreira em recursos humanos foi vista de forma polarizada: ou se era técnico e analítico, ou se era sensível e humano. Mas essa separação não faz sentido. Toda organização sustentável e lucrativa precisa da combinação entre técnica e sensibilidade – e qualquer abordagem que exclua uma dessas dimensões inevitavelmente perde força. Essa visão limitada não prejudica apenas a atuação do RH, mas também o potencial estratégico das empresas. Um time de recursos humanos verdadeiramente transformador precisa unir dados e comportamento, estratégia e ética, técnica e empatia. Liderar sob essa perspectiva nem sempre é fácil: exige navegar em um espaço onde decisões precisam ser ao mesmo tempo fundamentadas e humanas. Nos últimos anos, a valorização dos dados ganhou protagonismo. Ferramentas de People Analytics, indicadores e dashboards tornaram-se parte da rotina. E, de fato, sem números, decisões se tornam suposições. Uma pesquisa realizada em 2025 pelo Infojobs expôs que, hoje, mais de 60% dos profissionais de RH tomam decisões baseadas em dados e não mais em intuição e experiência apenas. A tendência é mundial: uma pesquisa realizada pela Forrester revelou que, nos Estados Unidos, empresas que utilizam ferramentas de gestão de dados para tomar decisões têm 58% mais chances de superar suas metas de receita em comparação às que não são orientadas por dados. Porém, dados isolados, sem interpretação comportamental e sem princípios éticos, podem gerar escolhas que enfraquecem culturas e comprometem resultados no longo prazo. Ignorar qualquer um desses elementos, seja o fator humano ou a base analítica, é um erro que cobra caro. O contrário também é verdadeiro. Um discurso humanizado, mas desconectado da realidade operacional, tende a falhar. Empatia sem firmeza pode virar permissividade. Cuidado sem métricas pode se tornar subjetividade. Por isso, o RH precisa estar atento a estrutura de decisão, análise de risco, estratégia, métricas de desempenho e, principalmente, a cultura organizacional. Não basta acolher: é preciso garantir a saúde sistêmica da organização e a integridade das decisões, pensando sempre em performance e resultados, mas sem abrir mão do olhar humano. No final de 2024, uma previu a força da cultura organizacional como uma das 5 prioridades de RH para este ano. A análise concluiu que 57% dos líderes de recursos humanos acreditam que ainda há desafios no que diz respeito à prática cultural nas empresas em que atuam e que, como forma de driblar isso, é preciso deixar claro quais comportamentos respaldam a cultura desejada. Construir uma carreira nesse ponto de interseção entre dados, ética e comportamento é desafiador, mas é também o caminho que permite ao RH cumprir seu papel mais essencial: proteger pessoas, orientar decisões com segurança e responsabilidade e contribuir para o crescimento sustentável das organizações.