Em um cenário de excesso de estímulos, o recurso mais escasso não é tempo, talento ou tecnologia. É atenção contínua A próxima grande reunião da sua agenda talvez não tenha mais ninguém além de você mesmo. Em um ambiente corporativo marcado por notificações constantes, reuniões em série e tarefas rasas, um número crescente de líderes de alta performance vem tratando blocos de foco como compromissos inegociáveis. Não como um luxo, mas como condição básica para produzir trabalho estratégico de verdade. Segundo relatos recentes de executivos do Vale do Silício, empresas como Google e Microsoft passaram a institucionalizar esse comportamento. Ferramentas como o Focus Time bloqueiam automaticamente horários na agenda para proteger períodos de concentração profunda. A lógica é simples: sem espaço para pensar, criar e decidir com clareza, o trabalho se reduz a apagar incêndios. De acordo com executivos ouvidos em reportagens sobre produtividade corporativa, o excesso de reuniões vinha comprometendo avanços reais. Paige Donahue, líder de marketing de produto no Google, relata que sua rotina era uma sequência contínua de chamadas e mensagens, sem tempo para executar projetos de alto impacto. Ao adotar blocos protegidos de foco, passou a perceber progresso concreto, menos dispersão e mais clareza sobre prioridades. Foco profundo virou requisito, não benefício O conceito de trabalho profundo não é novo, mas sua urgência aumentou. Em ambientes cada vez mais reativos, a capacidade de manter atenção contínua se tornou uma habilidade central de liderança. Não se trata apenas de preferência individual. Dados recentes mostram que essa demanda também vem das equipes. Segundo levantamento com trabalhadores do Reino Unido, quase metade afirma priorizar períodos sem distrações, e mais de um terço gostaria que as empresas formalizassem momentos de silêncio e foco coletivo. O recado é claro: proteger a atenção deixou de ser excentricidade e passou a ser expectativa cultural. O problema é que, sem intenção clara, a semana tende a ser consumida por tarefas que parecem urgentes, mas raramente impactam indicadores estratégicos. Solicitações de última hora, reuniões pouco objetivas e ciclos intermináveis de alinhamento tomam o espaço de decisões que realmente movem o negócio. Menos gestão do tempo, mais gestão da atenção Especialistas em comportamento organizacional defendem que o antigo modelo de gestão do tempo chegou ao limite. O desafio atual é outro: decidir onde colocar a atenção. A pergunta-chave deixa de ser 'como encaixar mais coisas' e passa a ser 'isso merece minha energia agora?'. Blocos de foco bem utilizados não servem apenas para executar tarefas pendentes. Eles criam espaço mental para pensar em iniciativas de maior alavancagem, muitas vezes ausentes da lista de afazeres justamente por exigirem reflexão profunda. São nesses períodos que surgem decisões estratégicas, melhorias estruturais e novas abordagens. Quando foco precisa de apoio externo Proteger tempo na agenda não garante, por si só, produtividade. Procrastinação e ansiedade sobre por onde começar continuam sendo obstáculos reais. Por isso, cresce o uso de coworking virtual e mecanismos leves de responsabilização. A lógica é simples: trabalhar em paralelo com outras pessoas, mesmo à distância, aumenta o compromisso e reduz a dispersão. Pesquisas recentes em neurociência indicam que pequenos feedbacks em tempo real ajudam a recuperar a atenção durante lapsos de foco. Em vez de longos períodos isolados, intervenções sutis podem ser mais eficazes para manter o engajamento cognitivo. Plataformas de coworking virtual vêm sendo adotadas inclusive por profissionais de grandes corporações, com taxas de uso mais altas do que a média. Para muitos líderes, esse modelo funciona como um sprint mental, combinando foco individual com sensação de pertencimento. Como tornar o foco parte da cultura Para que o foco profundo funcione, não basta força de vontade. É preciso comunicação e exemplo. Líderes que conseguem criar esse ambiente costumam adotar algumas práticas consistentes: • Tratar blocos de foco como reuniões sagradas • Avisar claramente quando estarão indisponíveis e quando retornam • Combinar foco com rituais de planejamento semanal • Modelar o comportamento para que a equipe se sinta autorizada a fazer o mesmo Em um cenário de excesso de estímulos, o recurso mais escasso não é tempo, talento ou tecnologia. É atenção contínua. Quem aprende a protegê-la não apenas trabalha melhor, mas constrói vantagem competitiva sustentável.