Incentivar líderes e equipes a cultivarem uma vida social ativa, longe das telas e das demandas corporativas, pode fazer diferença Liderar uma empresa muitas vezes é uma experiência solitária. O cargo exige certo distanciamento emocional, decisões impopulares e escolhas que afetam diretamente a vida das pessoas — muitas delas feitas sem a possibilidade de compartilhar dúvidas ou inseguranças. O problema é que essa solidão, quando se intensifica, não afeta apenas o líder. Ela pode comprometer o desempenho de toda a organização. Um novo estudo conduzido por psicólogos e pesquisadores em gestão analisou a solidão no ambiente de trabalho e identificou por que gestores tendem a ser especialmente vulneráveis a esse sentimento. À medida que sobem na hierarquia, aumentam o status e a responsabilidade, mas também cresce a distância em relação a subordinados e pares. Criar conexões exige vulnerabilidade, algo que frequentemente entra em conflito com o papel gerencial, que demanda confidencialidade, postura firme e controle emocional. Segundo os pesquisadores, em dias em que líderes se sentem mais solitários, eles tendem a se engajar menos tanto nas próprias tarefas quanto nas interações com o time. O efeito não termina no expediente. Ao chegar em casa, esses gestores também se afastam mais das pessoas ao redor, criando um ciclo de isolamento que se retroalimenta e se estende para o dia seguinte. Esse padrão ajuda a explicar por que a solidão na liderança pode se tornar persistente. O impacto organizacional é relevante. Gestores solitários podem evitar conversas abertas, compartilhar menos informações, reduzir feedbacks e parecer emocionalmente distantes. Quando equipes percebem esse comportamento, o reflexo aparece na queda de moral, no enfraquecimento da dinâmica colaborativa e, em alguns casos, na redução do desempenho. Em ambientes que dependem de comunicação ágil e relações de confiança, esse efeito se torna ainda mais evidente. Os autores do estudo definem a chamada 'solidão transitória' como uma barreira invisível, porém significativa, para uma liderança eficaz. Ela isola o gestor e o empurra para comportamentos que aprofundam ainda mais o afastamento. A boa notícia é que há fatores capazes de mitigar esse impacto. Um dos principais é o fortalecimento de uma identidade fora do trabalho. Manter vínculos ativos com família, amigos e grupos sociais presenciais ajuda a quebrar o ciclo da solidão. Mesmo que o líder se sinta isolado no ambiente profissional, conexões genuínas fora dele funcionam como um reset emocional, permitindo que ele retorne ao trabalho no dia seguinte com mais equilíbrio e energia. O desafio é que o trabalho moderno raramente fica restrito ao horário comercial. Smartphones, e-mails e aplicativos corporativos alimentam o que já foi chamado de 'jornada infinita de trabalho', na qual conversas profissionais invadem o tempo pessoal. Isso reduz a capacidade das atividades fora do trabalho de cumprir seu papel restaurador, dificultando ainda mais a recuperação emocional dos líderes. A solidão no trabalho, portanto, não é apenas um tema individual, mas um risco organizacional. Algumas tendências recentes indicam que o problema pode se aprofundar, como a preferência de parte dos profissionais por interagir com inteligências artificiais em vez de colegas humanos. Enfrentar essa questão de forma aberta — inclusive sob a ótica da saúde mental — é um passo importante. Incentivar líderes e equipes a cultivarem uma vida social ativa, longe das telas e das demandas corporativas, pode fazer diferença. Não por acaso, há sinais de que os próprios trabalhadores têm buscado mais eventos presenciais, como confraternizações e encontros informais. Em um ambiente de trabalho cada vez mais digital, reconectar pessoas fora das interfaces pode ser uma das formas mais eficazes de combater a solidão — especialmente entre quem lidera.