A manchete do jornal não deixava dúvidas quando afirmava: 'Relógio de ouro leva trabalhador à justiça'. E o seu conteúdo ampliava as informações sobre o número crescente de demandas que o TST – Tribunal Superior do Trabalho – tem recebido nos últimos anos. São ações contra empresas que não premiaram seus executivos com os prometidos relógios folheados a ouro, canetas Montblanc, jantares de despedida ou até mesmo o fato de não terem sido convidados para a festa dos ex-funcionários etc. Lembranças, mimos ou registros oferecidos por muitas corporações a funcionários que nela permaneceram por um tempo entre 25 ou 30 anos. Literalmente a matéria começa dizendo que 'ao completar 30 anos de trabalho, um ex-empregado considerou que suas expectativas foram frustradas ao deixar de receber um relógio folheado a ouro. Adicionalmente também incriminava a empresa por não ter sido convidado para a tradicional festa de homenagem aos antigos funcionários, realizada a cada dois anos. Especialmente na festa realizada em 2006, considerando que a atração principal foi o cantor Roberto Carlos.' E neste caso, a Corte considerou que a empresa deveria ressarcir ao funcionário o valor equivalente ao prêmio e indenizá-lo pela desconsideração no caso da festa. Mas os resultados e decisões do TST, historicamente, têm ficado muito divididas entre dar o ganho de causa às empresas ou aos ex-funcionários. Segundo alguns ministros, 'o fato de o empregado não ser homenageado como os demais, configura discriminação. Mesmo que não exista norma da empresa prevendo a premiação. E alguns juízes também têm levado em consideração o fato de as homenagens serem habituais, mesmo que a premiação seja concedida por mera liberalidade do empregador'. Entretanto, o registro que desejo fazer neste artigo é o de questionamento quanto ao grau do valor e importância que símbolos como estes podem adquirir e representar na vida e carreira profissional de muitas pessoas. Receio que muitas destas queixas, insatisfações e demandas que chegam ao judiciário ainda possam ser produto do elevado número de profissionais que colocam todo o reconhecimento e até mesmo a realização da sua vida e carreira, como uma responsabilidade exclusiva das corporações às quais entregaram sua dedicação, competência, aspirações e ideais. Mais grave ainda porque as avaliam em função destes símbolos materiais ou até mesmo da sua falta de auto-estima. É preocupante o número de pessoas que, mesmo nos dias atuais, não se apropriam das suas história de vidas, planejamento de carreira e até mesmo a responsabilidade por traçarem seus destinos. E de uma forma ainda mais prejudicial, educam e transmitem aos seus filhos este mesmo modelo de busca da realização. Vale registrar que ele funcionou, e era até mesmo valorizado, numa época em que as corporações eram vistas como imortais. E os indivíduos eram socialmente prestigiados em função do 'sobrenome organizacional' que ostentavam. Hoje vivemos em um mundo onde, claramente, também as organizações podem simplesmente desaparecer, serem adquiridas, fusionadas ou se tornar, muito rapidamente, instituições obsoletas. Razões mais do que suficientes para que cada vez mais as pessoas assumam e se apropriem da responsabilidade e destino das suas trajetórias de vida e carreira. Em um mercado onde os prazos de validade são cada vez menores, os produtos têm sua obsolescência programada, as empresas enfrentam concorrentes mais velozes e as carreiras são mais curtas, se torna importante construir valores e princípios duradouros. Mas sem perder de vista a capacidade de se reinventar, tanto na vida pessoal como profissional. E de uma forma muito especial estes desafios se acentuam pelo aumento nos índices de longevidade, que agora também já vêm acompanhados pela melhoria da qualidade de vida. Fenômenos estes que aumentam o grau de complexidade, além das exigências para que nos inovemos nas várias dimensões e papéis que vivemos.