Ajudar alguém a decidir não é oferecer respostas. É ajudar a construir boas perguntas Quando Warren Buffett pensou em entrar no mercado de investimentos, pediu a opinião do pai. A resposta foi cautelosa: talvez desse certo algum dia, mas aquele não parecia um bom momento. Anos depois, Jeff Bezos ouviu algo semelhante ao apresentar a ideia da Amazon ao seu chefe em um fundo de hedge. Ele achava que empreender na internet seria melhor para alguém que não tivesse um emprego estável. Esses exemplos são frequentemente usados para ilustrar como conselhos podem falhar. Mas o problema de dar conselhos vai muito além de casos famosos que deram certo apesar das opiniões contrárias. Existem pelo menos dois obstáculos estruturais quando alguém pede orientação sobre decisões importantes. O primeiro é que, na maioria das vezes, quem pede conselho não quer exatamente uma resposta pronta. A pessoa já pensou demais. Está mergulhada em dados, prós e contras, cenários possíveis e inseguranças pessoais. Acrescentar mais uma opinião externa, especialmente de alguém que conhece apenas uma parte da situação, tende a aumentar a confusão, não a clareza. O segundo problema é que opiniões raramente são informação. Elas são percebidas como julgamento. Pesquisas em psicologia organizacional mostram que o feedback costuma ser associado à avaliação, o que gera resistência. Além disso, as pessoas tendem a superestimar suas próprias capacidades e a descartar rapidamente críticas negativas. Estudos indicam que, em poucos dias, grande parte do feedback construtivo simplesmente é esquecida. Na prática, isso significa que mesmo conselhos bem-intencionados e inteligentes têm pouco impacto real. Não porque sejam ruins, mas porque não dialogam com a forma como as pessoas constroem convicções e tomam decisões. Diante disso, surge uma alternativa mais eficaz: trocar conselhos por perguntas. Em vez de dizer o que alguém deveria fazer, ajudar essa pessoa a formular as perguntas certas para si mesma. Imagine alguém avaliando transformar um trabalho paralelo em negócio principal. Opinar que é arriscado, promissor ou imprudente pouco ajuda. Já perguntas como se há demanda não atendida suficiente, se existe conforto em investir mais capital, se a pessoa está disposta a contratar e gerir outras pessoas ou lidar com a instabilidade financeira mudam o nível da reflexão. Elas deslocam o foco da opinião externa para a realidade interna de quem decide. O papel de quem escuta não é direcionar, mas ampliar a clareza. Cada decisão relevante envolve fatores pessoais que ninguém de fora consegue medir com precisão: tolerância ao risco, momento de vida, ambições, limites emocionais e financeiros. Só quem vive a decisão pode responder a essas questões. O mesmo vale para escolhas de carreira mais complexas, como deixar um emprego bem remunerado para empreender. A pergunta central raramente é 'vai dar certo?'. Normalmente, ela passa por algo mais profundo: a pessoa aceita o esforço prolongado, a incerteza, a possibilidade de falhar e até a necessidade de recomeçar? Está preparada para lidar com isso sem se arrepender no futuro? Quando alguém pede conselho, o impulso natural é dizer o que fazer ou o que faríamos no lugar dela. Mas isso ignora um ponto essencial: somos nós, não a outra pessoa. Nossas experiências, medos e prioridades não são transferíveis. Ajudar alguém a decidir não é oferecer respostas. É ajudar a construir boas perguntas. Porque, no fim, as únicas respostas que realmente importam são aquelas que a própria pessoa consegue sustentar.