Crise em torno do anúncio da empresa mostra como líderes devem estruturar processos de decisão quando o resultado é incerto Em abril, o CEO da Duolingo, Luis von Ahn, anunciou que a empresa seria 'AI-first'. O movimento ousado colocou a edtech no centro das discussões sobre o futuro do trabalho e do aprendizado. Mas o que chamou mais atenção foi a reação imediata: críticas nas redes sociais, usuários abandonando o aplicativo e especialistas apontando falhas na comunicação. A controvérsia, porém, revela um ponto central sobre liderança em tempos de incerteza: o processo de tomada de decisão é tão ou mais importante do que o resultado em si. Entre o processo e o resultado Pesquisas de Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, descrevem o chamado outcome bias — a tendência de julgar uma decisão pelo seu resultado, em vez de avaliar a lógica e o contexto que a originaram. Para líderes, especialmente em momentos de pressão, essa armadilha é perigosa. Ao assumir riscos estratégicos, CEOs e fundadores raramente contam com um 'manual de instruções'. A responsabilidade recai sobre sua capacidade de julgar antes do julgamento final: preparar-se para decidir de maneira íntegra, mesmo quando o futuro é incerto. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O framework 'Judgment Before the Judgment' Especialistas em governança e liderança defendem que líderes de alto nível criem espaços para refletir sobre três dimensões antes de decisões irreversíveis: Perspectivas: incluir vozes divergentes e evitar 'câmaras de eco'. Um estudo da McKinsey mostra que equipes com diversidade de visões reduzem erros estratégicos. Satya Nadella, da Microsoft, é exemplo ao convidar céticos para o debate quando decidiu apostar em nuvem. Pressão: distinguir prazos reais de pressões autoimpostas ou externas. Eric Yuan, CEO do Zoom, priorizou segurança em vez de velocidade de expansão durante a pandemia, ao identificar que a urgência verdadeira era de confiança. Integridade: alinhar decisões a valores organizacionais. O caso de Yvon Chouinard, fundador da Patagonia, que transferiu o controle da empresa para um fundo ambiental, mostra como escolhas alinhadas a propósito sustentam reputação e engajamento, mesmo quando envolvem sacrifícios financeiros. O que revela o caso Duolingo No episódio do Duolingo, faltou uma comunicação mais sensível às expectativas dos usuários, mas o movimento expôs o dilema enfrentado por qualquer líder: decidir sob pressão e incerteza. Segundo analistas, mais importante que o resultado imediato é ter clareza de que a decisão foi tomada de forma estruturada, transparente e defensável. Para líderes e empreendedores, a principal lição é clara: em algum momento, cada organização enfrentará seu 'momento Duolingo'. O desafio não será apenas fazer a escolha certa, mas ser capaz de sustentar o processo que levou até ela.