Nem todo esgotamento vem do excesso. Às vezes, ele nasce do vazio. E quando uma empresa entende isso, pode transformar tédio em energia Termos da moda sobre hábitos de escritório vão e voltam com a velocidade de memes. Mas um rótulo novo merece atenção especial de líderes e gestores porque aponta um problema real, ainda pouco percebido nas empresas. Ele se chama boreout. É diferente de burnout, mas também indica que algo pode estar fora de equilíbrio na cultura organizacional. E, mais do que um incômodo, pode corroer produtividade e resultados. Boreout não é aquele tédio pontual que todo mundo sente de vez em quando. Esses episódios são parte natural do trabalho. Às vezes há pouco a fazer em semanas mais lentas. Às vezes uma tarefa repetitiva parece interminável. O relógio arrasta, o dia pesa, mas no dia seguinte a rotina muda. Nesse caso, o tédio vira apenas uma fase a atravessar. Quando o tédio vira um problema crônico O boreout é outra história. Ele aparece quando o tédio se torna constante, quase uma condição crônica. Em vez de ser um momento específico, vira o pano de fundo da vida profissional. Esse estado prolongado suga energia, enfraquece a motivação, reduz concentração e deixa as pessoas mental e emocionalmente esgotadas, mesmo sem estarem sobrecarregadas. A palavra nasce como contraponto ao burnout. Enquanto o burnout costuma estar ligado ao excesso de trabalho, o boreout vem da falta de sentido. Ele atinge profissionais que se desconectaram do que fazem, muitas vezes porque passam o dia em tarefas repetitivas, burocráticas ou em 'trabalho de preenchimento', aquele conjunto de atividades que existe mais para ocupar tempo do que para gerar valor. O resultado costuma aparecer em comportamentos de apatia, distância emocional e baixa energia. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O custo invisível para a empresa O fenômeno tem impacto financeiro direto. Um estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine relaciona boreout ao desengajamento e estima perdas anuais médias equivalentes a cerca de US$ 4 mil por trabalhador horista, mais de US$ 4,2 mil por funcionário assalariado não gestor, e números ainda maiores em cargos de liderança. Para gerentes, o custo sobe para mais de US$ 10,8 mil, e para executivos ultrapassa US$ 20,6 mil. Essas perdas se acumulam de formas previsíveis: ausências, queda de atenção, erros que precisam ser corrigidos e uma lentidão geral no ritmo do time. Quanto mais estratégica a posição do profissional entediado, maior o prejuízo. É um desperdício de talento que raramente aparece nos indicadores tradicionais, mas drena resultados de maneira constante. O que boreout diz sobre cultura e saúde mental Para líderes, boreout merece mais atenção do que muitas tendências passageiras. Em parte porque trabalhadores tendem a não revelar esse tipo de sofrimento. Muitos evitam falar sobre tédio crônico, desmotivação ou sensação de inutilidade por medo de parecerem ingratos, preguiçosos ou incapazes. Assim, o problema cresce em silêncio. Além disso, boreout sinaliza algo estrutural: a empresa não está usando as habilidades das pessoas de forma significativa. Se o trabalho diário não desafia, não envolve e não gera sensação de progresso, o sistema está desperdiçando potencial. E isso se conecta à discussão mais ampla sobre saúde mental no trabalho, que exige ambientes onde as pessoas se sintam seguras para falar sobre o que estão vivendo. Esse tipo de abertura fortalece a reputação da empresa, especialmente entre profissionais mais jovens, como a geração Z, que dá alto valor a culturas transparentes e emocionalmente inclusivas. Como tecnologia pode ajudar a reduzir o boreout Há ainda um fator novo que pode atuar como aliado. Ferramentas de inteligência artificial, especialmente sistemas mais autônomos, podem assumir parte do trabalho repetitivo que alimenta o boreout. Ao retirar tarefas mecânicas e demoradas do dia a dia, abre-se espaço para um trabalho mais relevante, criativo e conectado a propósito. No fim, boreout é um aviso. Nem todo esgotamento vem do excesso. Às vezes, ele nasce do vazio. E quando uma empresa entende isso, pode transformar tédio em energia, rotina em significado e presença em verdadeiro engajamento.