Estudo propõe que mulheres e homens tendem a ter abordagens socioemocionais e cognitivas diferentes em relação ao risco Colocar mais mulheres em cargos de liderança não é apenas uma questão de justiça ou imagem. Segundo um estudo publicado na Journal of Operations Management, empresas com mais mulheres em seus conselhos de administração registram menos incidentes de segurança no trabalho — incluindo paralisações, acidentes e violações regulatórias. Os dados analisam a atuação de 266 empresas entre 2002 e 2011 e cruzam informações da OSHA (agência norte-americana de segurança ocupacional), registros corporativos e bancos de dados de infrações. A conclusão: a presença feminina no conselho está associada a ambientes de trabalho mais seguros — e mais eficientes. Não basta estar na sala — é preciso ter voz A pesquisa também identificou que o impacto é ainda mais significativo quando mulheres ocupam posições de poder real dentro do conselho, como assentos em comitês estratégicos. Segundo a coautora Corinne Post, da Villanova University, nesses casos, as ideias são mais ouvidas e consideradas, e não apenas representadas simbolicamente. É o poder deliberativo — e não apenas a presença estatística — que transforma a governança. Diversidade cognitiva: o diferencial oculto da segurança Mas por que conselhos com mulheres tomariam decisões mais seguras? O estudo propõe que mulheres e homens tendem a ter abordagens socioemocionais e cognitivas diferentes em relação ao risco, ao cuidado com stakeholders e à conformidade regulatória. Além disso, mulheres trazem experiências complementares, como atuação em áreas de filantropia, engajamento comunitário e gestão de impacto social — dimensões muitas vezes ausentes de conselhos tradicionalmente homogêneos. Não se trata apenas de diversidade de gênero, afirma Kaitlin Wowak, coautora e professora da Notre Dame. Quando você mistura experiências, formações e visões de mundo, surgem decisões mais abrangentes e eficazes. Custo da negligência: mais de US$ 1 bilhão por semana Nos EUA, empresas perdem mais de US$ 1 bilhão por semana devido a incidentes de segurança. Isso inclui danos à reputação, interrupções na produção, perdas financeiras — e, claro, risco real à vida dos trabalhadores. Diante desse cenário, a correlação entre conselhos mais diversos e ambientes mais seguros não é apenas interessante: é estratégica. Uma nova fase da discussão sobre diversidade Para Michael Abebe, professor da University of Texas, essa pesquisa marca uma virada: sai o foco exclusivo no teto de vidro e entra a ciência da performance pela diversidade. Em vez de apenas medir inclusão, os estudos atuais buscam comprovar como a pluralidade na liderança gera resultados objetivos — como inovação, rentabilidade e, agora, segurança. Como transformar o dado em ação O estudo sugere que empresas comprometidas com governança moderna devem:– Repensar seus processos de recrutamento para conselhos, saindo dos círculos convencionais.– Garantir que mulheres tenham espaço de fala real, com assentos em comitês decisivos.– Tratar diversidade como alavanca de competitividade, e não como obrigação reputacional. Ter mulheres no conselho não é só preencher uma cota, resume Post. É garantir que elas estejam em posição de transformar decisões. E, como mostra a pesquisa, isso pode significar um ambiente mais seguro — e um negócio mais saudável em todos os sentidos.