Valor de mercado da empresa caiu cerca de 50% nos últimos meses, algo sem precedentes na indústria automotiva segundo analistas do JPMorgan A Tesla, que já foi símbolo da revolução dos veículos elétricos, vive hoje um momento delicado. O valor de mercado da empresa caiu cerca de 50% nos últimos meses, algo sem precedentes na indústria automotiva segundo analistas do JPMorgan. Protestos contra o CEO Elon Musk, motivados por seu envolvimento político com o governo Trump e sua atuação no escritório DOGE da Casa Branca, vêm gerando uma reação intensa de consumidores e investidores. Carregadores de carros elétricos têm sido incendiados e Cybertrucks vandalizados por opositores de Musk, levando alguns proprietários a se desfazerem dos veículos por medo de novos ataques. A ausência de Musk da liderança efetiva da Tesla tornou-se um dos pontos mais críticos para acionistas, que veem no afastamento do executivo um dos principais fatores por trás da derrocada recente. Embora ainda seja o CEO formal da montadora, Musk divide sua atenção com outras empresas como SpaceX, xAI, Neuralink e The Boring Company — além de se manter como figura constante nas redes sociais e no cenário político norte-americano. Ausência que custa caro Especialistas apontam que o fenômeno do 'CEO ausente' é mais comum do que parece e pode ser extremamente danoso à cultura organizacional. Laura McHale, diretora da consultoria Conduit Consultants, afirma que esse tipo de liderança distante, seja física ou emocional, tende a minar a produtividade e o engajamento dos funcionários. Segundo pesquisa da Interact/Harris Poll, os principais problemas de comunicação relatados por trabalhadores nos EUA não envolvem assédio ou agressividade, mas sim a falta de direção clara, reconhecimento e proximidade com seus líderes. No caso de Musk, a ausência não é discreta. Ele domina as manchetes, mas sua figura pública cada vez mais politizada tem se tornado um fardo para a Tesla. O envolvimento direto com o gabinete DOGE do governo Trump, de onde Musk já despachou dormindo no chão, e sua agenda ideológica, geram rejeição por parte de clientes e investidores, que não conseguem mais dissociar a imagem da empresa da de seu CEO. Tesla perde espaço e confiança Além da imagem pessoal de Musk, a Tesla enfrenta desafios estruturais. A concorrência chinesa no setor de veículos elétricos cresce rapidamente, enquanto a empresa ainda luta para desenvolver uma tecnologia de direção autônoma confiável. A percepção de que Musk abandonou o comando da Tesla para priorizar seus outros negócios — especialmente iniciativas relacionadas à inteligência artificial — preocupa investidores como Ross Gerber, que afirmou: 'Se ele dedicasse todo o tempo ao Full Self-Driving, eu estaria muito mais confiante quanto à Tesla'. O professor David Yoffie, da Harvard Business School, destaca que o modelo de liderança centralizadora de Musk torna sua ausência ainda mais problemática. 'Ele gosta de se envolver nos mínimos detalhes, mas não há horas suficientes no dia para microgerenciar tantas empresas ao mesmo tempo', afirma. Impacto profundo na cultura corporativa Segundo a consultora Lori Dernavich, a liderança esporádica de Musk cria gargalos operacionais, desorganiza processos e impacta negativamente a cultura da empresa. 'Sem um líder presente, decisões importantes demoram, a moral da equipe cai e o ressentimento cresce. Tudo começa a desandar', diz. Embora Musk tenha admitido recentemente, em entrevista à Fox Business, que conciliar suas atividades nas empresas com as demandas do DOGE tem sido 'muito difícil', ele não dá sinais de desaceleração. Em uma semana particularmente negativa, o X (ex-Twitter) sofreu um apagão, um foguete da SpaceX explodiu e a Tesla perdeu US$ 127 bilhões em valor de mercado em um único dia. Enquanto Musk mantém sua resistência, o tempo parece estar se esgotando para os demais — sejam eles clientes, acionistas ou colaboradores da Tesla.