Estresse moderado pode ser uma ferramenta para performar melhor — desde que interpretado como combustível e não como ameaça Chegar atrasado a um compromisso importante é uma experiência universal: o atraso do voo, o trânsito inesperado, o caminho errado, a sensação de que o tempo está escapando pelas mãos. Em momentos assim, o corpo reage como se estivesse diante de uma ameaça iminente. O coração dispara, a respiração encurta, a temperatura sobe. Tudo parece conspirar contra o desempenho — e, de fato, pesquisas mostram que estresse elevado prejudica a performance. Mas isso não significa que toda pressão seja ruim. Segundo estudos publicados em revistas como Journal of Experimental Psychology, a forma como interpretamos o estresse pode transformar nossa resposta fisiológica. O que parecia um gatilho de ansiedade pode se tornar um facilitador de foco, energia e coragem. Essa mudança começa não pelo corpo, mas pela mente. A curva que explica o impacto do estresse O princípio de Yerkes-Dodson mostra que existe um ponto ideal entre tensão e desempenho. Pouco estresse pode gerar apatia; estresse demais leva ao colapso. Mas existe uma zona intermediária em que o estresse funciona como combustível. O problema é que, quando sentimos pressão intensa, um mecanismo automático entra em cena: a vasoconstrição. Os vasos sanguíneos se estreitam, a circulação nas extremidades diminui e a sensação de mal-estar aumenta. Essa reação, natural em situações de risco, prejudica o desempenho em momentos que exigem clareza mental e autocontrole. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O poder da reinterpretação cognitiva Segundo o estudo publicado no Journal of Experimental Psychology, quando as pessoas interpretam os sinais corporais do estresse como algo positivo — um lembrete de que o corpo está se preparando para um desafio — elas não sofrem vasoconstrição. A pressão sanguínea permanece estável e o padrão fisiológico se aproxima do observado em momentos de coragem e entusiasmo. Essa conclusão ecoa ideias apresentadas pela pesquisadora Kelly McGonigal em seu TED Talk de 2013: o estresse não precisa ser inimigo. A maneira como pensamos sobre ele pode transformar a experiência emocional e a resposta física. Reenquadrar o estresse para performar melhor Em situações de pressão, a escolha não está em eliminar a ansiedade — algo impossível —, mas em reinterpretá-la. Ver o momento como oportunidade e não como ameaça altera a qualidade da energia disponível. Em vez de paralisar, fortalece. Uma forma prática de fazer isso é respirar fundo e enxergar o estresse como sinal de preparação. 'Meu corpo está se ajustando para me ajudar.' Esse pequeno diálogo interno muda a narrativa e, com ela, a fisiologia. Quando a pressão se torna privilégio Atletas, executivos e profissionais criativos costumam relatar que performam melhor sob certo nível de pressão. Para a tenista Billie Jean King, 'pressão é um privilégio; campeões se ajustam'. Essa perspectiva resume a lógica da reinterpretação: sentir pressão significa que algo importante está em jogo — e que você está no centro da ação. Ao encarar assim, a mente sai do modo ameaça e entra no modo desafio, liberando mais foco e capacidade de reação. Estresse útil é treino, não acaso Reenquadrar a ansiedade não funciona de imediato. É uma habilidade emocional que se desenvolve com repetição. Em um primeiro momento, você pode continuar acelerado, falar rápido demais ou sentir o corpo reagindo intensamente. Com prática, porém, o cérebro aprende que esses sinais não representam perigo — apenas ativação. Ao longo do tempo, essa mudança interna pode melhorar apresentações, conversas difíceis, entrevistas, negociações e qualquer situação de alta exigência. De adversário a aliado Por mais que o controle emocional nunca seja total, a reinterpretação cognitiva permite reduzir danos e ampliar o ganho potencial. Estresse moderado pode ser uma ferramenta para performar melhor — desde que interpretado como combustível e não como ameaça. No fim, a sensação de nervosismo não é sinal de despreparo. É sinal de oportunidade. Um lembrete de que algo importante está para acontecer. E, com o enquadramento certo, pode ser exatamente o que você precisa para entregar sua melhor versão.