Especialistas apontam que o termo que vem ganhando espaço nas redes descreve, na prática, os mesmos sintomas da já conhecida síndrome de burnout Nos últimos meses, uma nova expressão entrou no vocabulário corporativo: quiet cracking. A consultoria TalentLMS define o fenômeno como 'um sentimento persistente de infelicidade no trabalho que leva à desmotivação, queda de desempenho e maior desejo de pedir demissão'. Segundo pesquisa da empresa, metade dos trabalhadores já apresenta sinais desse quadro. O termo descreve funcionários que continuam cumprindo suas tarefas, mas 'sofrem em silêncio enquanto trabalham', explica Frank Giampietro, diretor de bem-estar da EY Americas. Burnout com outro nome? Apesar da novidade da expressão, para alguns especialistas, trata-se apenas de um rebranding do burnout. O psicólogo e autor Adam Grant foi direto em um post no LinkedIn: 'Quiet cracking é apenas burnout com um nome novo e chamativo'. Ele ressalta que os sintomas — esgotamento emocional e distanciamento do trabalho — e as causas — sobrecarga, desvalorização e falta de respeito — são idênticos. Dados do Glassdoor indicam que as discussões sobre burnout entre funcionários cresceram de forma acentuada desde 2024, o que reforça a ideia de que o 'novo termo' pode ser apenas uma forma mais atual de falar do mesmo problema. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Por que criamos novas palavras? Grant aponta para um ponto interessante: mesmo que descrevam situações já conhecidas, novos termos podem ajudar as pessoas a identificar e nomear experiências difíceis. A psicóloga Lisa Feldman Barrett, da Northeastern University, já mostrou em suas pesquisas que quanto mais precisa é a linguagem para descrever emoções, maior é a nossa capacidade de compreendê-las e lidar com elas. Assim como 'sonder' — palavra criada pelo autor John Koenig para designar a percepção de que cada pessoa à nossa volta tem sua própria história —, quiet cracking pode ganhar força justamente porque traduz uma nuance emocional que ressoa com a experiência atual dos trabalhadores. O que líderes podem aprender com isso Do ponto de vista prático, quiet cracking não exige medidas diferentes das já aplicadas contra o burnout. Mas o termo revela uma dimensão simbólica importante: muitos funcionários sentem que precisam manter uma 'máscara de normalidade' enquanto enfrentam exaustão e descontentamento no dia a dia. Para líderes e gestores, isso é um alerta para redobrar a atenção a sinais sutis de queda de motivação, isolamento ou desgaste emocional nas equipes. Mais do que nunca, a criação de ambientes de trabalho transparentes, que valorizem escuta ativa, apoio e flexibilidade, pode ser a diferença entre perder talentos ou fortalecê-los.