Por que 94% dos empreendedores brasileiros já sofreram de algum distúrbio mental?

Créditos: Adobe Stock
Condição adversa de saúde mental mais frequente entre os empreendedores é a ansiedade, seguida por burnout, depressão e ataques de pânico
De acordo com o estudo “Saúde e Performance de Pessoas Empreendedoras”, feito pela Endeavor Brasil em colaboração com o BID Lab, 94,1% dos fundadores de startups brasileiros já viveram pelo menos uma condição adversa de saúde mental ao longo da sua jornada empreendedora.
A mais frequente delas, conforme revelou a pesquisa aplicada a 118 empreendedores de alto impacto que lideram startups e scale-ups no país entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, é a ansiedade (85,6%), seguida por burnout (37%), depressão (21%) e ataques de pânico (22%).
Este cenário é ainda mais crítico entre mulheres empreendedoras, com ansiedade (88,2%) e ataque de pânico (29,4%) sendo citados com maior frequência do que entre os homens. Além disso, elas consideram a jornada empreendedora mais estressante (76,5%) do que que os homens (54,5%) e 47,1% delas apontam os vieses do ecossistema de gênero como um desafio.
Para Camilla Junqueira, diretora-geral da Endeavor Brasil, “os empreendedores não apenas escalam negócios inovadores, mas também geram um efeito multiplicador que transforma economias inteiras no nosso país, porém, pouco se fala que o bem-estar é a base para esse impacto”.
Segundo a pesquisa, a cultura de trabalho intensiva, a pressão por sucesso e o medo do fracasso têm agravado problemas como estresse, ansiedade e burnout. Entre os entrevistados, 91,5% revelaram conhecer alguma pessoa empreendedora que enfrentou desafios de saúde mental ao longo de sua trajetória.
Saiba mais
Masterclass – Estresse e Resiliência
Fabiana Salles, diretora da Dasa, empreendedora e embaixadora da Endeavor, destaca os desafios que enfrenta enquanto mulher no mundo dos negócios, com a maternidade sendo o maior deles. “As mulheres ainda precisam desempenhar um papel de liderança muitas vezes moldado pelo modelo masculino. Isso se soma à expectativa de que elas assumam uma carga desproporcional de responsabilidades fora do ambiente de trabalho, como nos cuidados com a família e na gestão da casa”.
No Brasil, segundo estudo da OMS realizado em 2022, 33,5% da população enfrenta problemas quando o assunto é saúde mental. O país é o terceiro pior do mundo neste sentido, ocupando a 62ª posição em um ranking de 64 países.
Enquanto a maioria dos empreendedores entrevistados para o estudo (56,8%) consideram sua rotina estressante, aqueles com mais anos de experiência ou em seu segundo ou terceiro negócio parecem ter uma opinião diferente. Brian Requarth, Co-founder Latitud, crê que isto se deve à inteligência emocional.
“É normal termos mais inteligência emocional conforme temos experiência empreendendo. Quando se faz algo pela primeira vez, você usa o instinto. Numa segunda ou terceira jornada, você já tem seu livro de jogadas – se já fez isso antes, você se sente mais confortável fazendo de novo”, explica.
Já Luis Figueiredo, coach e mentor da Endeavor, acredita na importância de que empreendedores, conhecidos por suas longas jornadas de trabalho, entendam o que é engajamento no trabalho e o que é vício: “Essa compulsão é consequência do ambiente e decorrente da pressão do ecossistema em que eles estão inseridos. É preciso estabelecer um ritual de saída para se desligar, como exercícios ou outra atividade que finalize o trabalho no dia”.
A posição do especialista é corroborada pelo estudo, que revela que 40% dos empreendedores que trabalham 40 horas por semana consideram a rotina estressante ou muito estressante, contra 66,7% daqueles que trabalham mais de 80 horas.
Para as pessoas que desejam trabalhar muitas horas e manter o bem-estar, Cesar Carvalho, Conselheiro Endeavor e CEO Gympass, recomenda que exista foco nas atividades realmente importantes para o negócio e a vida pessoal. “Quem está com dificuldades no negócio, como para levantar capital, precisa dobrar as boas práticas de bem-estar em sua rotina”, comenta.
O co-founder MadeiraMadeira e conselheiro Endeavor Robson Privado, por sua vez, recomenda que os empreendedores se concentrem no que está sob seu controle e tenham momentos de descontração.
“Ter em mente o que está sob meu controle e o que é incontrolável e tirar momentos de descanso são ferramentas para diminuir minha ansiedade. Empreender é muito solitário, com uma pressão para não falhar e com poucas pessoas para dividir seus problemas, o que cria uma responsabilidade adicional”, declara.
(com Exame)











