O universo de gestão de carteiras vem sofrendo alterações significativas ao longo das últimas décadas, sobretudo no que diz respeito ao entendimento das necessidades e características dos investidores e da forma como seus investimentos devem ser geridos. A necessidade de se buscar a maximização da função retorno por unidade de risco deve se aplicar a um contexto mais amplo que apenas o empregado pela teoria clássica de gestão de carteiras. Adicionalmente se observa uma maior profissionalização de agentes econômicos (reguladores, investidores, ambientes de negociação entre outros) que tem demandado padrões mais elevados de gestão de riscos e alocações de capital traduzidos em exigências que tornam ainda mais desafiador a busca por se destacar no mercado, atingir os objetivos do investidor e proporcionar a gestão eficiente e prudencial de seu capital. É neste contexto que ALM (Asset Liability Management) entra como elemento fundamental para a gestão de riscos de descasamentos entre ativos e passivos. Sua utilidade consiste em capacitar o agente investidor de tomar ações de gestão observando o comportamento dos seus passivos, gerenciando os riscos e que podem resultar numa maior probabilidade de sucesso no seu negócio. Em determinados segmentos como Banking, o ALM resulta ser tão importante que existem diretorias 100% dedicadas a este assunto, já que os resultados de suas decisões impactam diretamente o resultado financeiro, a alocação de capital, liquidez e solvência da Instituição. Nestas instituições são usadas estas técnicas nas tesourarias e áreas correlatas para se ter uma visão clara dos riscos assumidos, afim de se avaliar se a visão tática e estratégias da Instituição está alinhada com as posições assumidas ou se demandam ajustes adicionais. No segmento corporativo as técnicas de ALM auxiliam a gestão eficiente do caixa, provendo subsídios ao controle de liquidez e alocação eficiente dos ativos, olhando a cobertura dos passivos de terceiros (dívidas contratadas com Bancos ou emissões no mercado de capitais). Busca-se, assim, se adicionar valor ao acionista através da busca pelo incremento do patrimônio liquido sem incorrer a riscos desnecessários que pode resultar numa falta de cobertura de compromissos e necessidade de financiamento. No mercado Segurador, a aplicação destas técnicas é fundamental para sustentabilidade do negócio por buscar múltiplos objetivos de gestão: liquidez, solvência, capital regulatório, capital RBC e impactos nos demonstrativos financeiros para fins locais e IFRS dentre outros. A gestão eficiente de todos estes objetivos provém de um detalhamento adequado dos passivos, e consequentemente, de uma gestão focada a atingir o objetivo de investimento de cada fração de passivo definido, racionalizando no detalhe a utilização dos ativos. Para o mercado de Previdência, essas técnicas são necessárias para manter a saúde dos planos e cumprir os compromissos de pagamentos de benefícios. O uso prudente dos ativos quando necessários à cobertura dos passivos, assim como a utilização adequada dos excedentes nas tomada de risco, torna fundamental no equilíbrio de reservas ao longo do tempo dos planos previdenciários, possibilitando a sustentabilidade do benefício. Não obstante para investidor pessoa física, o segredo percorre o entendimento e materialização do seu passivo com definições claras de seu perfil de endividamento, propensão para tomada a risco, horizonte de investimento e objetivo para utilização do capital investido, muito disto traduzido nos conceitos de suitability. A definição destes parâmetros (materialização do passivo) suportará a decisão de investimento ao se observar o que se deve alocar para cobrir estas necessidades e, adicionalmente, o que se poderá adicionar de risco para buscar incremento de capital. É importante ressaltar que as técnicas de ALM podem ser aplicadas aos mais diversos investidores, como apresentado acima. Isso dá uma amplitude enorme ao assunto, além de demandar conhecimento prévio de muitas outras áreas como: riscos, teoria de carteiras, produtos de investimentos e variáveis econômicas entre outros. A diversidade da aplicabilidade do ALM transcende qualquer horizonte de investimento, sendo aplicável para curto, médio e longo prazo, assim como para diversos objetivos: proteção, hedge ou assunção de riscos deliberadamente ajustados aos passivos do investidor ( que pode se entender como seu melhor 'raio x'). Finalmente pode-se dizer que a gestão direcionada ao passivo (LDI – Liability Driven Investment) veio para ficar e revolucionar a forma de se gerir recursos, mesmo em circunstâncias que não se acredite que a materialidade do passivo seja factível. Assumir esta leitura promove o adequado planejamento dos investimentos, desde a compreensão do investidor, a tradução do seu interesse em estratégia, organização da mesma em diretrizes de aplicações, implementação e consequente monitoramento. Mario Amigo – é professor do Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração (LabFin/FIA), considerada referência no Brasil em educação executiva voltada às finanças corporativas e aos mercados financeiros. A instituição oferece cursos de MBA, pós-graduação, extensão, EaD (ensino a distância) e programas internacionais. Clique aqui e saiba mais.