Décadas de pesquisas indicam que essa abordagem não só é ineficaz, como pode ser destrutiva para as empresas a longo prazo A onda de demissões promovida por gigantes da tecnologia em 2025 está sendo marcada por um discurso de eliminação de funcionários de baixo desempenho. Mark Zuckerberg, ao anunciar a demissão de 4.000 funcionários no mês passado, afirmou que a meta era “remover os de baixo desempenho” e garantir as melhores equipes. Microsoft seguiu a mesma linha ao cortar funcionários com avaliações mais baixas, enquanto Elon Musk dispensou milhares de servidores federais alegando baixa performance, mesmo quando muitos deles tinham avaliações positivas. A mensagem que os gestores estão passando é clara: aumente sua produtividade ou será o próximo. Mas décadas de pesquisas indicam que essa abordagem não só é ineficaz, como pode ser destrutiva para as empresas a longo prazo. O problema da gestão pelo medo A ideia de impulsionar o desempenho por meio da ameaça de demissão não é nova. No início do século XX, o teórico da administração Frederick Taylor defendia que os trabalhadores eram preguiçosos por natureza e precisavam de supervisão constante e metas agressivas. Nos anos 1980, a filosofia foi retomada por Jack Welch, CEO da General Electric, que implementou o sistema “rank and yank”, no qual os 10% piores funcionários eram demitidos anualmente. Embora a ideia fosse criar uma meritocracia, os resultados foram desastrosos. Empresas como a Microsoft, que adotaram o modelo, viram uma queda expressiva na inovação e no engajamento dos funcionários. Relatos indicam que, sob esse regime, os empregados passaram a torpedear colegas para se destacarem, resultando em um ambiente hostil e perda de talentos. A Microsoft, por exemplo, viu seu valor de mercado cair mais de 50% na década de 2000, e somente após abandonar o sistema de stack ranking em 2013 conseguiu reverter o cenário. O impacto real das demissões por “baixa performance” Estudos apontam que o impacto da gestão pelo medo pode ser devastador. No curto prazo, os funcionários realmente trabalham mais rápido e com mais intensidade. No entanto, a qualidade do trabalho despenca. Um estudo realizado em uma empresa de tecnologia da Fortune 500 mostrou que, após uma série de demissões, a criatividade e a inovação dos funcionários de alto desempenho diminuíram drasticamente. O fenômeno, chamado de 'resposta de rigidez à ameaça', faz com que os empregados, ao temerem perder seus empregos, parem de assumir riscos, reduziram sua criatividade e adotem comportamentos conservadores, comprometendo o crescimento da empresa. Além disso, o impacto na retenção de talentos é significativo. Para cada 1% da força de trabalho demitida, há um aumento médio de 31% na rotatividade voluntária, segundo pesquisas. Isso significa que os funcionários mais qualificados, que possuem mais opções de trabalho, tendem a sair antes, deixando a empresa com um quadro menos talentoso e motivado. CEOs insistem no erro Mesmo com o histórico de fracassos desse modelo, líderes como Zuckerberg e Musk continuam apostando na abordagem de cortes agressivos para aumentar a produtividade. Segundo Adam Grant, psicólogo organizacional da Wharton School, muitos CEOs simplesmente não conhecem as evidências que desmentem essa prática. “A decisão de criar um ambiente de medo pode até gerar ganhos imediatos, mas a longo prazo as empresas pagam um preço alto“, afirma Grant. “Elas perdem os melhores talentos, veem a inovação cair e criam um ambiente tóxico que desmotiva os funcionários”. Jack Welch, que popularizou o método, reconheceu no fim da vida que demissões por desempenho deveriam ser conduzidas com empatia e respeito. Mesmo assim, décadas depois, empresas continuam reincidindo nos mesmos erros. Com o cenário competitivo do setor de tecnologia e a corrida pela liderança na Inteligência Artificial, especialistas apontam que a busca por produtividade poderia ser mais eficaz com incentivo, reconhecimento e um ambiente de trabalho estável, em vez da constante ameaça de demissão. Afinal, como demonstram décadas de estudos, o verdadeiro problema não são os funcionários de baixo desempenho — são os CEOs que insistem em uma estratégia ultrapassada e ineficaz.