Conquistar uma vaga no mercado de trabalho é o sonho de muitos jovens. Porém encontrar a imaginada oportunidade na empresa mais cobiçada não é uma tarefa tão simples assim. Muitas vezes é necessário se preparar tanto que o processo mais parece um campo de batalhas: qualquer deslize pode ser fatal! Testes, testes e mais testes, intermináveis dinâmicas de grupo, avaliações psicológicas, comportamentais, pessoais, exercícios de raciocínio, entre outras etapas, aproximam ou distanciam o candidato da sua grande chance profissional. Segundo uma recente pesquisa da Associação Brasileira de Estágios (Abres), dos sete milhões de estudantes brasileiros que estão cursando o nível superior, apenas 10,51% estão estagiando. Presume-se, portanto, que os outros quase 90% estão divididos em três grupos: 1. Em empregos efetivos e até operacionais – exercendo funções diferentes do curso em que estão matriculados; 2. Apenas dedicando-se aos estudos; 3. Com dificuldade de encontrar uma oportunidade de estágio, pelos mais variados motivos. Alinhar os anseios dos universitários ao que as empresas esperam e como a universidade está preparando esse jovem ainda é uma equação distante de ser resolvida. Para entender qual a impressão e a expectativa dos estudantes e recém-formados em relação ao processo seletivo, a si mesmo, às empresas e o que as instituições de ensino oferecem para ajudá-los nesse caminho, a Universia Brasil e aTrabalhando.com realizaram uma pesquisa nacional inédita com 1.816 universitários em todo país. Com questões abertas e fechadas, o objetivo da pesquisa que levou cerca de um mês para ser concluída, foi o de descobrir como os jovens veem os processos de estágios e trainees, como eles se sentem, porque desistem ou insistem, como a instituição de ensino os apoia em relação a essa experiência, o que ele espera da contratante e principalmente, qual o modelo de processo seletivo do futuro. De acordo com Caio Infante, diretor-geral da Trabalhando.com, com os resultados foi possível perceber que infelizmente empresas, jovens e instituições de ensino, não estão caminhando na mesma direção. 'Um dos papéis das IES é o de preparar seus alunos para o mercado. Porém, os anseios não estão alinhados. Nossa ideia com essa pesquisa era a de desvendar as expectativas dos jovens e das empresas e com o cruzamento desses dados tentar ajudar as três pontas a se conhecerem melhor e – quem sabe – torná-los mais próximos e mais realizados. Estamos muito satisfeitos com tudo que ouvimos dos jovens. O futuro agora depende das empresas e pelo que vimos ele será de muitas mudanças', explica satisfeito. De acordo com Luis Cabañas, diretor-geral da Universia a Universia Brasil é um agente integrador entre universidades e empresas. 'A preparação dos jovens brasileiros para ingressar no mercado de trabalho é um tema de muita relevância”, afirma Cabañas. A triste decepção com o processo seletivo O sonho de trabalhar em uma empresa estruturada e cheia de oportunidades encanta o jovem. Muitas vezes, na hora em que escolhe o curso que dedicará 4, 5 e até 6 anos da sua vida, ele já se vê trabalhando 'naquela empresa' ou exercendo 'aquela função' especial. Mas, segundo eles, a barreira imposta pelo processo seletivo é o que mais tem destruído seus planos. As decepções foram as mais comentadas durante a pesquisa: 'Dinâmicas de grupo mal feitas ou consultorias que te chamam sem você ter os pré-requisitos', reclamou um dos entrevistados. 'Muitas etapas. Elas são extremamente desgastantes e não chegam a dar parâmetro em absolutamente nada sobre o que você vai executar ou a área que você está pretendendo', justifica outro. 'A falta de transparência da empresa em relação às atitudes tomadas durante o processo seletivo e ainda a falta de organização poderia me desencorajar a optar por tal empresa se tiver outras oportunidades em vista', desabafa um terceiro. Os três entrevistados acima infelizmente representam a maioria. 'Com tudo que ouvimos foi fácil perceber que o jovem mudou, as instituições de ensino estão lutando para acompanhá-los, algumas estão conseguindo, porém, a maioria das empresas está trabalhando com a geração Z, como trabalhava com a Y e esse choque traz decepção para as duas pontas. Jovens e empresas não conseguem se entender: os processos seletivos ainda são iguais, porém o público é diferente e bem mais exigente', explica Infante. O jovem de hoje quer ver e ser visto. Nos últimos anos, até pelo boom da tecnologia, os processos naturalmente migraram para o mundo virtual e ficaram amarrados a testes, avaliações escritas, e diálogos por e-mail, antes de chegar ao presencial. 'Incrível perceber que o 'novo candidato', por exemplo, prefere o contato pessoal, as conversas presenciais do que os processos on-line. O jovem Z precisa do olho no olho, necessita ser ouvido, e isso está distante do que a maioria das empresas tem feito com o passar do tempo', finaliza. Desvendando o triângulo das bermudas Dos três principais eixos determinaram a pesquisa: jovem, instituição de ensino e empresa, os entrevistados comentaram livre e abertamente o que pensam a respeito e o que esperam que mude em um futuro próximo: 1. O que você não gosta ou te faria desistir de um processo seletivo? 2. Qual o apoio que você espera ter da sua instituição de ensino? 3. O que você espera da empresa contratante? 4. E, por fim, o que você gostaria que tivesse em um processo seletivo? Um recorte dos principais números: – 58% estudam em instituições privadas e 42% em públicas; – 36% estudam na área de humanas e 17% exatas; – 87% dos entrevistados sabem o que é um programa de estágio ou trainee; – 76% deles já participaram de um programa de estágio; – 17% tomaram conhecimento do programa por meio da instituição de ensino; – 62% buscaram a oportunidade por sua própria conta; – 70% preferem que as etapas do processo sejam apenas presenciais; – 41% escolhem participar de um processo pela promessa de aprendizado; – 32% valorizam remuneração e benefícios; – 56% abririam mão da remuneração pela aprendizagem;