Apesar dos riscos éticos e profissionais, a maioria dos trabalhadores já se envolveu romanticamente com colegas — e os dados revelam uma realidade difícil de ignorar Os romances no ambiente de trabalho sempre foram fonte de piadas em séries e motivo de preocupação para líderes e equipes de RH. Mas o assunto voltou ao centro das atenções com um episódio digno de roteiro: dois executivos seniores da startup Astronomer, ambos casados, foram flagrados por uma kiss cam durante um show do Coldplay. O incidente reacendeu o debate sobre os riscos e dilemas de se misturar relações pessoais com o mundo corporativo. Mas os dados mostram que, mesmo cientes dos riscos, muitos profissionais simplesmente não resistem à tentação. A estatística por trás do flerte corporativo Uma pesquisa recente da Zety, empresa de currículos online, revelou que impressionantes 79% dos trabalhadores norte-americanos já tiveram um relacionamento amoroso de longo prazo com alguém do trabalho. Mais alarmante: 32% admitiram já ter se envolvido com um superior direto, algo que levanta sérias questões éticas e jurídicas. A pandemia e o aumento do trabalho híbrido ou remoto também parecem ter influenciado esses relacionamentos. Segundo o estudo, 86% dos participantes acreditam que o modelo atual facilita romances por reduzir o risco de exposição diante de colegas. E 94% disseram que emojis e GIFs se tornaram ferramentas úteis para paquerar em ambientes profissionais. Mas nem tudo são flores: 79% dos entrevistados já enviaram mensagens ou sinais de flerte para a pessoa errada — o tipo de erro que pode custar caro em ambientes corporativos formais. Flertar para subir? Talvez o dado mais controverso do estudo seja o fato de 91% dos entrevistados admitirem ter usado charme ou flerte para tentar subir de posição ou ganhar favores profissionais. O número é tão alto que parece inevitável perguntar: quantos dos colegas à sua volta já fizeram o mesmo? Outro levantamento, feito pelo app anônimo Blind, mostrou que os profissionais de recursos humanos são os que mais se envolvem em romances de trabalho. Isso contrasta com dados de 2018, em que um terço dos relacionamentos profissionais acabavam em demissões — mostrando que até quem deveria coibir essas relações pode acabar se envolvendo nelas. Políticas internas: prevenir ou apenas minimizar o dano? Mesmo com empresas adotando políticas rígidas contra relacionamentos no ambiente de trabalho, a frase o amor sempre encontra um jeito parece se aplicar. A pesquisa da Resume Genius apontou que 72% dos profissionais que se envolveram com colegas não informaram seus superiores ou o RH. Embora a recomendação clássica de especialistas ainda seja melhor não fazer, ignorar o problema também não parece ser uma boa ideia. A recente polêmica envolvendo a Astronomer pode servir como alerta: talvez seja hora de revisar e relembrar as políticas internas relacionadas a relacionamentos no trabalho — não apenas para coibir, mas para orientar de forma clara e responsável. Um fenômeno em mudança? Apesar dos números elevados, pesquisas mais recentes também apontam para uma queda nas relações profissionais em comparação com décadas anteriores. Pode ser um reflexo do distanciamento gerado pelo trabalho remoto ou de mudanças nos valores e formas de socialização dentro das empresas. O fato é que, entre o flerte e a demissão, entre o emoji mal enviado e a acusação de favorecimento, o romance de trabalho continua existindo — muitas vezes, à margem das regras formais. Para líderes e empreendedores, o desafio não é apenas regulamentar, mas criar culturas organizacionais onde respeito, transparência e ética estejam acima de qualquer envolvimento pessoal.