O CORVO E A POMBA Adaptação: Anselmo Quadros anselmoqdrs@uol.com.br BIBLIOTECA BR O001 ANSELMO QUAQDROS Cedo ou tarde, um corvo se fará notar entre os pombos. Esta pequena fábula nos dá muito que pensar, pois encontraremos: O mistificador que se utiliza de fantasias e mentiras para enganar os outros com falsas idéias, falso caráter, falsa personalidade. A coruja que é a pessoa inocente e útil. Os pombos irmãos da pomba representam aquelas pessoas que recebem a tarefa e ficam protelando a realização, alegando falta de tempo e quando são cobrados acabam por concluí-las apressadamente sem a responsabilidade que o assunto merece. O enganador, que mesmo passando fome, porque seu paladar não combina com esses pratos, finge engolir tudo, passando fome de caráter e na primeira oportunidade que tiver, bota as manguinhas de fora e revela-se o maior oportunista possível. ………..Era uma vez, um corvo que se apaixonou por uma pombinha branca. – Como ela é linda! Exclamava e suspirava sem parar, seguindo-a com um olhar coruscante de paixão. Mas a pomba nem fazia caso de seus grasnidos e suspiros de amor. Passou-se muito tempo e o corvo, coitado, vivia amargurado pelo amor não correspondido. Por não poder compartilhar da vida da pomba, já estava desesperado e idéias sinistras começavam a se formar em sua mente, quando lhe fulgurou um pensamento magnífico: – Vou me transformar num pombo! E voou como uma flecha até uma loja de ferragens próxima, onde comprou uma lata de tinta branca e um pincel, com os quais pintou cuidadosamente todas as suas penas ficando deslumbrado: – Não tem que ver. Virei pombo! Procurou, então a sua velha amiga, a coruja, e na sua companhia foram às pressas pedir a mão de sua amada Pomba em casamento. A pomba estranhou o tamanho daquele pombo, notou algo meio estranho, porém disse que se os seus dois irmãos o aprovassem, após fazerem a sindicância, ela aceitaria se casar. Os dois irmãos porém pensaram: a nossa irmã Pomba já tem idade avançada e o tal pombo parece ser um cara legal, há alguns poréns, mas para andar mais rápido, vamos dizer que o achamos digno e dizer sim. Depois ele é apresentado pela coruja que já conhecemos… E a pomba branca, confiando na séria sindicância de seus irmãos, deu o seu sim ao corvo pensando que ele era um pombo. O corvo ficou louco de alegria e fez questão que o casamento fosse realizado o mais rápido possível. Tinha pressa. A notícia correu como uma bomba fazendo sucesso no pombal. Era um novo membro que viria compor a comunidade dos pombos. Foram expostos os proclamas e expediu-se a licença para a realização da cerimônia. O cozinheiro pessoalmente se encarregou de preparar os bolos, bolinhos, frituras, sucos e refrescos em grande quantidade, tudo na base de verduras, alpistes e legumes. Tudo muito do agrado dos pombos e das pombas. Ficou acertado que após três dias de festas seria realizada a cerimônia nupcial correndo tudo de acordo com o previsto. Compareceram às festividades, além dos pombos do próprio pombal, vários outros pombos de muitos outros pombais que haviam sido convidados. Assim, dançaram, comeram e beberam a vontade por três dias seguidos. Mas, infelizmente o corvo travestido de pombo detestava, tinha até alergia por alpiste, mas para manter as aparências e para que nada fosse revelado, fingia comer, passando quase fome insuportável. No terceiro dia o corteja pôs-se a caminho da igreja, e, passando por um campo, onde um bando de corvos devorava a carniça de um burro, o mau cheiro fez nascer água no bico do pobre noivo, que não suportando mais a fome abriu a porta da carruagem e voou para junto de seus companheiros indo comer com eles o que era de seu pleno agrado.