Quando a agenda está inflada, quase sempre há uma pergunta escondida: por que estamos falando tanto e decidindo tão pouco? O excesso de reuniões virou uma justificativa pronta para quase tudo: atraso, cansaço, falta de foco, queda de produtividade. Mas, na maioria das empresas, o problema não é a quantidade de encontros em si. É o que as reuniões revelam sobre um ponto mais sensível: a incapacidade de decidir com clareza. Quando a decisão não acontece, a conversa se repete. E, quando a conversa se repete, a agenda vira refém. Organizações com baixa higiene de decisão tendem a criar mais reuniões para reduzir incerteza, mas acabam ampliando o ruído e o retrabalho. O encontro vira um substituto de responsabilidade: fala-se mais para sentir controle, sem necessariamente produzir direção. Reunião vira anestesia para a ansiedade Reuniões excessivas costumam ser sintoma de um desconforto coletivo: o medo de errar sozinho. Quando a cultura pune falhas ou cobra perfeição, as pessoas buscam proteção social. Marcar reunião dá uma sensação de segurança, porque distribui o risco. Se a decisão sair ruim, 'foi do grupo'. Só que essa proteção tem custo alto: a autonomia evapora. Você já percebeu como algumas reuniões acontecem apenas para 'alinhar' algo que não está sendo decidido de fato? O time volta com mais dúvidas do que certezas, e na semana seguinte o assunto reaparece. Nessa dinâmica, o problema não é comunicação. É falta de fechamento. E falta de fechamento é falta de Liderança. O que uma reunião deveria entregar Uma reunião saudável tem resultado claro: decisão, plano ou desbloqueio. Se termina sem um desses três, ela foi conversa, não gestão. O ponto é que muitas empresas confundem troca de opinião com avanço. A equipe sai informada, mas não sai orientada. Há também a reunião que tenta resolver tudo ao mesmo tempo. Entra gente demais, com objetivos diferentes, e o encontro vira palco de atualização. No fim, ninguém se sente responsável por nada. Se todo mundo participa, mas ninguém assume, a reunião só aumenta a sensação de movimento. O custo invisível das conversas repetidas Quando reuniões se acumulam, não é só o tempo que vai embora. Vai também a energia mental. A equipe passa a operar fragmentada, com menos espaço para trabalho profundo. O cérebro entra em modo reativo, tentando sobreviver ao calendário, e a qualidade das decisões cai. O impacto cultural é ainda maior. Profissionais aprendem que pensar sozinho é arriscado e que a aprovação coletiva é obrigatória. Isso cria um time dependente, que consulta demais, pede validação demais e avança menos. Você quer uma equipe com iniciativa ou uma equipe que vive esperando mais uma call? Como a Liderança cria higiene de decisão A solução não é 'cortar reuniões' por decreto. É criar regras simples para decidir melhor. Começa por uma pergunta direta: esta reunião existe para decidir o quê? Se a resposta não for clara, ela não deveria acontecer ainda. Depois, definir dono e critério. Quem decide no fim? Que informação falta para decidir? Qual prazo limite? Sem isso, a conversa vira loop. Também ajuda separar reunião de atualização e reunião de decisão. Atualização pode ser registrada em texto curto e objetivo. Decisão exige debate estruturado. Por fim, revisar o que a empresa premia. Se a cultura valoriza quem 'participa de tudo', ninguém vai proteger foco. Se valoriza quem fecha ciclos, as reuniões passam a existir para produzir resultado, não para mostrar presença. No trabalho, reunião não é problema. Reunião é diagnóstico. Quando a agenda está inflada, quase sempre há uma pergunta escondida: por que estamos falando tanto e decidindo tão pouco? A empresa que responde isso com honestidade não ganha só tempo. Ganha clareza, autonomia e uma Liderança mais madura.