Breeze Liu fundou a Alecto AI, uma startup que usa reconhecimento facial para ajudar vítimas a encontrar e remover imagens íntimas não autorizadas Aos 24 anos, Breeze Liu teve sua vida virada de cabeça para baixo ao descobrir que um vídeo íntimo seu havia sido publicado no PornHub sem seu consentimento. Gravado quando ela tinha apenas 17 anos, o conteúdo se espalhou rapidamente, sendo replicado em centenas de sites e até mesmo usado para criar deepfakes. A batalha para remover cerca de 400 imagens e vídeos não consensuais da internet se transformou em uma jornada de anos que envolveu polícia, ONGs e, principalmente, um impasse com grandes empresas de tecnologia, incluindo a Microsoft. A negligência das plataformas em remover conteúdo abusivo Enquanto algumas empresas agiram rapidamente para excluir as imagens, a Microsoft se mostrou um dos maiores desafios. Durante oito meses, Liu e sua equipe tentaram, sem sucesso, que a empresa removesse 142 imagens armazenadas em sua plataforma de nuvem, o Azure. Mesmo após apresentar documentos de identidade e provas, a Microsoft não respondeu a repetidas solicitações. A situação só começou a mudar quando Liu e sua parceira de negócios confrontaram um executivo da empresa pessoalmente em um evento de segurança digital. Apenas depois desse embate os conteúdos foram finalmente removidos. Em resposta, a Microsoft reconheceu falhas no processo e prometeu melhorias para evitar que casos como o de Liu se repitam. Porém, especialistas apontam que a falta de padronização e transparência nas políticas das empresas dificulta a remoção rápida de conteúdos abusivos. A luta pelo direito de remover imagens íntimas da internet Além de sua batalha pessoal, Liu decidiu transformar sua experiência em ação. Ela fundou a Alecto AI, uma startup que usa reconhecimento facial para ajudar vítimas a encontrar e remover imagens íntimas não autorizadas. Mesmo assim, Liu encontrou resistência no setor. Investidores minimizaram a importância do problema e chegaram até a rir quando ela apresentou sua proposta de negócio. “Alguns simplesmente não acreditam que há um mercado para isso”, lamentou. Em resposta à sua experiência, Liu tem trabalhado com legisladores dos Estados Unidos para criar leis que exijam a remoção de imagens íntimas não autorizadas em até 48 horas. O projeto quase chegou à mesa do então presidente Joe Biden em 2024, mas foi adiado. Agora, em 2025, o Senado aprovou a proposta, um avanço significativo na proteção das vítimas desse tipo de crime. O impacto e os desafios do combate ao abuso digital O caso de Liu expõe um problema global: o sistema de denúncia e remoção de conteúdos abusivos é falho e burocrático. Muitas vítimas desistem diante da falta de apoio e da inércia das plataformas digitais. Com o avanço da IA generativa e dos deepfakes, especialistas alertam que o abuso digital deve se tornar ainda mais difícil de conter, tornando fundamental que governos e empresas adotem regulamentações mais rígidas. Para Liu, a luta está longe de acabar. Mas, agora, ela tem um objetivo claro: garantir que nenhuma outra vítima passe pelo mesmo pesadelo que ela viveu.