A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, prevista para ocorrer em Belém do Pará, tem enfrentado uma série de problemas que já colocam em dúvida a capacidade do Brasil de conduzir o encontro. O maior deles é o aumento excessivo nos preços da rede hoteleira, que se tornou um entrave tanto para delegações internacionais quanto para jornalistas, organizações da sociedade civil e empresas que tradicionalmente participam do evento. O cenário de escassez de acomodações levou hotéis a praticarem tarifas muito acima da média, em alguns casos triplicando os valores. Essa realidade ameaça não apenas a logística da conferência, mas também a imagem do Brasil como anfitrião de um dos maiores eventos globais sobre mudanças climáticas. Pressão internacional por mudança de sede Os problemas na preparação da COP30 não se limitam ao setor hoteleiro. Questões envolvendo infraestrutura de transporte, capacidade de energia e até a conectividade de internet têm sido apontadas por representantes estrangeiros como pontos críticos. A soma desses fatores abriu espaço para pressões de países que já sugerem a transferência do evento para outra cidade, capaz de oferecer melhores condições de acolhimento às delegações. Embora o governo brasileiro reforce que Belém foi escolhida por sua simbologia, já que está localizada na Amazônia, líderes internacionais têm manifestado preocupação com a viabilidade prática de realizar uma conferência global desse porte em uma cidade com limitações estruturais. Outros problemas de organização Além da superlotação e dos preços abusivos nos hotéis, outros problemas vêm sendo relatados: Atraso em obras de mobilidade urbana e na adequação de espaços para receber as conferências. Dificuldade em garantir segurança logística diante do grande fluxo de visitantes esperados. Planejamento deficiente no credenciamento de profissionais de imprensa e organizações não governamentais. Falta de clareza sobre a infraestrutura de telecomunicações disponível para transmissões internacionais. Essas falhas, somadas, aumentam a percepção de que o Brasil corre o risco de comprometer um evento que deveria projetar protagonismo internacional na agenda ambiental. As falhas de gestão que a COP30 evidencia O impasse em torno da conferência escancara erros de planejamento e de gestão pública que já vinham sendo alertados desde a escolha de Belém como sede. Entre as principais falhas estão: Decisão de realizar o evento em uma cidade com baixa infraestrutura: a escolha de Belém foi estratégica para dar visibilidade à Amazônia, mas desconsiderou limitações práticas de logística, transporte e hotelaria. Subestimação da demanda de visitantes: não houve planejamento antecipado para acomodar dezenas de milhares de participantes, resultando em especulação hoteleira. Atrasos na execução de obras: melhorias prometidas para mobilidade urbana, segurança e centros de convenções não foram concluídas no prazo. Falta de coordenação entre esferas de governo: União, Estado e município têm divergido em responsabilidades e na execução de medidas para garantir a preparação adequada. Ausência de mecanismos de regulação de preços: sem controle sobre tarifas de hotéis e serviços, a escalada de custos se tornou um fator de exclusão para participantes. Planejamento falho em tecnologia e comunicação: ainda há dúvidas se Belém conseguirá oferecer a conectividade necessária para transmissões globais e comunicação segura entre delegações. O risco para a imagem do Brasil A COP30 era vista como uma oportunidade única para o Brasil reforçar sua liderança global na pauta climática, especialmente pela relevância da Amazônia no debate ambiental. Contudo, os problemas de gestão e infraestrutura podem transformar o evento em um desgaste diplomático, caso não sejam corrigidos a tempo. Diante do quadro atual, a organização da conferência enfrenta a pressão de equilibrar o simbolismo da escolha da Amazônia com a necessidade de assegurar condições práticas para receber um encontro internacional dessa magnitude. O sucesso da COP30 dependerá da capacidade do país de corrigir rapidamente as falhas de planejamento que, até agora, ameaçam comprometer sua realização.