Adolescência surpreendeu ao conquistar crítica, público e seis estatuetas no Emmy 2025. A minissérie britânica da Netflix, filmada em plano-sequência, transformou-se de projeto arriscado em um fenômeno cultural e audiovisual. O que começou como um exercício narrativo ousado rapidamente se tornou uma das produções mais comentadas do ano. Adolescência estreou em março de 2025 e chamou atenção pelo formato: quatro episódios, cada um gravado em uma única tomada, acompanhando a prisão de um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de classe. A abordagem em tempo real, somada ao mergulho psicológico em temas como bullying e a influência da cultura incel, garantiu uma imersão rara na televisão contemporânea. Origem em um projeto experimental Segundo entrevistas concedidas à BBC, a ideia da série nasceu de uma inquietação do ator e produtor Stephen Graham diante do aumento dos crimes cometidos por adolescentes no Reino Unido. Ao lado do roteirista Jack Thorne, Graham buscou criar uma obra que encarasse de frente a raiva masculina e as distorções de comportamento alimentadas nas redes sociais. O projeto foi inicialmente visto como um teste: um drama limitado, de baixo número de episódios, rodado em plano-sequência para intensificar a narrativa. A direção ficou com Philip Barantini, que já havia explorado esse formato em Boiling Point (2021). As gravações exigiram semanas de ensaio, dezenas de repetições e uma logística rigorosa para que cada episódio fosse exibido como captado, sem cortes ou manipulações digitais. Da ousadia à aclamação O risco compensou. Logo após a estreia na Netflix, a minissérie conquistou a crítica internacional e alcançou o topo do ranking de audiência da Barb Audiences, tornando-se a primeira produção de streaming a liderar a lista semanal. O público foi atraído tanto pela atmosfera sufocante criada pelo plano-sequência quanto pela relevância do tema: como jovens em formação podem ser seduzidos por discursos de ódio e violência. A repercussão abriu caminho para negociações de uma possível segunda temporada, embora os criadores tenham defendido inicialmente o caráter fechado da narrativa. O êxito inesperado transformou Adolescência em um exemplo de como projetos experimentais podem redefinir padrões de mercado. Um Emmy histórico Na 77ª edição do Emmy, realizada em setembro de 2025, Adolescência confirmou seu status ao vencer seis prêmios, incluindo melhor minissérie, direção e roteiro. Stephen Graham, que além de produtor interpretou o pai do protagonista, levou a estatueta de melhor ator. O jovem Owen Cooper, intérprete do acusado Jamie Miller, fez história ao se tornar, aos 15 anos, o mais jovem vencedor da categoria de ator coadjuvante em minissérie. A atriz Erin Doherty, no papel de uma terapeuta forense, também foi premiada como melhor atriz coadjuvante. Ao todo, foram 13 indicações e 140 milhões de visualizações nos três primeiros meses de exibição, consolidando a obra como um dos maiores fenômenos da Netflix. O impacto cultural Além dos prêmios, a série abriu debates sobre masculinidade tóxica, influência digital e os efeitos do bullying nas novas gerações. Especialistas destacaram a coragem da produção em tratar de maneira direta e crua a radicalização juvenil, sem recorrer a estereótipos ou soluções simplistas. Ao transformar um projeto pensado como teste em referência cultural, Adolescência mostrou que inovação narrativa e coragem temática podem render não apenas audiência, mas também relevância social. No fim, a minissérie britânica provou que ousadia e profundidade ainda encontram espaço — e reconhecimento — no competitivo universo do streaming.