É essencial que empresas adotem práticas inclusivas de forma independente, sem depender exclusivamente de regulações governamentais A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho continua sendo um desafio nos Estados Unidos, apesar dos avanços conquistados com a Lei dos Americanos com Deficiências (ADA, na sigla em inglês). No entanto, políticas recentes da administração Trump têm gerado preocupações sobre a continuidade dessas proteções, levantando questões sobre a visão do governo em relação à participação das pessoas com deficiência no ambiente profissional. Retrocesso nas políticas de inclusão Nos primeiros dias de seu novo mandato, o presidente Donald Trump assinou ordens executivas que revogam esforços de diversidade, equidade e inclusão em setores públicos e privados. As medidas afetam comunidades LGBTQ+, pessoas negras e latinas e, especialmente, trabalhadores com deficiência, restringindo o acesso a oportunidades e reduzindo proteções contra discriminação. O impacto dessas ações pode ser significativo. Estudos apontam que pessoas com deficiência representam cerca de 30% da população americana, com uma ampla diversidade de condições que incluem desde limitações motoras até doenças crônicas. Mesmo com essa representatividade, apenas 38% das pessoas com deficiência em idade ativa estão empregadas, em contraste com 75% dos trabalhadores sem deficiência, de acordo com dados do Departamento do Trabalho de 2024. A justificativa do governo para essas mudanças reflete preconceitos históricos sobre a capacidade das pessoas com deficiência, sugerindo, por exemplo, que contratar esses trabalhadores pode comprometer a eficiência de órgãos públicos. Essa visão ignora décadas de pesquisas que comprovam os benefícios da inclusão para empresas e para a economia como um todo. A persistência de estereótipos prejudiciais A exclusão de pessoas com deficiência do mercado de trabalho está enraizada em mitos e estigmas sobre sua produtividade. Há uma falsa percepção de que sua inclusão exige custos elevados com adaptações ou que resulta na redução de padrões de desempenho. No entanto, um estudo de 2023 do Job Accommodation Network revelou que quase 60% das adaptações necessárias no ambiente de trabalho não geram custos adicionais. Além disso, incentivos fiscais estão disponíveis para empresas que investem em acessibilidade. Outro fator é a herança do movimento eugenista, que por décadas justificou a segregação e a esterilização forçada de pessoas com deficiência nos EUA. Embora leis como a ADA tenham sido fundamentais para combater essas práticas, os resquícios desse pensamento ainda afetam decisões políticas e corporativas. O impacto é ainda maior para pessoas negras e latinas com deficiência, que enfrentam barreiras adicionais, como maior taxa de expulsão escolar, discriminação no sistema judicial e menos oportunidades de ascensão profissional. Benefícios da inclusão para empresas e sociedade Diversos estudos mostram que ambientes de trabalho que investem na diversidade e acessibilidade colhem benefícios em produtividade, inovação e clima organizacional. Pesquisas do Harvard Business Review indicam que empresas com políticas de inclusão: Atraem e retêm talentos qualificados: Trabalhadores com deficiência contribuem com habilidades valiosas, incluindo resiliência e capacidade de adaptação. Fortalecem a reputação corporativa: Consumidores e investidores preferem marcas associadas a práticas inclusivas e responsabilidade social. Criam ambientes mais colaborativos: A presença de funcionários com deficiência impulsiona a criatividade e o trabalho em equipe. Além disso, tecnologias desenvolvidas inicialmente para pessoas com deficiência beneficiam toda a população. Exemplos incluem: Legendas em vídeos: Criadas para pessoas surdas, hoje são amplamente utilizadas por quem deseja assistir conteúdos sem som. Trabalho remoto: Essencial para trabalhadores com doenças crônicas, mas que também melhora a produtividade de profissionais em diversas situações. Softwares de leitura de tela: Desenvolvidos para cegos, agora são populares em assistentes de voz e dispositivos móveis. O futuro da inclusão no ambiente de trabalho O desafio agora é garantir que os avanços conquistados não sejam revertidos por políticas que excluem pessoas com deficiência do mercado de trabalho. Para isso, é essencial que empresas adotem práticas inclusivas de forma independente, sem depender exclusivamente de regulações governamentais. Garantir que todas as pessoas, independentemente de sua condição, tenham oportunidade de contribuir e prosperar não é apenas uma questão de justiça social—é um investimento na eficiência e na inovação das organizações e da economia como um todo.