Equipes fortes não são as que têm pessoas perfeitas. São as que têm acordos claros e responsabilização consistente Toda equipe tem alguém que 'some' quando o assunto é responsabilidade. A pessoa participa de reuniões, opina, concorda, mas na hora de executar, desaparece. Entregas atrasam, acordos ficam frouxos e, quando algo dá errado, a culpa é sempre do contexto, de outra área, do prazo, do cliente, do sistema. Trabalhar com esse perfil não é só irritante. É corrosivo para a cultura, porque transforma colaboração em carregamento de peso. Ambientes com baixa clareza de responsabilidades e baixa responsabilização tendem a aumentar frustração, retrabalho e rotatividade, porque os profissionais mais responsáveis acabam compensando continuamente. A falta de autoria não é apenas um traço individual. Muitas vezes, é um comportamento incentivado por sistemas que não fecham decisões e não aplicam consequência. A falta de autoria contamina o time O efeito começa com o desequilíbrio. Quem assume mais passa a assumir sempre. Quem assume menos percebe que pode escapar. A equipe se adapta, e isso gera um padrão perigoso: a empresa passa a depender de poucas pessoas 'de confiança' para tudo o que importa. Com o tempo, os responsáveis ficam cansados e ressentidos. Os menos responsáveis ficam confortáveis. A confiança diminui, porque ninguém sabe quem realmente vai entregar. E quando a confiança cai, a comunicação piora: mais cobrança, mais controle, mais microgestão. O clima se deteriora. Por que algumas pessoas não assumem Nem sempre é má fé. Às vezes é insegurança, falta de clareza, medo de errar ou experiência prévia em culturas punitivas. Em outros casos, é estratégia: a pessoa aprendeu que assumir traz risco e que escapar traz proteção. Se a empresa pune quem erra e tolera quem se omite, o comportamento óbvio é se omitir. Também há o caso em que ninguém deixa a pessoa assumir. Ambientes com microgestão podem treinar o time a depender de aprovação. A pessoa aprende que, se decidir, será corrigida. Então ela espera. E a espera vira falta de autoria. O que resolve não é bronca, é sistema O primeiro ajuste é deixar responsabilidade explícita. Nome, prazo, critério. Reunião que termina sem dono termina com risco. Sem dono, ninguém assume. Com dono, o comportamento fica visível. O segundo ajuste é criar checkpoints curtos. Não para controlar, mas para evitar surpresa. Quem tem dificuldade de assumir precisa de acompanhamento estrutural: 'me traga um update até tal dia' e 'se houver risco, sinalize antes'. Isso treina responsabilidade sem virar caça. O terceiro ajuste é consequência justa. Se a pessoa não cumpre acordos repetidamente, isso precisa ter impacto real: redistribuição de trabalho, revisão de papel, feedback formal, ajuste de metas. Sem consequência, o time inteiro aprende que autoria é opcional. E isso é o começo da mediocridade. Como falar sem transformar em ataque A conversa mais eficaz foca em fato e impacto. 'Nas últimas entregas, os prazos não foram cumpridos e o time precisou compensar. O que está impedindo você de assumir e como vamos garantir que isso não se repita?' Essa pergunta abre espaço para diagnóstico e compromisso. Se a resposta for vaga, é sinal. Aí entra a necessidade de acordos específicos. 'Você será responsável por X, com prazo Y, e qualquer risco precisa ser sinalizado até Z.' Clareza reduz fuga. No fim, equipes fortes não são as que têm pessoas perfeitas. São as que têm acordos claros e responsabilização consistente. Trabalhar com gente que nunca assume nada é pesado porque cria injustiça e insegurança. E injustiça e insegurança quebram cultura. Quando a empresa fecha decisões, protege quem assume e aplica consequência para quem se omite, a autoria deixa de ser exceção e vira padrão.