A liderança mais respeitada não é a que se apropria do brilho, mas a que assume o peso. Porque é assim que o time entende que o 'nós' é verdadeiro, e não só uma palavra bonita no palco Em times saudáveis, a linguagem é um termômetro de cultura. Líderes costumam evitar o 'eu' para reforçar pertencimento. Diante da equipe, dizem 'nossa empresa', 'nossos resultados', 'nossa meta'. A intenção é clara: lembrá-los de que todo mundo está no mesmo barco e que o sucesso nunca é obra de uma pessoa só. Como mostra um trecho relatado por John Rossman em seu livro Think Like Amazon, sobre lições de liderança, Steve Jobs ensinava algo que contrasta com essa regra. Em vez de focar só no 'nós', ele defendia uma lógica dura para quem assume cargos altos: quando você se torna responsável por um pedaço grande do negócio, as justificativas deixam de importar. A lição do lixo que não foi recolhido Jobs contava uma história simples a vice-presidentes recém-promovidos na Apple. Se o lixo do escritório não é recolhido, o CEO pode cobrar o zelador. O zelador tem uma explicação plausível: a fechadura foi trocada e ele não recebeu a chave. Em sua função, o motivo é aceitável. Ele depende de alguém para entrar na sala. Mas Jobs dizia que em algum ponto entre o zelador e o CEO, os motivos param de valer. Se você é VP, a responsabilidade pelo resultado final é sua. Não importa o que você alegue, porque a função exige que você antecipe dependências, cuide de ajustes e elimine brechas que possam virar desculpas. Essa visão é o que Rossman chama de 'assumir as dependências': aceitar responsabilidade total por tudo o que está sob sua alçada, inclusive por aquilo que depende de terceiros. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Dono das dependências não terceiriza o resultado Se um pedido não foi entregue porque o fornecedor atrasou a matéria-prima, o atraso pode até ser culpa do fornecedor. Ainda assim, a responsabilidade é sua. Como líder, você deveria ter garantido acordos claros, criado contingências e redundâncias, e planejado para o pior. Quem lidera não tem o luxo de depender do acaso. É um raciocínio exigente, mas coerente com a realidade de cargos de decisão. Em níveis altos, você não controla o mundo, mas controla o que faz com o mundo. O que é inevitável vira variável que você precisa administrar. O que parece externo vira parte do seu escopo. Isso não significa ignorar o papel do time. Ninguém constrói algo valioso sozinho. A diferença é que grandes líderes não se escondem atrás do coletivo quando algo dá errado. O princípio prático da responsabilidade final A maioria das pessoas interpreta sucesso e fracasso como fruto de forças externas. Quando dá certo, creditam a sorte, o contexto, o apoio dos outros. Quando dá errado, apontam quem não ajudou, quem atrasou, quem não colaborou. Até há verdade nisso. Mas líderes consistentes vivem por outra lógica: eles agem como se o resultado fosse totalmente controlável por eles. Isso muda o comportamento no dia a dia. Líderes assim definem expectativas claras, comunicam mais do que o necessário, acompanham, treinam, orientam, e constroem sistemas que aumentam a chance de vitória. Eles contam com os outros, mas não transferem a responsabilidade final. É aqui que a mensagem de Jobs fica cristalina: 'razões deixam de importar'. Se deu errado, a pergunta não é 'quem falhou?', mas 'onde eu não protegi o resultado?'. A regra de ouro para quem lidera Quando as coisas vão bem, mesmo que você tenha carregado a operação nas costas, diga 'nós' e 'nosso'. Isso reforça pertencimento, mérito coletivo e cultura de equipe. Quando as coisas vão mal, diga 'eu' e 'meu'. Não como forma de culpa teatral, mas como compromisso adulto com a realidade. Quem está no comando não coleciona álibis. Coleciona aprendizados. No fim, a liderança mais respeitada não é a que se apropria do brilho, mas a que assume o peso. Porque é assim que o time entende que o 'nós' é verdadeiro, e não só uma palavra bonita no palco.